sábado, junho 29, 2013

O Homem de Aço

Dia 176. Felipe Pereira 170

Man of Steel - 2013
Dir: Zack Snyder
Elenco: Henry Cavill, Amy Adams, Michael Shannon

Primeiro de tudo, cheguemos a um acordo, certo? Supere Superman – O Filme de 1978, deixe partir. Let Go, desapegue, desimpregne. Isso foi há mais de 30 anos, ok, o filme é fantástico, é um clássico, é uma das melhores adaptações de heróis já feitas para a tela, mas você precisa superar. Você já viu Super 8? No final quando o garoto tem de superar a perda da mãe e soltar o colar? É mais ou menos isso que eu quero que você faça, solte o colar, deixe ele se tornar parte da nave do alienígena! Isso te fará mais forte, isso fará de você um ser humano melhor, uma pessoa melhor. Não quero que você deixe de gostar do filme de 78, nem que você esqueça dele, quero que você aceite o fato de que aquele tempo se foi, aquela obra passou e que há coisa nova no pedaço, coisa nova que pede que a sua cabeça esteja limpa de conceitos predefinidos, que você vá para o cinema (apesar de que você só irá daqui a 12 dias, HAHAHHAHAHAHA) preparado para ver o homem voar pela primeira vez.

Sinceramente? Nem sei por onde começar. Posso dizer que saí do cinema à meia noite de hoje em estado de choque, posso dizer que chorei durante a primeira metade inteira e suei feito um porco durante a segunda. Posso dizer que, durante a projeção, sequer pensei em fazer comparação ao clássico de 78... Posso dizer que Henry Cavill fez Brandon Routh se enfiar num buraco em posição fetal, chupando o dedão do pé...

Man of Steel, dirigido por Zack Snyder (300, Watchmen) reconta a origem do maior super herói de todos os tempos, o escoteiro, o azulão, o último filho de Krypton: Superman. Desde os últimos dias de seu planeta natal até o dramático desfecho da maior batalha que a Terra já viu (até então).
Na trama o Planeta Krypton está destinado à destruição iminente, políticos negam o fato enquanto o cientista Jor-El (Russell Crowe) insiste em afirmar que o planeta enfrentará o pior dos destinos e que ele pode fazer algo a respeito. Enquanto isso uma célula extremista liderada pelo General Zod (Michael Shannon) deseja adquirir um artefato milenar sagrado que seria capaz de recriar Krypton tendo como base um planeta com ambiente e atmosfera semelhante. Jor-El se coloca no caminho de Zod, visto que, se concretizado, seu plano levaria ao fim qualquer forma de vida existente no planeta escolhido. Ao mesmo tempo em que tenta impedir Zod de fazer o impensável, Jor-El tem seu próprio plano para preservar a herança kryptoniana: mandar a um planeta distante seu único filho recém-nascido para que ele sobreviva à destruição do planeta e, de certa forma, dissemine a cultura e o conhecimento daquela civilização. E é quando Jor-El mostra o quão poderoso ele é. O sujeito humilha Zod (o que só deixa o cara ainda mais puto), dá uma surra nele a qual ele nunca iria esquecer. Se Jor-El houvesse vindo para a Terra ao invés de Kal, ele teria dado cabo do General em dois tempos.
E assim, em meio à rebelião e destruição, nasce Kal-El, filho de Jor-El e Lara Lor-Van, desde o nascimento destinado a grandes feitos. O bebê é enviado para a Terra, encontrado por um casal de fazendeiros, Johnatan (Kevin Kostner) e Martha Kent (Diane Lane), que o adota e o cria. Pra finalizar, não há muito mais o que contar: o bebê cresce e vira o Superman.

