domingo, agosto 24, 2014

Ultraviolence - Lana Del Rey (2014), ou: Sobre profundidades e sombras insuspeitas


Poucas cantoras hoje podem contar/cantar com a originalidade e a ousadia de Lana Del Rey. Lana destaca-se facilmente entre artistas superficiais como um rio caudaloso, escuro e profundo.


O novo trabalho da cantora chama-se "Ultraviolence" - termo baseado na obra "Laranja Mecânica", de Anthony Burgess - e foi produzido por Dan Auerbach, guitarrista/vocalista da banda The Black Keys.

Drogas, corações partidos, solidão, angústia, perda, vazio, o peso da fama, o suicídio, os carros... estes são os temas cantados pela Diva - temas estes que já estavam presentes em seu disco anterior, "Born To Die" (2012) (http://www.01pordia.com/2013/02/born-to-die-paradise-edition-lana-del.html). A estética dos anos 1950 e 1960 continua presente, mas onde em "Born To Die" havia sombras, em "Ultraviolence" há escuridão.

Lana canta de maneira sombria e bela. É como se ela, depois de algum tempo, tivesse perdido o medo de encarar o que nela havia de noturno e úmido, mas contrabalançasse essa treva com uma beleza triste.

A beleza trágica de Lana é completamente visualizada/sentida em "Ultraviolence". A violência que ela canta é aquela que alimenta as paixões, o ódio e a indiferença. Ela canta para o que em nós é sombrio e profundo, jamais negando os instintos - mas sublinhando-os e aceitando-os sem remorsos e reservas.

Apesar disso, Lana Del Rey não é Elizabeth Grant. A aparência blasé é um verniz, e por baixo deste podemos perceber um pedido de ajuda que flui como o sangue de um corte profundo. Sua música reverbera em profundidades e sombras inesperadas e insuspeitas, alimentando-nos com algo corajoso e fugaz, despertando em nós a dicotomia destrutiva que é existir e diluir-se no nada original.

Acho difícil destacar uma das faixas do disco como a melhor, ou um grupo delas como as melhores. "Ultraviolence" é coeso e orgânico, e cada música encaixa-se perfeitamente na seguinte enquanto cantam, juntas, uma história fluida, trágica e sensual. A história de Lana/Elizabeth.

Ouvir este disco é entregar-se à doce narcose de um sono sem sonhos após noites de insônia, ou agarrar-se - náufrago e moribundo - às lembranças de quando se foi feliz.

Para se ouvir à noite, sozinho.

Até mais.

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