sábado, janeiro 11, 2014

Slavoj Zizek - The Pervert's Guide to Ideology / O Guia do Pervertido para Ideologia (2012)


Dia 11 Ano II


Slavoj Zizek vem faturando muito como um "superstar teórico cultural", e enquanto a sua celebridade é um fato no recôndito mundo acadêmico da teoria cultural, é seguro assumir que a maioria dos espectadores não vai saber nada sobre ele, embora alguns podem saber o suficiente sobre o seu acostumado meio para abrigar suspeitas compreensíveis sobre um filme em que Zizek expõe um cruzamento da ideologia, filosofia e filmes populares como Tubarão.


Assim como na teoria cultural, algumas disciplinas em que ela se baseia, como a Psicanalise e a Linguística, é notória uma densa floresta e uma prosa impenetrável sempre comprometida com as editora universitárias, por isso pode pergunta-se se o Guia do Pervertido para Ideologia, a mais recente obra de Zizek (a outra é o Guia para o Pervertido do Cinema de 2009), com a colaboração do cineasta Sophie Fiennes, sera igualmente opaco e proibitivo, ou como o próprio homem é, um renomado intelectual, cujo os grandes pronunciamentos fazem os olhos dos meros mortais vidrados?

Felizmente, o filme de Fiennes responde rapidamente a pergunta na forma negativa. Embora suas idéias sejam de fato inebriante e altissonante, elas são apresentadas de uma forma que é consistente e acessível. E o barbudo, volumoso Esloveno nascido Zizek, surge como um contador de histórias divertido e explicador, o tipo de professor cujo os cursos de seu departamento são merecidamente os mais populares. Você não tem que compartilhar sua filosofia materialista para achar suas análises da cultura e dos filmes espirituosa, perspicaz, útil e instigante.

Ele começa com um filme que é perfeitamente adequado para o seu tema principal. No cult clássico de 1988, de John Carpenter, They Live / Eles Vivem, um homem encontra uma caixa de óculos de sol mágico em uma igreja abandonada. Quando ele coloca um e olha uma inócuo outdoor com publicidade de computadores, ele lê "obedecer". Outra publicidade que mostra um casal em uma praia, torna-se "case-se e reproduza". O filme de Carpenter ilustra, assim, algo que Zizek acredita de todos os filmes: que por trás de seus significados superficiais e óbvios estão as mensagens mais profundas, a evidenciar as tensões e os imperativos fundamentais da cultura.

Ideologias, nesse sentido, não são doutrinas politicas codificadas em "ismos", mas sim as fantasias e crenças que estão na base do funcionamento de todas as sociedades. Ao mostrar como estas se refletem nas histórias de indivíduos que os filmes nos dão, Zizek, por exemplo, observa as semelhanças entre The Searcher / Rastros de Ódio (1956) e Taxi Driver (1976). Em ambos os filmes, mergulha-se em uma orgia de violência que é o resultado da tentativa do herói em tentar recuperar a inocência sexual de uma jovem que parece não se arrepender de sua perda. E se você vai para o resgate de uma vitima que não quer ser ajudada? Ao fazer essa pergunta, Zizek faz um paralelo com as experiencias militares dos Estados Unidos no Vietnã e no Iraque em um dos muitos casos em que ele brinca um pouco mais longe das conexões entre construções imaginarias e as realidades politicas.

Outro conjunto de comparações, liga Tubarão e a ascensão nazista refletindo tanto sobre O Triunfo da vontade (1935) de leni Riefenstahl quanto a obra anti-semita de Fritz Hipler. The Eternal Jew / O Eterno Judeu. Embora todos os três filmes implicam uma ameaça de um Outro intrusivo, no filme de Spielberg o tubarão é um simbolo suficientemente amplo para significar tudo e nada (conservadores viram como o invasor estrangeiro ilegal, Fidel Castro o lia como sendo o próprio Capitalismo). No cinema nazista, no entanto, o perigo foi identificado como um grupo especifico devido a uma narrativa que explica as tensões internas da Alemanha da época em termos de "um intruso" - o estrangeiro judeu.

É digno de nota que, embora o passado de Zizek e sua formação sejam marxista, o Guia, sem surpresa, dedica algum escrutínio critico afiado para as contradições internas do nazismo, do fascismo e do capitalismo, analisando filmes que incluem Titanic, Cabaret, Batman o Cavaleiro das Trevas e muitos outros, ele ainda é igualmente adstringente sobre a mitologia comunista que reforçou ditadores como Stalin, Mao e Castro e um sistema baseado numa crença em uma criatura imaginária conhecida como "o povo" que justificava muitos dos seus horrores. No entanto, em vez de atacar os lideres emblemáticos, diz Zizek, a melhor maneira de mostrar esses mitos é destronando aquela criatura inexistente, e ele cita as primeiras sátiras de Milos Forman como filmes que fazem exatamente isso.

De qualquer forma, ele concluí, "A lição deprimente das últimas décadas é que o capitalismo tem sido a verdadeira força revolucionando, ao mesmo tempo que só serve a si mesmo."

Para min, e tenho certeza, para muitos, sem duvida, a verdadeira surpresa é a provocante jornada de Zizek seguindo Freud pelo buraco de coelho da profunda crença ocidental, onde se identifica judaísmo com "ansiedade" e cristianismo com "amor" e em seguida usando a obra de Scorsese, A Última Tentação de cristo para isso. Como seu texto exemplar ele diz: "A única maneira de ser ateu é ir através do cristianismo. O cristianismo é muito mais ateu do que o ateísmo é de costume..."

Enquanto todos os argumentos mencionados aqui são mais detalhados e elegante no contexto do filme do que pode ser sugerido nesse breve resumo, os comentários a respeito da religião podem fazer alguns espectadores querer consultar os livros de Zizek para uma maior elucidação. No geral, porem, os comentários são inteiramente lúcidos. inteligentes e divertidos, amparados por muitos trechos de filmes bem escolhidos e inteligentemente usados como dispositivos por Finnes para filmar Zizek contra cenários recriados de alguns dos filmes que ele discute, como o apartamento de Travis, o avião em que Hitler viaja,barco de caça em o  tubarão e etc.

Quanto ao porquê do filme ser chamado de guia "do pervertido", este comentador salienta que seus créditos finais não reconhecem os muitos filmes em que se baseia tão copiosamente. Isso, em termos de cinema padrão é realmente perverso.



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