quarta-feira, janeiro 09, 2013

A Invenção de Hugo Cabret


Dia 09 - Felipe P. 09
Hugo - 2011
DIR: Martin Scorcese
ELENCO: Ben Kingley, Asa Butterfield, Sacha Bron Cohen, Chloë Grace Moretz, Christopher Lee.

A Invenção de Hugo Cabret, baseado no livro homônimo do escritor Brian Selznick, conta a história de Hugo Cabret (JURA?!?!?!) um garoto órfão que mora numa estação de trem em Paris. O pai de Hugo, brevemente interpretado por Jude Law, era um relojoeiro e curador de museu que morreu em um incêndio deixando Hugo sob tutela de um tio alcoólatra e, deixando de herança ao garoto, um “autômato”. Após a morte do pai, Hugo concentra seus esforços em tentar consertar o tal autômato, um robô com feições humanas que se funcionasse, teria a capacidade de escrever. Para consertar o robô, Hugo passa a roubar peças de brinquedos da loja de um velho ranzinza, interpretado por Ben Kingsley. Quando o velho o pega em flagrante e toma o caderno de anotações de seu pai, contendo os esquemas do autômato, Hugo passa a persegui-lo para tentar reaver o bloco de notas.
Após o sumiço do tio alcoólatra, Hugo precisou se virar para viver e, para isso, passou a ocupar seu tempo calibrando os relógios da estação Gare du Nord e de pequenos furtos. Por conta dos furtos, Hugo passa a ser perseguido pelo inspetor da estação, interpretado por Sacha Baron Cohen. E fugindo do inspetor, ele conhece Isabelle... E Isabelle se revela ninguém menos que a neta do velho da loja. Do homem que roubou seu caderno.
É uma sucessão de acontecimentos que parece não ter um fio condutor, aparentemente apenas um bocado de coisas acontecendo ao mesmo tempo, sem pistas sobre o rumo que a história vai tomar. É como uma extrapolação do que foi feito em Ilha do Medo, deixando o espectador cheio de perguntas e sem nenhuma resposta. Até que o inusitado acontece: na metade do filme, todas as perguntas são respondidas, todos os mistérios (ou ao menos os relevantes) são solucionados. Todos mesmo, sem truques, sem letras miúdas: TUDO se resolve. É como num truque de mágica, você fica esperando pela virada, fica esperando pelo grande truque.
Não é disso que o filme se trata, ele não tem intenção alguma em enganar o espectador, não tem intenção alguma em mostrar reviravoltas gratuitas. O objetivo aqui é outro, muito mais nobre: prestar uma homenagem.
O jogo se inverte e toma uma direção inesperada quando Hugo e Isabelle conhecem, em uma biblioteca, Rene Tabard, um estudioso da sétima arte, autor de livros sobre cinema e um apaixonado por um artista em específico: um ilusionista que havia morrido na guerra e, durante os anos que a precederam, investiu seu dinheiro e seu esforço em uma coisa: inventar o cinema como o conhecemos. O avô de Isabelle: Georges Méliès.
Georges Méliès foi ninguém menos que o homem que criou o conceito de cinema. Os Irmãos Lumière mostraram ao mundo o que se podia fazer com uma câmera e um projetor, Méliès foi quem pegou a ideia e a elevou a outro nível. Antes dele as pessoas se contentavam com filmagens de trens chegando a estações e achavam aquilo assombroso, achavam que o trem sairia da tela e as mataria. Depois dele o homem passou a pensar sobre caminhar na lua.
Uma de suas obras mais famosas, dentre os mais de 500 filmes que ele dirigiu, produziu e protagonizou, é a Viagem à Lua, você provavelmente já tenha visto pelo menos uma imagem sobre isso, sabe do que eu estou falando.
Depois da revelação de Tabard, Hugo e Isabelle investem seus esforços em tentar trazer o então morto em batalha Méliès de volta à ativa, tentar fazer o público reconhecer a grandiosidade daquele homem. Tentar fazê-lo reconhecer a própria grandiosidade.
Infelizmente quase todos os trabalhos de Méliès se perderam com o tempo, incêndios, degradação, alguns foram usados para fazer munição na guerra, alguns estavam hospedados no Megauload... Poucos podem ser vistos hoje em dia, o mais fácil de encontrar é Viagem à Lua.
Outra coisa que vale ser mencionada é a estação de trem em si, onde mais da metade da história se passa.
A estação é mais que um cenário, é um pequeno universo, cheia de personagens bem definidos, cada um deles com potencial para uma história própria.
A Gare du Nord é mais um elemento real que se mistura com ficção na história, assim como o próprio Méliès.
Hugo é o Bastardos Inglórios de Scorcese: ele pega fatos históricos, os mescla à sua trama e os usa para dar dramaticidade e criar algo tão surreal que simplesmente não dá pra saber o que esperar, não podendo se limitar a fidelidade histórica.
Algo a se considerar é como tudo foi feito sob medida, como tudo é cuidadosamente esculpido para se transformar em algo belo e grandioso. Independente de ser baseado ou não em fatos, de distorcer ou não a história para dar dramaticidade, indiferente de ter sido baseado em um livro que já havia contado bem antes essa história, não se pode tirar o mérito de Scorcese sobre o quanto o filme acaba se transformando em algo inesperado sem ser forçadamente surpreendente. Como se fecha num universo próprio com a intenção de assumir-se como algo diferente do comum. Hugo não é um filme habitual, não vá com a expectativa de o habitual. É algo diferente, com um ritmo diferente, com um clima diferente, com um visual tão bonito quanto funcional à trama, ao objetivo final.
Por falar em visual, uma coisa que vale ser mencionada é a caracterização de Kingsley. Em certos momentos é simplesmente impossível diferenciá-lo do homem que originou seu personagem. É algo como o que aconteceu com o Nikola tesla do David Bowie em O Grande Truque, quando falarem de Méliès, eu vou lembrar do rosto do Ben Kingsley.
É uma homenagem à arte, algo feito para nos lembrar de que alguém importante, em algum lugar do passado fez algo pequeno que se tornou com o passar dos anos algo tão significativo para a humanidade.
É algo que faria Méliès orgulhar-se.
E, seguindo a nova tradição de classificação fase beta criada pelo meu irmão, que tem umas ideias geniais: 5 Luas!


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