Dia 02. Michel 02.
Quem nunca ouviu Jeff Buckley jamais deve dizer que gosta de música, ou que conhece Rock N' Roll.
Um dos talentos mais cultuados e inspiradores, guitarrista excelente e dono de uma voz poderosa, que poderia tanto ser suave quanto agressiva, Buckley expressava em suas músicas um sofrimento existencial e uma alegria de viver que geram um paradoxo infinito, e isso tanto pode estraçalhar quanto resgatar um coração que o escuta.
Grace, o álbum de qual vos falo hoje, foi o único álbum de estúdio deste que morreu tão cedo. E a importância deste disco é tremenda para a vida deste apaixonado fã aqui.
A primeira faixa é Mojo Pin, baseada num sonho tido por Jeff. É uma música exótica e sensual, com uma pegada mais... digamos... sanguínea e metálica, carnal e voluptuosa. E de fato, a música e o sonho são sobre uma mulher.
A faixa que dá nome ao disco - Grace - é um rock melódico, com uma musicalidade mais agressiva e sombria, onde a voz de Buckley se mostra extremamente singular.
Last Goodbye, a terceira, é uma balada muito gostosa e triste, que fala de despedidas. Novamente Jeff se aproveita de seus talentos vocais e instrumentais. Sua guitarra aqui aparece de maneira simples e marcante, sem efeito algum. É uma das músicas mais conhecidas.
Lilac Wine é um hino ao amor. Composta por James Shelton nos anos 1950, foi gravada por vários cantores. Mas, para mim, as mais belas versões são da linda Nina Simone e a de Buckley neste disco. É possível perceber todo o sentimento de Jeff nesta faixa, e a perfeita execução da música nos dá uma sensação de plenitude muito rara de se encontrar.
So Real e Eternal Life são os dois momentos mais hard do disco. bateria, baixo e guitarra aqui se apresentam com seriedade e estilo inigualáveis, secundando a poderosa voz de Buckley de maneira extraordinariamente sóbria e ébria. Viagens.
Hallelujah. Música de autoria do sombrio e triste - mas jamais ruim - Leonard Cohen, tem em Buckley o seu intérprete definitivo. Buckley consegue impor à esta faixa um nível quase espiritual de qualidade. pode-se sentir um contato quase imediato com os sentimentos do cantor quando se escuta Hallelujah. Reserve-a para momentos e pessoas especiais e marcantes de sua vida, e você não se decepcionará.
A suprema balada, uma das músicas mais belas que já foram gravadas, Lover, You Should've Come Over se apresenta ao ouvinte como um lamento apaixonado e uma rendição dificilmente vistas em qualquer outro cantor. Se um dia alguém quiser falar de amor, que seja como Vinícius, Pessoa ou Buckley aqui. Escutem-na em manhãs chuvosas, ou naqueles dias em que se lembram de um grande amor do passado. Isso não é saudável, mas é como aquele dente dolorido que você insiste em cutucar com a língua. Repito: isso não é saudável. Mas se fosse, não teria valido a pena amar e deixar e lembrar.
Corpus Christi Carol é a belíssima e suave interpretação de Buckley de um hino inglês medieval. Poderosa em sua essência, essa faixa é curta e simples, novamente evidenciando a versatilidade vocal do artista em questão.
Finalizando o álbum temos Dream Brother, onde Buckley mistura influências orientais e oníricas numa faixa Rock com especiarias. É uma de minhas preferidas, com letra e melodia de difícil acesso àqueles não-iniciados nos mistérios do Rock, da Vida e da Morte. Aconselho escutá-la numa manhã nublada e ventosa de domingo, com um bom vinho.
Grace é perfeito. Um disco coeso e poderoso de um artista jovem e paradoxal, tão rico quanto um grão de areia ou uma supernova. Jeff Buckley com certeza veio a este planeta para nos ensinar a ver o Rock com olhos breves e transitórios, e nos ensinar que, a qualquer momento, a correnteza do rio pode nos levar e nunca mais nos devolver.
Abraços,
O Ladrão de Almas, Michel Euclides
Em mais um post para o 01PD.
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