Dia 13 - Felipe P. 13
Stranger
Than Fiction – 2006
DIR:
Marc Foster
Elenco: Will
Ferrell, Maggie Gyllenhaal, Dustin Hoffman, Emma Thompson e Queen Latifah.
“Harold Crick era um homem de números infinitos e cálculos
sem fim... “
Harold é um cara metódico. Vive numa rotina sem fim.
Todos os dias ele acorda numa hora exata, escova cada dente o mesmo número de
vezes, leva a mesma quantidade de minutos no banho e se atrasa para pegar o
ônibus para o trabalho na receita federal.
Ele conta até mesmo os passos de casa até o ponto de
ônibus mais próximo. Sua vida muda quando ele percebe que uma voz que só ele
ouve está narrando passo a passo cada minuto da sua vida, chegando até mesmo a
dizer o que ainda não aconteceu. Ele a princípio acha estar enlouquecendo e
aquela voz que só ele escuta, narrando e prevendo cada movimento seu realmente
o está deixando louco. Harold procura ajuda primeiro com um colega de trabalho
e, quando este não resolve, decide ir em busca de ajuda profissional: uma
psiquiatra. É quando ele percebe que, talvez, sua vida não seja tão sua quanto
ele pensa e que, talvez, uma força superior a esteja regendo... Uma escritora.
Uma escritora chamada Karen Eiffel (Emma Thompson) que
está passando por um bloqueio criativo e, a única coisa que a impede de
concluir seu livro de quase dez anos de produção é uma dúvida: como ela vai matar seu personagem principal, Harold
Crick.
Crick, compulsivo, perfeccionista e, por vezes, neurótico,
tem sua vida virada do avesso ao ouvir da voz que narra a sua vida que seu
destino é uma morte iminente. Ele surta, fica fora de si. Vai até seu
apartamento e destrói tudo, grita para cima no meio da rua, pragueja,
esperneia... Por fim, percebendo que sua vida nada mais é que um potencial best
seller, decide buscar um tipo de ajuda mais específico: um professor de
literatura e autor de livros, Jules Hilbert (Dustin Hoffman) que aceita ajuda-lo.
Mas sem saber exatamente que tipo de ajuda fornecer, decide descobrir que
gênero de livro é a vida de Crick e, por eliminação, que autor o está
escrevendo.
O pior, durante esse tempo, tudo o que a autora faz é dar
a Crick mais motivos para se apegar à vida. Um deles é a doceira Ana, que se
recusa a pagar impostos que julga desnecessários, vivida por Maggie Gyllenhaal
(que costuma ser uma excelente atriz e aqui não desaponta). A relação dos dois
se desenvolve de uma maneira totalmente irregular e, como em muitos livros
escritos por autores com bloqueios, acaba em romance. Mas quando ela entra em
sua vida, Crick toma uma decisão: seu destino só pertence a ele mesmo.
Mais Estranho Que a Ficção é um filme maluco. Uma
daquelas ideias que surgem de brainstorms vindas sabe-se lá de onde que fazem
sua cabeça explodir e precisam ser colocadas em prática antes que seja tarde
demais. É uma ideia genial.
É um filme que pode facilmente figurar ao lado de obras
como Quero Ser John Malkovich e Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças. É
daquele mesmo nível e segue até a fórmula criada pelo segundo citado: o ator de
comédias num personagem dramático que destoa do resto de sua carreira: Will
Farrell, o protagonista. É estranho de ver o ator fazendo um personagem tão
diferente do seu habitual (que habitualmente me faz abandonar o filme), contido
e não-engraçadaço/forçado, apenas um personagem carismático, alguém por quem
você até se apega. Diferente de tudo o que ele já havia feito (e faz até hoje)
na carreira.
Cheio de metalinguagens inteligentes, chega até a usar
elementos de narrativa literária para fazer a trama funcionar. É quase um
inception. Elementos como um garoto que ganha uma bicicleta do pai, que
aparentemente não tem relação nenhuma com o resto da história e, mais tarde,
funciona como um deus-ex que ficaria totalmente ridículo se o filme não possuísse
plena consciência da própria existência. Se não viesse sendo desenvolvido e
detalhado de uma forma minimalista e discreta desde o início da trama.
Outro elemento de narrativa é o personagem de Hoffman,
que funciona como alguém que explica a trama para o personagem principal (o herói)
e dá as instruções para que ele possa mudar o rumo da sua tragédia a fim de
transformá-la numa comédia (as tragédias acabam em morte e as comédias em
casamento). Até mesmo Queen Latifah tem uma função no filme, olha que coisa absurda!
E se a sua vida estivesse sendo escrita por algo maior
que você, algo que estivesse realmente disposto a te fazer sofrer e acabar com
a sua vida pelo simples prazer de vender livros?
Existem certos tipos de filme que acabam e nos deixam
incapazes de levantar e mudar de canal, enquanto os créditos finais acabam e
toca uma música bonita, nós ficamos sentados olhando para o chão da sala
repensando toda a nossa vida... O que normalmente não dura quinze minutos.
Esse é um deles.
~
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Obrigado por comentar no 01Pd! Seja bem vindo e volte sempre!