quarta-feira, janeiro 02, 2013

Grace, a Obra Prima de Jeff Buckley

Dia 02. Michel 02.

Quem nunca ouviu Jeff Buckley jamais deve dizer que gosta de música, ou que conhece Rock N' Roll.

Um dos talentos mais cultuados e inspiradores, guitarrista excelente e dono de uma voz poderosa, que poderia tanto ser suave quanto agressiva, Buckley expressava em suas músicas um sofrimento existencial e uma alegria de viver que geram um paradoxo infinito, e isso tanto pode estraçalhar quanto resgatar um coração que o escuta.

Grace, o álbum de qual vos falo hoje, foi o único álbum de estúdio deste que morreu tão cedo. E a importância deste disco é tremenda para a vida deste apaixonado fã aqui.

A primeira faixa é Mojo Pin, baseada num sonho tido por Jeff. É uma música exótica e sensual, com uma pegada mais... digamos... sanguínea e metálica, carnal e voluptuosa. E de fato, a música e o sonho são sobre uma mulher.

A faixa que dá nome ao disco - Grace - é um rock melódico, com uma musicalidade mais agressiva e sombria, onde a voz de Buckley se mostra extremamente singular.

Last Goodbye, a terceira, é uma balada muito gostosa e triste, que fala de despedidas. Novamente Jeff se aproveita de seus talentos vocais e instrumentais. Sua guitarra aqui aparece de maneira simples e marcante, sem efeito algum. É uma das músicas mais conhecidas.

Lilac Wine é um hino ao amor. Composta por James Shelton nos anos 1950, foi gravada por vários cantores. Mas, para mim, as mais belas versões são da linda Nina Simone e a de Buckley neste disco. É possível perceber todo o sentimento de Jeff nesta faixa, e a perfeita execução da música nos dá uma sensação de plenitude muito rara de se encontrar.

So Real e Eternal Life são os dois momentos mais hard do disco. bateria, baixo e guitarra aqui se apresentam com seriedade e estilo inigualáveis, secundando a poderosa voz de Buckley de maneira extraordinariamente sóbria e ébria. Viagens.

Hallelujah. Música de autoria do sombrio e triste - mas jamais ruim - Leonard Cohen, tem em Buckley o seu intérprete definitivo. Buckley consegue impor à esta faixa um nível quase espiritual de qualidade. pode-se sentir um contato quase imediato com os sentimentos do cantor quando se escuta Hallelujah. Reserve-a para momentos e pessoas especiais e marcantes de sua vida, e você não se decepcionará.

A suprema balada, uma das músicas mais belas que já foram gravadas, Lover, You Should've Come Over se apresenta ao ouvinte como um lamento apaixonado e uma rendição dificilmente vistas em qualquer outro cantor. Se um dia alguém quiser falar de amor, que seja como Vinícius, Pessoa ou Buckley aqui. Escutem-na em manhãs chuvosas, ou naqueles dias em que se lembram de um grande amor do passado. Isso não é saudável, mas é como aquele dente dolorido que você insiste em cutucar com a língua. Repito: isso não é saudável. Mas se fosse, não teria valido a pena amar e deixar e lembrar.

Corpus Christi Carol é a belíssima e suave interpretação de Buckley de um hino inglês medieval. Poderosa em sua essência, essa faixa é curta e simples, novamente evidenciando a versatilidade vocal do artista em questão.

Finalizando o álbum temos Dream Brother, onde Buckley mistura influências orientais e oníricas numa faixa Rock com especiarias. É uma de minhas preferidas, com letra e melodia de difícil acesso àqueles não-iniciados nos mistérios do Rock, da Vida e da Morte. Aconselho escutá-la numa manhã nublada e ventosa de domingo, com um bom vinho.


Grace é perfeito. Um disco coeso e poderoso de um artista jovem e paradoxal, tão rico quanto um grão de areia ou uma supernova. Jeff Buckley com certeza veio a este planeta para nos ensinar a ver o Rock com olhos breves e transitórios, e nos ensinar que, a qualquer momento, a correnteza do rio pode nos levar e nunca mais nos devolver.


Profundamente tocado pela beleza árida e agridoce desta bela peça de arte, despeço-me de vocês, amantes da boa cultura.

Abraços,
O Ladrão de Almas, Michel Euclides

Em mais um post para o 01PD.

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