domingo, setembro 21, 2014

Godzilla

Godzilla - 2014
Dir: Gareth Edwards
Elenco: Aaron Taylor-Johnson, Elizabeth Olsen, Bryan Cranston

Este texto contém SPOILERS! Muitos deles!!! Se você não viu o filme, siga adiante por conta própria. Encorajando os aventureiros, adianto que o filme é ruim e que o texto tá engraçado :D

Godzilla. O monstro gigante que todos amam sem saber exatamente o motivo. O Chaves japonês, como diz o meu irmão, aquela coisa que todos amam, menos você. Sim, você! Não que eu odeie o Godzilla (ou o Chaves (na verdade, eu acho que odeio o Chaves, sim...)), apenas não morro de amores pela criatura surgida das profundezas do mar do Japão. Tanto (não odeio) que, quando foi anunciado o novo reboot, admito que fiquei empolgado. Empolgação essa que foi embora no exato momento em que o diretor Gareth Edwards foi anunciado no comando da produção. Apartir daquele momento, eu já sabia: Godzilla seria uma bomba.

Preconceito que foi mudando conforme o material de divulgação ia sendo liberado. A cada poster e trailer que saía, ia crescendo a esperança de que, indiferente do fato de eu não morrer de amores pelo monstro gigante da terra do Naruto, aquele seria um bom filme.
Eis que, no fim das contas, eu estava certo: Godzilla realmente foi uma merda.

Na trama acompanhamos o momento em que duas monstruosas criaturas começam a atacar o planeta. Logo em seguida, uma terceira criatura, o Kaiju Rei, como as pessoas tem se referido ao bicho, desperta de seu longo sono para tomar satisfação. Nesse meio tempo temos uma família feliz, um garotinho que perdeu a mãe, um pai que não supera a perda da esposa, um soldado voltando pra casa, um pai problemático que ainda não superou a perda e o Ken Watanabe encarando o horizonte com seu olhar tenso e suas frases de efeito. Tudo isso quando nós queríamos apenas ver monstros gigantes caindo na porrada. Se Edwards tivesse como objetivo abordar a parte mais relevante da mitologia do Godzilla, isso seria interessante. Se o objetivo fosse o de alertar o mundo sobre os riscos do uso da energia nuclear ou fazer algum tipo de alegoria a esse respeito, isso seria interessante. Mas não é. O objetivo dele era fazer um filme onde monstros gigantes caem na porrada, mas como isso não dava 15 minutos de cena, ele decidiu preencher os outros 145 minutos com drama raso e cenas de ação com militares.

Quer dizer, afirmar que foi uma merda pode ser algo extremo demais. Digamos que ele não conseguiu cumprir nem minhas baixas expectativas. Há uma vertente na internet (e na vida também) que prega o caminho do meio. Eles dizem que o mundo caminha em direção a uma polarização completa. As pessoas não enxergam mais o caminho do meio, elas acreditam que só existe o "FODA" e o "MERDA", não existe mais o "bonzinho" ou o "mais ou menos". Se eu acreditasse nessa baboseira, eu diria que Godzilla é um filme bonzinho, mas eu não acredito... Eu acredito no satisfatório e no não satisfatório. E levo isso para o lado pessoal: Isso me satisfez. Isso não me satisfez. Ou não me satisfez por completo. Não há bom e ruim, há gosto pessoal. E gosto pessoal é polarizado.

Ok, ele tem seus pontos positivos: os últimos 3 minutos de batalha são espetaculares e quase compensam toda a baboseira e o drama forçado que se passou. E a patética cena final, redimindo tudo o que se passou e deixando um desnecessário gancho para continuação.
Edwards acerta em cheio em algumas coisas, como o visual. Tanto do Godzila (pelo que deu para ver nos 15 minutos de cena nos quais o bicho aparece (sério, são 15 minutos mesmo, eu não tô fazendo gracinha)), quanto das outras criaturas, no visual do longa em si, a fotografia e os efeitos visuais. E erra em tantas outras coisas cruciais! Como o roteiro preguiçoso, o elenco mais preguiçoso ainda (a única atuação minimamente convincente aqui é a de Elizabeth Olsen e, ainda assim, a personagem é inútil...), e, entre outras coisas, a localização também preguiçosa... Afinal, de que vale fazer um remake americano de um filme japonês se o remake, na maior parte do tempo, também vai se passar no japão?

