terça-feira, janeiro 01, 2013

A VIAGEM

DIA 01 - Felipe P. 01
CLOUD ATLAS – 2012
DIR: Tom Tykwer, Andy Wachowski e Lana Wachowski
Elenco: Tom Hanks, Hugo Weaving, Halle Berry, Tom Hanks, Jim Broadbent, Jim Sturgess, Doona Bae, Ben Wishaw, Hugo Weaving.

O filme de estreia do segmento de cinema foi eleito em dezembro pela revista Time como “O Pior Filme de 2012”, uma responsabilidade e tanto, não? Estamos falando de Cloud Atlas, o ambicioso projeto dos irmãos Wachowski, criadores e algozes da Trilogia Matrix, em parceria com Tom Tykwer, diretor de Corra Lola Corra e O Perfume.
No final, eu só podia pensar em duas coisas:
Um, eu teria muito trabalho para escrever esse texto, e dois, a revista Times deve ter a mesma credibilidade que a Veja.
O filme conta seis histórias, cada uma em uma época diferente e com um gênero diferente e, em cada uma delas, os protagonistas das outras histórias fazem participações como outros personagens de importância maior ou menor à trama. Tom Hanks, por exemplo, faz seis personagens, um deles sendo inclusive o narrador da história que inicia e fecha o filme.
Halle Berry e Hugo Weaving também atuam como seis personagens diferentes, Jim Sturgess atua como sete, entre outros atores, cada um com mais de um personagem. Até alguns figurantes fazem isso.  Um ponto importante para que a experiência não se torne cansativa, é a maquiagem. O cuidado que se tem com a maquiagem e com tudo o que ela acarreta (continuidade, plasticidade, etc) é notável. Alguns atores estão simplesmente irreconhecíveis e, caso você não seja um primor de fisionomista, as coisas só ficam mais surpreendentes.
Tom Hanks aparece logo no começo, cego de um olho e com uns oitenta anos de idade, Jim Sturgess aparece com uma maquiagem oriental (que fica estranha no começo, mas depois você compra a ideia), atores mudam de nacionalidade e etnia...
O filme é tecnicamente impecável, fotografia, a trilha sonora constante, as boas atuações, a direção competente, visual...
Mas e quanto à história, a trama?
O que posso dizer sobre a trama? O princípio se assemelha muito com a ideia de Fonte da Vida: uma trama maior interligando todas as menores, que acontecem em passados, presentes e futuros distópicos ou apocalípticos, futuros que se confundem com o passado, passado que se confunde com atualidade, com o objetivo de contar uma história de amor (por que não?) indiferente de gênero cinematográfico. Certo que é algo mais complexo que isso, eu poderia dizer que é algo mais próximo de Touch, uma série de TV da FOX com uma temática semelhante, porém menos “viagem”. A teoria é a de que o que nós fazemos agora ecoa para muito além de nossas vidas e de nossas épocas, interfere direta ou indiretamente na vida de outras pessoas no futuro ou até mesmo no passado. Isso tudo inserindo referências filosóficas, das mais variadas (em certo momento, flertando novamente com o mito da caverna, chegando ao ponto de tomar o próprio Matrix como referência). A forma escolhida para apresentar isso foi dividir o filme em seis segmentos diferentes, com personagens e épocas e gêneros distintos, se encaixando num todo com o objetivo de mostrar como tudo se encaixa e como cada grão de poeira no universo faz diferença dadas suas proporções.É quase um oposto a Árvore Da Vida, que por vezes mostra o contrário: a insignificância de um elemento isolado.
Talvez seja um filme otimista demais, dependendo do seu ponto de vista, talvez a falta de linearidade tenha pesado na escolha de pior do ano para a TIMES, talvez, talvez, talvez! O fato é que Cloud Atlas não é algo a ser ignorado, é algo a ser estudado. Não como Matrix, ou como o próprio Corra Lola Corra, que é objeto de estudo em cursos de cinema no mundo todo. Ironicamente, a ambição é maior e a repercussão menor. Algo que só serve para comprovar o próprio argumento.
No fim das contas é um filme complexo e como o camarada Assis Oliveira classificou no facebook, muito inspirador. Um ótimo começo de ano e de jornada.
Por hoje fico por aqui, amanhã estamos de volta, aguardem e torçam;)
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4 comentários:

  1. Comecei a assistir em casa, mas problemas com legendas ruins me fizeram deixar pra depois. Mas fiquei fisgado pela trama!
    Valeu por confirmar que o filme mantém a qualidade.

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  2. O que eu poderia comentar: perfeito. Pra min consegues captar a essência da obra para além do filme. E a minha surpresa a novidade da escolha de pior filme de 2012 da Revista Time. Felizmente nunca fui fã dessa revista e fostes feliz na comparação com a revista Veja. Ambos editores na mesma base de cimento atirados no fundo do rio, seria algo de bom para humanidade. Minha vingança.

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  3. Como um produto hollywoodiano como “Cloud Atlas” (A Viagem) consegue simultaneamente explorar simbologias de mistérios antigos (órficos, pagãos e gnósticos) e, ao mesmo tempo, adequar-se às convenções do gênero blockbuster? Como conciliar em uma mesma narrativa o niilismo do eterno-retorno com a concepção de que a existência é dotada de um propósito que nos levaria a um final apoteótico? Como lidar com o desejo de liberdade e transcendência do espectador dentro de um produto mercadológico da indústria de entretenimento? Os irmãos Wachowski e Tykwer encontraram a resposta na ideia de que tudo é “humano, demasiado humano”: o Universo seria uma perfeita sinfonia. O que atrapalha é a humanidade. "Cloud Atlas" faria nas entrelinhas o julgamento religioso das ações humanas.

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  4. “O que tentamos foi fazer uma história sobre uma reviravolta, a mesma reviravolta experimentada pelo personagem Neo que sai deste mundo oprimido e programado para participar na construção do sentido da sua vida. E nós pensamos assim: poderemos levar ao público algo similar a experiência do personagem principal nos três filmes?”, afirmou Lana Wachowski referindo-se a uma comparação entre o atual “Cloud Atlas” e a trilogia “Matrix” (Veja “Cloud Atlas Entrevista” In: Scifiworld).

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