A história é clássica e amplamente difundida, todo mundo sabe como começa e o que acontece, mas é aí que Man of Steel encontra seu trunfo: todos sabem o que acontece, mas quase ninguém sabe como acontece, o que dá uma liberdade imensa para se contar uma história.
Tanto que o primeiro terço do filme foca quase que completamente nisso: em contar essa história. Nesse ponto conhecemos Krypoton como nunca antes, seu ecossistema alienígena, sua tecnologia que mescla maquinário e organismo, um pouco da sua política, a ambientação futurista... Esse primeiro ato foca nos esforços de Jor-El para salvar a vida do filho e tirá-lo daquele planeta condenado enquanto Zod tenta impedir que isso aconteça.
E acontece uma coisa muito bacana quando a nave do garoto chega na Terra: corta direto para a vida adulta dele, sem mais enrolação, sem muito mais Smallville, todos os momentos em que se faz menção à infância e adolescência de Kal-El, agora Clark Kent, se dão por meio de flashbacks, toda a ação que ocorre nesse momento é entrecortada, são várias cenas não lineares mostrando pontos específicos da vida de Clark Kent, um sujeito com um poder inimaginável que simplesmente não sabe o que fazer com eles, então sai pelo mundo fazendo de tudo, quase um Forrest Gump super poderoso. Ou um Bruce Wayne.
Nesse ponto vemos vários momentos da jornada de Clark ao redor dos EUA, tentando descobrir o que fazer com os poderes que tem, logo de cara vemos o sujeito num navio pesqueiro em alto mar, depois em um bar servindo bebida, e assim por diante, dando uma ideia ele estava, com seus dons, mais perdido que cego em tiroteio. Assim como nos momentos em que se mostra a infância dele, descobrindo suas capacidades, como na cena da sala de aula, quando CK tinha por volta de nove, dez anos, na qual o garoto se dá conta de sua audição apurada e sua visão de raio x e entra em desespero por não conseguir controla-las. Ou quando, na adolescência, salva os passageiros do ônibus escolar após um acidente e a mãe de um colega acredita que ele é uma criatura divina.

Esse ponto serve para aprofundar na relação de CK com os pais adotivos, na criação que o definiu e o moldou. Algo que fica extremamente claro aqui é o fato de que ele com certeza seria uma pessoa totalmente diferente (um vilão talvez) não fosse o cuidado dos pais. E quando Clark descobre a verdade sobre sua origem, seus pais biológicos e sobre o por que de ele ter sido enviado à Terra.
E, por fim, o terceiro ato, quando Zod e sua patota encontram o kryptoniano e vem à Terra para captura-lo “pacificamente”, mas acabam cometendo uma sucessão de errinhos bobos (como capturar a garota do sujeito e quase matar a mãe dele) que acabam por enfurecer o cara de um jeito que só vendo.
A origem alienígena do Superman e o fato de ele ser a criatura mais poderosa na Terra são fatos conhecidos por todos, mas que foram perdendo significado com o passar do tempo, foram perdendo importância com a rotatividade de autores que trabalharam o azulão, seja no cinema, na TV ou nas HQs. O conceito comum é o de que ele é um herói, que ele voa e que ele combate ao crime, de que ele vive para proteger a humanidade, mas raramente é mencionado o impacto que isso causa na vida e na cabeça de um sujeito à prova de balas.
O que acontece aqui é que se dá uma breve pincelada no deslocamento causado pelo fator alienígena em Clark, principalmente em sua juventude. Sua incapacidade de se relacionar com outras pessoas, seu isolamento (o meio mais fácil de esconder seu segredo), o medo que ele sente de perder o controle e ferir alguém... E isso é explorado de forma breve porém profunda e permeia a trama inteira sem ficar cansativo ou repetitivo, lembrando ao expectador que, apesar de parecer humano, agir como humano e até sentir-se humano, aquele cara não é humano, é algo mais que isso, ainda que, em certos momentos, ele seja humano demais.
E isso é mostrado ainda mais fortemente quando ele se revela, já como Superman, à humanidade, a forma como as pessoas reagem, a forma como o governo e o exército reagem à “ameaça alienígena” que ele não deixa de ser, ao mesmo tempo em que Zod está fazendo ameaças e espalhando o pânico em todos os idiomas da Terra.


