Pois é, meus planos eram (e ainda são) ficar ao menos um
mês longe dessa bagaça, tirar férias, dar uma relaxada. Mas acontece que, longe
daqui, eu fico é mais tenso! Então decidi dar uma passada, recomendar uma coisa
que li recentemente e, de quebra, ressuscitar uma sessão que deu uma caída no
esquecimento: os quadrinhos. No começo do 01Pd, lá nos primeiros meses, havia
uma sessão de quadrinhos relativamente ativa, mas que deu uma esfriada e acabou
sendo deixada de lado. Há uns textos interessantíssimos sobre X-Men pra quem
estiver interessado.
Mas hoje não falaremos de qualquer tipo de quadrinho, não
falaremos de super heróis em fantasias coloridas ou o que quer que se pense
imediatamente ao se falar de histórias em quadrinhos. Para falar a verdade,
para o tema que trataremos hoje, acho apropriado até mesmo fazer uso do termo GIBI.
Isso porque indicarei hoje nada mais nada menos que a
belíssima e fantástica graphic novel do Piteco: Ingá. Do projeto Graphic MSP,
que dá uma cara nova aos já consagrados personagens do universo criado pelo
Maurício de Sousa.
A ideia do MSP é essa: pegar todo o universo criado pelo
Maurício e oferecer aos maiores (e não tão grandes assim) nomes do quadrinho
brasileiro, dando a oportunidade a artistas renomados mostrarem sua visão
daqueles personagens e a artistas não tão conhecidos de fazer o mesmo e ainda
mostrar o seu trabalho a um público muito maior.
Não vou mentir, nunca fui um grande fã dos personagens
secundários da Turma da Mônica, tirando o núcleo do cemitério (que sempre achei
demais!) e o Chico Bento (que por muito pouco não era meu favorito), não dava
muita bola pro Horácio, pro Rolo, ou pro Jotalhão. Mas pelo Piteco eu tinha um
desprezo todo especial. Era quase um prazer ignorar as aventuras do homem das
cavernas, pegar todas as páginas juntas e passar sem olhar para a história
seguinte. Nem sei exatamente a razão...
O que não me empolgou muito em ler a graphic do
neandertal, preconceito até bastante compreensível. O que me fez sentir
curiosidade em ir atrás de Ingá foi
a escolha ~peculiar~ do artista responsável pela arte (e texto) da HQ. Um
sujeito absolutamente fenomenal, um artista de mão cheia, mas sem grande apelo
comercial, muito menos infantil. Um cara chamado Shiko. Acontece que o Shiko é
meio que um Milo Manara brasileiro, a arte do cara tem uma sensualidade, tem um
erotismo que simplesmente não se encaixava (para mim) nos moldes do que havia
sido mostrado até então do MSP. Já havia dado uma olhada em Laços, que leva o
núcleo principal da Turma a uma pegada mais autoral, mas segue uma linha ainda
infantil e já havia lido Pavor Espaciar, que estiliza bastante, mas mantém
intacta a identidade do Chico Bento. Mas quando saquei o visual de Ingá, eu
entendi de cara que a pegada do Shiko não ia ter nada de infantil.
Ingá é o que há de mais diferente e ousado no que foi lançado
até agora sob o selo MSP. Shiko dá uma maneirada na putaria artística (leia
putaria no melhor sentido possível do termo) com a qual está acostumado a lidar
e entrega um trabalho artisticamente impecável, visualmente belíssimo, porém um
tanto quanto apressado. Na história acompanhamos Piteco, um homem das cavernas
comum, que enfrenta, ao lado de sua tribo (já toco nesse assunto), um momento
decisivo em sua vida e na vida de todos os seus semelhantes: a seca chegou, o
rio que era responsável pela vida do povo de Piteco se extinguiu e revelou uma
antiga profecia que dizia que esse dia estava por chegar. E que quando esse dia
viesse, o povo de Lem, que vive nas cavernas, teria de encontrar um novo lar. E
quando o povo de Lem finalmente se prepara para partir, membros de uma tribo divergente,
os Homens Tigre (que tem um visual e uma mitologia fodabagarai!) sequestram a
profetiza/xamã que vive com o povo de Lem. Que além de tudo é ninguém menos que
a esposa do protagonista.
Então todo o desenrolar de Ingá é focado na jornada de
Piteco para resgatar sua amada, o que o colocará em rota de colisão com tribos
hostis, criaturas sinistras e ambientes nada amigáveis e o levará a fazer as
mais inesperadas alianças!
Piteco: Ingá é surpreendente! É simplesmente inesperada,
você não se prepara para algo tão visceral e agressivo, não espera ver algo
teoricamente voltado a um público infantil atingir níveis de beleza e grandeza
tão absurdos. Shiko, que escreve, desenha e colore a HQ, leva o personagem a
outros patamares. Dá a ele uma mitologia e uma profundidade nunca antes vistas
(ou imaginadas) nas páginas de suas inocentes historinhas. Shiko dá à história
de Piteco um ar de indígena que torna tudo muito mais profundo e crível, além
de permitir que a trama flua por caminhos fantásticos (leia fantástico como
fantasia) e sombrios.
E, de quebra, Shiko consegue dar uma amostra de seu portfólio,
sem grandes censuras: ele mostra todo seu potencial sem precisar se diminuir
para se enquadrar a um padrão. Ingá é sensual, violenta, sangrenta e profunda,
possui um ritmo empolgante (apesar de apressado), uma arte deslumbrante e envolvente.
E causa uma vontade incontrolável de ler tudo o que for lançado sob o selo MSP.
E eu estou disposto a ceder a essa vontade sem oferecer resistências...
Aguardem mais resenhas sobre a série. Vocês ainda ouvirão falar bastante dela
por aqui.
Hehehe não aguentou né?
ResponderExcluirImpossível!
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