domingo, janeiro 20, 2013

Os Afro-Sambas - Vinícius de Moraes e Baden Powell, ou: Arte, beleza e pureza

Michel 20. Dia 20.

Sou fã de Vinícius de Moraes desde a adolescência, quando tentava descobrir poemas para impressionar as meninas.

Mas poucas meninas gostam de poesia, e muito menos de Vinícius.

Aí, eu cresci, e minha paixão pela música também o fez. E eu mergulhei fundo na odisseia obsessiva de conhecer do mundo tudo o de bom - musicalmente falando - que ele me pudesse oferecer.

E gostar de boa música envolve, diretamente, gostar de Vinícius. Musicalidade crua, visceral, certeira: te bate com a violência da verdade e do sentimento que apenas um homem vivido pode falar/cantar.

E aí temos os Afro-Sambas (1966).

Há muito tempo atrás, mais ou menos quando conheci minha esposa - entre 2005 e 2006, portanto -, antes dessa modinha do politicamente correto, eu escutei uma música que me deixou encantado e completamente tomado: O Canto de Ossanha. Música cheia de suingue, de pegada, de romance, de enganação, de amor doído e perdido e da malemolente mística que cerca a mulher. Música cheia de ferro, sangue e enxofre, como diria meu amigo Alex Martins.

"Uma música linda/maravilhosa como essa não pode ser única", pensei, e corri feito louco até encontrar de onde ela havia saído. E o que achei me deixou muito encantado.

Músicas de uma riqueza técnica, de um apuro estético, de uma intencionalidade tão sincera... uma homenagem a tudo o que é negro, africano, bahiano, carioca... Vinícius com uma voz gutural e rouca - embora ainda suave -, e Baden Powell no supremo domínio de seu violão... a percussão forte e onipresente, os vocais femininos... é como se você estivesse em contato direto com a terra, com a noite, com uma mística natural cheia de força violenta e selvagem e amorosa e extremamente sensual...

À parte religiões e religiosidades - não quero perder tempo com isso. Quero é me perder nas músicas, ter a sensação de um beijo ou de um abraço naquela morena, sentir-me tomado por uma tempestade de pele e cheiro e cabelos de mulher... e por quê não, render homenagens a forças muito mais velhas e poderosas que este simples ego que vos fala.

Um álbum completo, redondo, bonito. Um álbum triste, noturno, úmido e orgânico. Um álbum para quem sabe - e gosta de - sofrer de/por amor. Cutucar o machucado da saudade só para sentir as lembranças turvarem de vermelho a água límpida do presente satisfeito.































Atenção às faixas: "Tristeza e Solidão" (vídeo 1), "Canto de Ossanha" (vídeo 2), "Canto de Iemanjá", e "Lamento de Exú".



Se você tem algum preconceito, livre-se dele urgentemente e escute essa belezura com a mente e a alma abertas. Uma pérola da MPB, pegue-a e segure-a e encante-se.

Classificação:






Aqui falou o Ladrão de Almas, direto deste tempo quente, úmido e confuso do Ceará, onde se faz 27ºC com a sensação térmica de 52ºC.

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