Edwards também erra em sacrificar personagens com que o público poderia se importar, dando espaço a personagens com quem o público costuma se importar menos: os soldados. Em todos os filmes de monstro (frisando bem quando falo sobre cinema, não quando falo da vida, prestem bem atenção a isso), sejam eles alienígenas, criaturas pandimensionais, seres das profundezas ou robôs esquizofrênicos gigantes, todo mundo sabe que o exército está ali para bucha de canhão. A dolorosa e insensível verdade é que eles estão lá para morrer, assim acontece aqui também. Eles estão lá porque a única e mais preciosa esperança da Terra, o exército americano, precisa falhar e se sacrificar heroicamente antes que os super heróis apareçam para salvar o dia ou, assim como em Cloverfield, o exército simplesmente falhe e todo mundo se ferre por isso. Então, sendo assim, o que leva um diretor a pensar que, em um filme de monstro, o público iria sentir empatia por um soldado se ele fosse o protagonista?

Ford Brody, vivido por um Aaron Johnson ~minimalista~ não é só um soldado. Ele é também um filho, um marido e um pai. Eu me importaria verdadeiramente com qualquer uma dessas pessoas (o filho, o marido, ou o pai) se estes fossem o protagonista. Mas eles não são. Ao invés disso, temos Ford. E Ford larga a família no meio do apocalipse e se junta ao exército. E a importância que o personagem dá à família é exatamente a mesma que o diretor dá: nenhuma!
A esposa de Ford, vivida por Elizabeth Olsen, tem a única função de esperar o marido voltar para casa. Inclusive, ela também abandona o filho, colocando-o "em segurança" dentro de um ônibus escolar e mandando-o para um lugar que nem mesmo ela sabe qual é.
A família de Brody poderia ser totalmente removida da história, sendo substituída pela fotografia que o soldado guarda consigo, sem grandes prejuízos.

Talvez o soldado até tenha feito uma boa escolha em se manter longe da mulher e do filho, visto que ele é um grande imã da desgraça.
Imagina Cloverfield: o monstro gigante que ataca e destrói Nova York. Apenas Nova York. Junto com ele, há uma série de criaturas menores que se espalham por toda a cidade, tocando o terror. Há um grupo de pessoas tentando sobreviver, vamos focar nessas pessoas. Elas fazem de tudo para sair do caminho da criatura, sendo que vemos tudo acontecer em primeira pessoa, o que justifica o fato de o monstro quase não aparecer. Apesar disso há as outras criaturas. Aquelas pessoas sofrem um bocado por causa dessas coisinhas menores e por causa da destruição causada pelo monstro e por elas, o que faz com que Cloverfield seja bastante crível.
Aqui é assim: um cara, três monstros. Os três monstros correm meio mundo causando destruição e, por mais que eles sejam colossais, são só 3 monstros. Apesar disso, a tragédia persegue Brody, que vai de encontro a ela também. É uma paixão incontrolável: Brody ama a tragédia e é correspondido, pois essa sente uma atração maluca por ele. É bizarro: o que quer que o sujeito faça, onde quer que ele vá, vai acontecer algo. Cara, o mundo é gigante, os bichos estão espalhados, dá pra causar uma destruição muito maior e mais convincente se desfocar do Brody!!!

Sendo assim, o novo Godzilla é preguiçoso, inverossímil e bem chato, transformando-se de um drama indie em um legítimo tokusatsu muito bacana em sua épica batalha final. Se todo o longa seguisse aquele estilo, seria fantástico, seria catártico! Mas não foi dessa vez. Temos aqui um filme visualmente impressionante e absolutamente broxante.
Agora, se me dão licença, eu vou ali ver Cloverfield e, se der tempo, Círculo de Fogo.




Um comentário:

  1. Godzilla foi tudo isso, e mais aquela escuridão na maior parte da cenas que fica difícil ver algo. Não há caminho do meio para esta produção. É ruim mesmo.

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