Dia 28 - Felipe P. 28
Hanna - 2011
Dir: Joe Wright
Elenco: Eric Bana, Cate Blanchett e Saoirse Ronan.
Joe Wright pode ser considerado um diretor de filmes de
arte como Orgulho e Preconceito, Desejo e Reparação e, mais recentemente, Anna
Karenina compõem sua carreira. Filmes de visual rebuscado, ritmo desacelerado,
com uma musicalidade clássica, normalmente impecavelmente fotografados. Ele
conquistou um público cativo com trabalhos do tipo, então é difícil imaginar
por que ele se aventuraria no ramo da ação.
Simples: ele consegue lidar com isso.
Não sou um grande fã do trabalho do sujeito, tenho que
dizer que nunca me interessei por adaptações de Jane Austen, por puro
preconceito. E Orgulho. E com Hanna (2011) não foi muito diferente, e confesso
que eu nem sabia que Wright conduzia. Aparentemente o sujeito tem o dom de me
manter distante de sua obra até quando não sei que a obra é dele.
Talvez a razão pela qual Wright tenha se interessado por
um roteiro tão comum quanto o do que conta a história sobre uma assassina mirim
seja o fato de ele poder acrescentar, com sua falta de experiência e sua
direção intimista e autoral (apesar de sua filmografia ser quase totalmente
adaptada de livros). O resultado final é...
Peculiar.
Hanna (Saoirse Ronan) mora com o pai no meio de uma
floresta num daqueles lugares nevados que ninguém lembra o nome. O pai, Erik
(Eric Bana) a treina para caçar animais grandes e a prepara para algo que estar
por vir, mas nada é esclarecido. Hanna é habilidosa e aparentemente calma, mas
demonstra ser incomum. Ela luta e mata com uma frieza assustadora. O tempo passa
e a garota insiste com o pai, afirmando estar pronta para o que quer que seja,
até que ele finalmente cede. Um dia ele mostra a ela um dispositivo com um
botão e diz: se você apertar, eles virão atrás de você e só pararão quando te
matarem. Ela aperta.
Depois disso Erik some, vai embora, deixa a garota
sozinha no meio do nada e não tarda até ela se ver cercada e capturada por soldados
e levada para uma base secreta, onde é vigiada de todas as direções e mantida
presa.
O filme opta por manter o espectador em dúvida, sem saber
exatamente o que está havendo durante um bom tempo, dando apenas pistas,
fotografias, flashbacks e deixando que a trama se monte por si só na cabeça de
quem acompanha. Ao mesmo tempo em que extremamente comum em sua história, o
visual é estranho, a fotografia extremamente nítida faz uso de filtros e cores
incomuns, chegando a afastar quem está acostumado a outro tipo de tom. O ritmo é
diferente do que estamos acostumados no cinema habitual, em momentos
frenéticos, em outros calmo e contemplativo, explode em violência dando um ar
de agressividade incontrolável à sua protagonista.
Aqui os plano-sequências que Wright tanto preza se
mostram realmente interessantes, em violentas cenas de luta. Apesar da garota se
sair bem, nos momentos finais, quem mostra que domina as coreografias é Bana.
Personagens incomuns permeiam a trama, a própria
protagonista, extremamente pálida, movimenta-se de forma estranha, desconfiada.
Erik, mesmo tendo o rosto conhecido de Eric Bana, esconde tantos segredos que
se torna curioso, todas as vezes que aparece em cena revela um pouco de si e,
portanto, do mistério que ronda Hanna. Os vilões são anormais, um deles tem um
teatro e sua esposa/amante, segundo ele possui os dois sexos, enquanto ele é
trejeitado e afetado, passa o filme inteiro assobiando a mesma canção e
demonstra uma frieza e crueldade assustadoras. A vilã principal, interpretada
por Cate Blanchett é dona de uma elegância assassina e um tanto caricata e
quase nunca revela seu verdadeiro objetivo ou o por que de se interessar tanto
na morte de Hanna e do pai.
Até os personagens menores são peculiares, até os
figurantes, que parecem fazer parte do cenário e da trilha sonora.
Por falar em trilha sonora, esta é composta por ninguém
menos que o duo britânico de música eletrônica The Chemical Brothers. Os dois,
por muitas vezes, assumem o filme, guiando-o pela música, não há som, apenas o
deles. O ranger de portas, o quebrar de vidros, o som dos tiros, tudo é
substituído pela música eletrônica da dupla. E o resultado é inventivo e cheio
de potencial.
O filme se torna arrastado em alguns momentos, além de
óbvio, deixa alguns furos simplesmente por deixar, por desleixo ou
desinteresse, tudo para focar na jornada da garota. Se desfaz de personagens
com um certo desprezo e, alguns, simplesmente abandona.
Não que comprometa, afinal tudo aqui se constrói e se destrói
com o objetivo de levar ao ato final, um tanto decepcionante. Mas você leva engole, visto que o conjunto da
obra é tão diferente e...
Anormal...
~
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