Eu estava pensando em escrever algo sobre o Natal, digo, a ideia que se conceitua a respeito do Natal. Escrever algo sobre transição, conscientização da vida, da passagem das coisas, de aprender lições; de esquecer, analisar, compreender, aprender, e então renovar-se. Não, não, ser novo não é ser virgem, ingênuo... ser novo é antes de tudo ter a capacidade de olhar para a mesma paisagem e ver que ela está mudada ou perceber detalhes que não haviam antes e que talvez sejam tão novas como as antes percebidas. Ser novo é trabalho de percepção aguçada, percepção que teima em dizer-nos que naquele quadro, naquela obra, naquela rua, naquela música, naquele movimento há algo de surpreendente, há algo inexplorado até então.
E então querido leitor do 01PD, ouvi nos últimos dias Legião Urbana, Cazuza, Jorge e Matheus(sim, sim, tem qualidade e muita por sinal), e tentei lembrar de tantos artistas que fizeram minha cabeça. Belchior com seu acústico, com o violão de Gilvan de Oliveira, genial e cristalino, não me deixaram dúvidas que era sobre essa obra de arte que eu escreveria.
Se houvesse uma mitologia cearense, com toda a certeza Belchior seria o Deus Chronos. É fascinante, como esse tema é recorrente nesse álbum. Como se angustia em viver plenamente, como ele expressa seu amor a vida. Fala em muitas canções da sua vida como artista, do seu orgulho pela luta em se tornar o que é. Fala do sacrifício de viver em selvas de pedras, de escala-las e chegar no seu topo. Agradece à São Paulo, ao Rio de Janeiro. E claro demonstra todo o amor que sente pela terra Alencarina(sempre quis escrever essa palavra em uma postagem :).
A poesia é lapidada, é encaixada, bem pensada, ele monta suas estrofes com a precisão de piloto de formula 1. O resultado é um diamante de mil faces.
Com uma voz rouca, que muitas vezes me fez lembrar Luiz Gonzaga. Mostra todo seu amor a vida, às pessoas, sua dedicação ao romantismo e sobretudo sua filosofia.
Semana passada fiz analogia com a bíblia, Belchior é o despertador, que não deixa você dormir demais, que avisa incessantemente, que o dia começou, que a vida começa a cada raiar do sol, que não podemos continuar na cama adormecidos, enquanto tem tanta coisa pra viver.
Esse disco é uma pérola. É feita para se ouvir de madrugada com a rua toda em silêncio, contemplando a lua. O lugar ideal no entanto seria no pico de nossa Serra da Aratanha - Pacatuba-CE, depois de uma escalada e acompanhada de um belo papo com os amigos. Lá e somente lá existe um silêncio absoluto capaz de percebemos toda a riqueza dessa obra. Tirar o suprassumo da renovação da vida, do recomeço.
Essa postagem dedico a Reginaldo Rossi que também cantou tanto sobre a vida, sua obra vai se renovar a cada dia no coração e na lembrança de muita, mas muita gente.
Discordo e muito sobre a qualidade presente na música do Jorge e Matheus, não por ser um conhecedor da boa música ou sequer ser o seu mais bem informado apreciador, mas tenho aversão a onda do sertanejo enlatado que toma o Brasil, sertanejo esse cantado por talentosos rapazes e moças que conseguem com rara perfeição repetir um refrão cheio de onomatopeias e ruídos do ato sexual para agradar o seu público musicalmente exigente. Belchior tem uma obra muito grande, muito tocante, capaz de despertar sentimos como os aqui retratador tão bem por você.
ResponderExcluirMagnifico <3
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