Março/2014
Para muitas pessoas, Faërie seria um lugar belo onde o sol está sempre prestes a se pôr, dando-nos uma eternidade a vislumbrar o ocaso em céus e nuvens avermelhadas. Um constante fim de tarde na Terra dos Encantados, onde tudo é lindo e perene.
Mas as pessoas esquecem, constantemente, da selvageria que jaz sob a beleza.
O bem e o mal são conceitos criados pelo homem em sua eterna ânsia de ordenar as coisas, de colocar cercas ao redor das florestas e de pôr muros de contenção às margens dos oceanos. Mas a natureza, ah... esta é caos puro e simples. Não há ordem, não há segredos, não há mistérios: somente um crescer e reproduzir vertiginosos, sempre a se espalhar e mudar e a engolir.
A vida acha um jeito, dizia Ian Malcolm. E quando achamos que começamos a compreender o mundo, a natureza e a beleza, algum fenômeno natural nos assola e nos relembra de nossa finitude e de nossa insignificância.
Escutar o novo disco do Wolf People é penetrar em Faërie e olhar, receoso e admirado, para as belezas selvagens que ali estão e sempre estarão. Um ser humano no meio da Floresta Encantada enlouqueceria em poucos instantes - não porque estaria sendo atacado por algo ou por alguém, mas porque a única maneira de se existir no meio de toda aquela exuberância é aceitando e abraçando o caos essencial. E para isso, a razão precisa fugir.
Na cidade, em nossos carros, diante de nossos computadores... é natural vestirmos um verniz de civilidade. Ser gentil, prestativo, amoroso: ordem do dia. Mas e quando isso não mais se faz necessário? Quando a única língua possível é o barulho do vento, do rio, da chuva e do rosnado? Quando se é presa ou predador? Quando qualquer sombra/galho/olho é um inimigo em potencial?
O que fazer quando a beleza pode te matar, te prender ou te enlouquecer para sempre?
"Fain" (2013), o mais recente trabalho do Wolf People, é um passeio guiado por Faërie. A voz hipnótica de Jack Sharp, a guitarra psicodélica de Joe Hollick, a bateria ousada e pulsante de Tom Watt e o baixo agressivo de Daniel Davies transformam a experiência de "Fain" num encontro amedrontador com um grupo de fadas belas e terríveis no Eterno Crepúsculo. com sua sonoridade psicodélica, Wolf People conduz-nos de volta às florestas virgens e escuras de eras passadas e nos abandonam sozinhos entre as árvores entre o cheiro adocicado de flores e o rançoso odor de decomposição.
A banda amadureceu visivelmente desde seu primeiro trabalho, trazendo uma personalidade mais sombria e viciosa. O som deles é cheio de uma musicalidade que já se julgava perdida, mas que - descobriu-se - havia estado apenas adormecida no fundo das memórias coletivas. O homem teme aquilo que não pode controlar, e por isso tenta destruir tudo o que é diferente, desconhecido e belo. Quando não consegue destruir, tenta possuir e definir.
Mas essa é parte da beleza, não é? Não se pode destruir o Jardim Selvagem. E no fim, quando os restos do Conquistador forem apenas restos, a Floresta vai absorvê-lo, e ele voltará a fazer parte da selvagem beleza do Jardim.
Eternamente preso na Terra do Crepúsculo...
A Beleza é Selvagem, e quer te matar.
Até mais.
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Mais Informações:
"Wolf people é uma banda de rock pscicodélico de Londres, Bedford e North Yorkshire, formada por Jack Sharp (Guitarra e vocal), Joe Hollick (Guitarra), Tom Watt (Bateria), Daniel Davies (Baixo).
Formada em 2006 lançando um EP limitado na Sea Records.
Assinaram com a JAGJAGUWAR records em outono de 2009, e lançaram seu debut, TIDINGS, em 22 de fevereiro de 2010, uma coleção de singles e faixas de EP.
Em 2010 lançaram "Steeple", também pela JAGJAGUWAR records. Em 2013 lançaram "Fain".
Em 2010 lançaram "Steeple", também pela JAGJAGUWAR records. Em 2013 lançaram "Fain".
Fonte: Last Fm.
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