domingo, janeiro 13, 2013

Mais Estranho que a Ficção

Dia 13 - Felipe P. 13
Stranger Than Fiction – 2006
DIR: Marc Foster
Elenco: Will Ferrell, Maggie Gyllenhaal, Dustin Hoffman, Emma Thompson e Queen Latifah.

“Harold Crick era um homem de números infinitos e cálculos sem fim... “
Harold é um cara metódico. Vive numa rotina sem fim. Todos os dias ele acorda numa hora exata, escova cada dente o mesmo número de vezes, leva a mesma quantidade de minutos no banho e se atrasa para pegar o ônibus para o trabalho na receita federal.
Ele conta até mesmo os passos de casa até o ponto de ônibus mais próximo. Sua vida muda quando ele percebe que uma voz que só ele ouve está narrando passo a passo cada minuto da sua vida, chegando até mesmo a dizer o que ainda não aconteceu. Ele a princípio acha estar enlouquecendo e aquela voz que só ele escuta, narrando e prevendo cada movimento seu realmente o está deixando louco. Harold procura ajuda primeiro com um colega de trabalho e, quando este não resolve, decide ir em busca de ajuda profissional: uma psiquiatra. É quando ele percebe que, talvez, sua vida não seja tão sua quanto ele pensa e que, talvez, uma força superior a esteja regendo... Uma escritora.
Uma escritora chamada Karen Eiffel (Emma Thompson) que está passando por um bloqueio criativo e, a única coisa que a impede de concluir seu livro de quase dez anos de produção é uma dúvida: como ela vai matar seu personagem principal, Harold Crick.
Crick, compulsivo, perfeccionista e, por vezes, neurótico, tem sua vida virada do avesso ao ouvir da voz que narra a sua vida que seu destino é uma morte iminente. Ele surta, fica fora de si. Vai até seu apartamento e destrói tudo, grita para cima no meio da rua, pragueja, esperneia... Por fim, percebendo que sua vida nada mais é que um potencial best seller, decide buscar um tipo de ajuda mais específico: um professor de literatura e autor de livros, Jules Hilbert (Dustin Hoffman) que aceita ajuda-lo. Mas sem saber exatamente que tipo de ajuda fornecer, decide descobrir que gênero de livro é a vida de Crick e, por eliminação, que autor o está escrevendo.
O pior, durante esse tempo, tudo o que a autora faz é dar a Crick mais motivos para se apegar à vida. Um deles é a doceira Ana, que se recusa a pagar impostos que julga desnecessários, vivida por Maggie Gyllenhaal (que costuma ser uma excelente atriz e aqui não desaponta). A relação dos dois se desenvolve de uma maneira totalmente irregular e, como em muitos livros escritos por autores com bloqueios, acaba em romance. Mas quando ela entra em sua vida, Crick toma uma decisão: seu destino só pertence a ele mesmo.
Mais Estranho Que a Ficção é um filme maluco. Uma daquelas ideias que surgem de brainstorms vindas sabe-se lá de onde que fazem sua cabeça explodir e precisam ser colocadas em prática antes que seja tarde demais. É uma ideia genial.
É um filme que pode facilmente figurar ao lado de obras como Quero Ser John Malkovich e Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças. É daquele mesmo nível e segue até a fórmula criada pelo segundo citado: o ator de comédias num personagem dramático que destoa do resto de sua carreira: Will Farrell, o protagonista. É estranho de ver o ator fazendo um personagem tão diferente do seu habitual (que habitualmente me faz abandonar o filme), contido e não-engraçadaço/forçado, apenas um personagem carismático, alguém por quem você até se apega. Diferente de tudo o que ele já havia feito (e faz até hoje) na carreira.
Cheio de metalinguagens inteligentes, chega até a usar elementos de narrativa literária para fazer a trama funcionar. É quase um inception. Elementos como um garoto que ganha uma bicicleta do pai, que aparentemente não tem relação nenhuma com o resto da história e, mais tarde, funciona como um deus-ex que ficaria totalmente ridículo se o filme não possuísse plena consciência da própria existência. Se não viesse sendo desenvolvido e detalhado de uma forma minimalista e discreta desde o início da trama.
Outro elemento de narrativa é o personagem de Hoffman, que funciona como alguém que explica a trama para o personagem principal (o herói) e dá as instruções para que ele possa mudar o rumo da sua tragédia a fim de transformá-la numa comédia (as tragédias acabam em morte e as comédias em casamento). Até mesmo Queen Latifah tem uma função no filme, olha que coisa absurda!
E se a sua vida estivesse sendo escrita por algo maior que você, algo que estivesse realmente disposto a te fazer sofrer e acabar com a sua vida pelo simples prazer de vender livros?
Existem certos tipos de filme que acabam e nos deixam incapazes de levantar e mudar de canal, enquanto os créditos finais acabam e toca uma música bonita, nós ficamos sentados olhando para o chão da sala repensando toda a nossa vida... O que normalmente não dura quinze minutos.
Esse é um deles.
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