segunda-feira, janeiro 27, 2014

The Banshee Chapter 2013 - O medo que apenas se insinua é o pior dos pesadelos

Dia 27 Ano II

Filme: The Banshee Chapter 2013 - IMDb 5,4

Diretor: Blair Erickson
Roteiro: Blair Erickson, Daniel J. Healy
Elenco: Katia Winter, Ted Levine, Michael McMillian

Há uma cena clássica de terror muito repetida em suas múltiplas variações. Uma pessoa sozinha prestes a mergulhar em uma piscina, lago etc, quando sente uma aproximação ameaçadora. Um ambiente escuro com pouca iluminação reforça a sensação de medo. Um rosnado, uivo ou grito ameaçador rasga o silêncio. Nosso personagem mergulha para escapar. Reflexos oscilantes no ambiente, paredes ou arvores e corta para a pessoa na água. Com a musica ou silêncio certo, essa pode ser uma cena bem aterrorizante sem que se mostre o terror real. Pois bem, o escritor de primeira viagem / diretor Blair Erickson de Banshee Chapter faz um truque semelhante: O filme é cheio de sombras, uma escuridão perfurada pelo brilho azul escuro de lanternas, e espaços cavernosos sombrios e esmagadores em seu sentido de ameaça; O medo que realmente não se vê. Tudo elegantemente aterrorizante.

The Banshee Chapter começa em estilo documentário, com palavras na tela, informando-nos do programa secreto da CIA, ativo de nas décadas de 1950 e 1960 de codinome Projeto MKUltra e que envolvia químicos ou médicos injetando drogas alucinógenas em pessoas, a fim de estudar os resultados. O MKUltra foi oficialmente sancionado em 1953 e interrompido vinte anos depois. Registros desse programa são difíceis de encontrar (na esteira  do escândalo Watergate, o diretor da CIA, Richard Helms ordenou que todos os arquivos do MKUltra fossem destruídos), embora tenha acontecido audiências investigativas no senado americano em 1977, liderado por Ted Kennedy. Um dos objetivos listados em um documento do MKUltra que escapou de ser destruído era dar as pessoas "substâncias que promovam o pensamento ilógico e impulsividade ao ponto em que o destinatário seria desacreditado em publico", ou, ainda mais reconfortante, "materiais que fará com que o cérebro sofra danos e perda de memoria temporária e/ou permanente", A paranoia era, obviamente um dos pontos altos da cultura durante os anos do MKUltra, e o projeto ainda está envolto em secretismo e teorias conspiratórias. The Banshee Chapter mostra-nos algumas dessas audiências investigativas do senado, bem como entrevistas em imagens granuladas, com um dos médicos que pareciam não ter considerado as implicações morais do que estavam fazendo.

Após o início convincente e assustador, há um seguimento um pouco estranho para as engrenagens da narrativa. Encontramos uma jornalista investigativa iniciante chamada Anne (Katia Winter) que está tentando descobrir o que aconteceu com seu amigo de faculdade, James (Michael McMillian). James aparece nas imagens de videos "encontradas", preste a tomar uma droga alteradora da mente, a mesma usada no MKUltra, como pesquisa para um capitulo de um livro que ele está escrevendo. Um amigo tem a câmera que filma o momento em que ele toma o liquido azul brilhante e espera para ver o que vai acontecer. Rapidamente James entra num estado de pavor dizendo que algo "está chegando". A cena se alarma em estática, e enquanto o evento tem sequencia em trapos de imagens granuladas (nunca o vemos em sua totalidade), James desaparece da face da terra.


