Para o crítico americano James Poniewozik, THE KNICK, estrelado por Clive Owen como um cirurgião de Nova York empurrando os limites da medicina no fim do século XIX, "é um programa sobre o futuro". Para Matt Zoller, do site Vulture, é "uma declaração sobre o passado, e um aviso de como o passado pode recuperar o presente se não formos cuidadosos". Eu penso que eles estão certos.
A série é uma produção de época, por definição, mas Steven Soderbergh, que dirigiu, fotografou e editou todos os 10 episódios da temporada - os dois últimos com nomes diferente, não sei o propósito disso que parece ser um hábito de Soderbergh -, evita qualquer sentido de remover o seu aspecto histórico. Ele nos transporta para as ruas de Manhattan no ano de 1900, que como se vê, é um lugar profundamente fascinante e absolutamente aterrorizante. Owen é John Thackery - Thack para os colegas - que está, literalmente, na vanguarda da cirurgia, numa fase ainda não estabelecida como um ramo legitimo da medicina, mas de uma perspectiva atual, ele é um monstro, tratando os aflitos que acabam em sua sala de operações como cobaias humanas. Alguns, recém inertes, viram cadáveres para suas experiencias. Cenas de corpos humanos deixados na mesa de operações com instrumentos cirúrgicos saindo de suas cavidades abertas são muitas espalhadas nesse piloto e lembram as vitimas do Chesapeake Ripper em Hannibal, a série. Então vale a advertência: a série é para quem tem estomago forte.
Isso nos leva imediatamente a compreender como a medicina progrediu naqueles dias (e de forma menos horripilante, ainda faz); na base da tentativa e erro, o que em alguns casos é muito mais cientifico do que se andar às cegas em um quarto escuro em busca de um interruptor. A maioria dos pacientes que entram no Knickerbocker Hospital, mais conhecido como o "Knicker" do titulo, deixam de sair vivas, com condições como apendicite e placenta prévia, que agora tratados com procedimentos simples, eram equivalentes a uma sentença de morte. Como Thack observa em seu discurso fúnebre de um colega, a morte possui "a mais longa série de vitorias na história do mundo."
Nova York em si é um lugar perigoso: um agiota arranca o dente de um homem como uma penalidade por atraso de pagamento; um oficial de policia é esfaqueado na ruas após uma discussão menor... Tudo parece preocupantemente mortal por aqui. Usando uma mistura de cenas locais e digitais - perfeitas, é preciso dizer, e elevando um pouco mais o padrão de definição do Canal Cinemax - Soderbergh e sua tripulação efetivamente transportam-nos para uma época em que as ruas de Manhattan ainda davam lugar a manchas de sujeiras endurecidas e as moradias dos ricos eram separadas por ruelas arborizadas. Algumas das performances, especialmente a do inspetor de saúde, David Fierro e o usurário Danny Hoch inclinam-se em demasiados duros para os maneirismos da época, mas na maior parte, é impressionante como o inconsciente do show evocam o espirito de uma época passada. Embora sejamos incessantemente conscientes de como a medicina continuará a progredir - a única coisa que realmente torna a experimentação sangrenta de Thack um pouco mais suportável -, ele nunca é condescendente em suas técnicas primitivas. Não posso deixar de pensar que as nossas orgulhosas inovações de hoje vão parecer carnificina daqui um século
"É o futuro", diz Thack ao demonstrar uma nova ferramenta na sala de operações. isso é evocado explicitamente, à vezes com admiração, às vezes como meio de justificação, em grandes e pequenas maneiras. A nomeação do primeiro médico negro do Knicks, Algernon Edwards (André Hoaland), é um prenuncio de tempos futuros, como sera a chegada do raio-x, como apontam alguns críticos que receberam todos os episódios antes da audiência. Mas assim também é a necessidade do hospital para solicitar clientes ricos para se manter financeiramente solvente, e o desdém institucional concomitante com os pobres e não brancos. (parece que contratar um negro é parte de uma solução para isso, certo?).
Digno de nota ainda, são os personagem de Juliet Rylance como uma mulher rica que começa a perceber que a politica progressista de sua família na condução do hospital, para nos direitos das mulheres e Eve Hewson, como uma curiosa enfermeira da Virginia Ocidental, ambas tem profundidade suficiente que se fazem importante nesse piloto. A narrativa nos chega com bastante força, The Knick pode não ser o futuro, mas faz se pensar sobre o presente.
Imagens e texto interessante, eu quero ver The Knick estou intrigado com esta série!
ResponderExcluirSem duvida ela é intrigante e nos faz pensar sobre a medicina.
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