O inevitável embate entre Zod e Kal-El toma o terceiro e último ato por inteiro. É quando O Superman entra em ação e Clark Kent, o humano, é deixado de lado por uma razão maior, deixando seu lado alienígena e, principalmente, seu lado herói tomarem conta da situação.
A batalha entre Kal-El e o General Zod é intensa e dramática, além de extensa, toma cerca de 30 ou quarenta minutos de filme e, nesse ponto, joga de lado toda a questão existencial e filosófica que vinha sendo desenhada. O que vem a seguir é pura e simples pancadaria irrefreável, uma sequência de destruição pornográfica, um prejuízo incalculável, a quase total destruição da cidade de Metropolis, tanto por parte do General Zod quanto por parte do próprio Superman ao tentar pará-lo.


O que acontece quando Zod e Kal entarm em confronto é algo semelhante ao que acontece quando deuses se chocam, quando gigantes se estranham, é algo que está acima do controle humano, é o tipo de evento no qual nem o exército nem o governo nem mesmo Deus pode interferir, apenas observar e rezar para que aquilo acabe de uma vez por todas.

É meio difícil de mensurar o nível de destruição causado, mas se somassem o prejuízo causado em Vingadores, os três Transformers e o final da saga do Majin boo, com a destruição total do planeta, ainda assim não seria tão grande quanto a destruição causada aqui.

E não é algo irresponsável da parte do herói, é tudo justificável. Zod chega tocando terror, chutando a porta e dando tapa na cara, o que o Super faz é responder à altura. É preciso levar em consideração ainda que o cara nunca havia levado seus poderes tão além como levou, nunca havia precisado usá-los nessas proporções, nunca havia precisado usá-los para combater nem mesmo criminosos. Até Zod chegar Clark era apenas um fazendeiro à prova de balas, foi o vilão que despertou nele o lado herói, deu a ele um propósito, deu a ele uma utilidade.

O que se pode falar do elenco de Man of Steel? Uma série de escolhas acertadas, cada papel, por menor que seja, é executado pelo melhor ator possível para preenche-lo. Desde o Jor-El de Russell Crowe, ao Jonathan Kent de Kevin Costner, cada ator teve um desempenho exato. Mas, o mais importante: o Clark/Superman de Henry Cavill é sensacional. O ator é o Superman que nossos tempos precisam. Quando coloca o uniforme o sujeito adquire um ar de superioridade quase divino, mas sem se tornar arrogante. O Superman de Cavil é monstruoso e truculento, mas sem perder a fragilidade, e isso é fantástico.
Zod então, nem se fala. A motivação do vilão é tão crível quanto a do herói, ambos só querem proteger seu lar, sua raça, seu povo, cada um a seu modo. Michael Shannon dá ao vilão uma credibilidade assustadora, uma personalidade convincente. Você se pega perguntando o que faria no lugar dele.
Sinceramente? Eu faria o mesmo (com a diferença de que eu, obviamente, triunfaria :).
E, não menos importante, a Lois lane de Amy Adams foge do estereótipo de mocinha indefesa e tem um papel mais importante que o de simples par romântico do herói.

Outro ponto importante para a trama é a trinca Zack Snyder, Christopher ‘todopoderoso’ Nolan e David S. Goyer. Snyder fez um sacrifício inimaginável para dirigir ‘MoS’: o cara sacrificou seu estilo de direção, abriu mão de sua identidade visual, de sua característica mais marcante para dar à luz a obra.
Nolan e Goyer, que escreveram o roteiro, fizeram o habitual: foram fantásticos.
Além de que Hans Zimmer entrega mais uma daquelas trilhas sonoras poderosas que só ele sabe compor.
O Homem de Aço é dramático, tenso, divertido e pornográfico em sua destruição, tem toda a carga emocional necessária para cativar o espectador e toda a ação que faltou ao seu antecessor. Um trabalho fantástico de todas partes envolvidas mas, ainda assim um filme de origem. Um filme de origem que inclusive segue uma fórmula muito parecida à de Batman Begins, quase que padronizado dentro daquele molde, até mesmo os flashbacks.

Agora espere mais doze dias e vá ver no cinema, não baixe da internet, faça esse favor a si mesmo: veja na telona. O 3D não é necessário, apesar de dar um visual muito bonito ao filme, casando coma a fotografia excepcional de Amir Mokri, ele não acrescenta em nada.

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