Onde foi parar James? Ele ainda está vivo? O que ele estava querendo dizer com: "alguém está vindo"? E o que é exatamente esse liquido azul? A investigação de Anne a leva ainda mais fundo na sub-cultura complicada do teóricos de conspiração norte-americano e a complexos abandonados no deserto onde antes o governo andou fazendo coisas bem ruins. Ela também da de cara com "estações de números"; que são estações de ondas curtas de radio que transmitem coisas estranhas e indecifráveis, como estática um sinal sonoro e de vez em quando uma voz infantil feminina entoando cânticos esquisitos.. e, embora a palavra "banshee" nunca seja realmente pronunciada no filme, o que parece estar saindo das estações, são as vozes dessas criaturas míticas que lamentam quando alguem estar prestes a morrer.

Anne tem acesso as escritos e rascunhos de James sobre o livro que ele estava a escrever, e o que ela encontra são informações sobre o Projeto MKUltra. Ela também encontra uma carta endereçada a James na ocasião em que ele recebeu o liquido azul. Ela esta assinada, "Seus amigos do colorado". Uma colega de Anne reconhece a assinatura como o titulo de um livro escrito por uma cara do Colorado, chamado Thomas Blackburn (Ted Levine). Blackburn é claramente inspirado em em caras como Timothy Leary e Ken Kasey. Blackburn como eles teria escrito sobre drogas alucinógenas nos anos 1960 e estava constantemente a se comportar de uma maneira louca e violenta, como disparar tiros em seus assistentes e sendo expulso de festas por conta de seu comportamento pouco sociável. Anne se pergunta se este escritor agora recluso saberia algo sobre o MKUltra e James, e por isso resolve encontra-lo em um bar decadente no meio do deserto.

Os dois acabam se unindo, ainda que isso aconteça de uma maneira muito louca. Blackburn seria mesmo  o "Amigos do Colorado" que enviou a James uma amostra do material azul, e ele nunca conheceu o jovem escritor apesar disso, mas não sabe onde ele está agora. Blackburn, ainda e como parte de suas estranhezas, habita uma casa bizarra cheias de caveiras, bandeira americanas e chifres de animais espalhadas dentro dela. Anna e Blackburn se unem a Callie (Jenny Gabrielle), uma amiga de Blackburn. Os três resolvem tomar eles mesmos o liquido azul, para entender o que acontece ao ingeri-lo. Algumas das coisas que seguem após isso são quase insuportavelmente assustadoras, principalmente porque a maioria delas ocorrem em um abismo de escuridão com apenas vislumbres do que esta de fato acontecendo.



The Banshee Chapter funciona lentamente, leva o seu tempo comportando-se como um romance policial tipico, em um primeiro momento, com a nossa heroína destemida, olhando para telas de computadores e folheando paginas em busca de pistas que a levem a compreender o que está acontecendo. Katie Winter, conhecida do publico de televisão por seu trabalho em Sleepy Hollow e Dexter, é uma presença maravilhosamente inteligente, atenciosa e preocupada, complexa e astuta. Os eventos começam em espiral com Anne e Thomas indo cada vez mais fundo num labirinto terrível de "algo", o "algo" que todos encontraram a ingerir o liquido azul e do qual todos queriam escapar.

Estruturalmente, o filme é um pouco confuso. O ponto de vista cinematográfico não é claro. Ele é sentido como um falso documentário às vezes, com uma câmera flutuante indo e vindo de cara em cara, mas também aponta para um ponto de vista mais onisciente. Há uma cena em que Anna vai para o deserto sozinha para captar uma daquelas assustadoras estações de números no radio de ondas curtas e vemos ela falando para a câmera de vídeo, depois esse formato é abandonado também, outras vezes temos câmeras de media no interior do carro, ou seja, tudo é confuso e o diretor Erickson não consegue decidir qual caminho ele quer seguir de uma cena para outra.

Mas isso se torna realmente irrelevante por que o filme trabalha com sua própria magia e a a magia negra deste filme é terrível, quando chegamos à cena final nas instalações abandonadas que já foi a sede do projeto MKUltra; estamos eliminados, estamos seco e torcido do terror agudo e lamentando por todas as imagens perturbadoras. As sombras são tão negras, os rasgos de lanternas são tão fracos e frágil e ninguém pode ver ao certo que realmente está la fora.





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