sábado, setembro 28, 2013

Lovers Live - Sade, ou: Este não é um amor qualquer.

Dia 271.


A DANÇA

Não te amo como se fosse rosa de sal, topázio 
ou flecha de cravos que propagam o fogo: 
te amo secretamente, entre a sombra e a alma.

Te amo como a planta que não floresce e leva 
dentro de si, oculta, a luz daquelas flores, 
e graças a teu amor vive escuro em meu corpo 
o apertado aroma que ascender da terra.

Te amo sem saber como, nem quando, nem onde, 
te amo diretamente sem problemas nem orgulho: 
assim te amo porque não sei amar de outra maneira, 

Se não assim deste modo em que não sou nem és 
tão perto que a tua mão sobre meu peito é minha 
tão perto que se fecham teus olhos com meu sonho


Pablo Neruda

---------------------------------------------------------------------------------------------

O amor... quantos poetas e músicos - e artistas em geral - e cientistas já tentaram compreender este fenômeno? Quantos deles já conseguiram êxito na tentativa de explicar o que seria este sentimento?



Talvez saibamos o que é amar, mas nunca cheguemos a entender o amor. Talvez seja algo que transcenda a compreensão humana, ou algo tão maior e tão frágil que não resista às rotinas.

Mas seja o que for...

Há Sade Adu e sua voz de cetim, e sua banda - Sade - com suas guitarras e baixos e percussões e aquele saxofonista infernalmente bom. 

A música de Sade pulsa com sensualidade. Sua voz é realçada - de maneira muito, mas muito sexy - pelo ritmo quente e úmido da banda. Uma musicalidade feminina e crua, que se insinua como a mão de um amante.

Como a noite.

Como um segredo sussurrado ao pé do ouvido e que gera pequenos calafrios de prazer.


Ouvir Sade é sentir as partículas do corpo colocarem-se em desordem em nome de um Caos Superior. É dar ouvidos àquele amor que come carne e se banha em sangue e suor. É trajar a melhor veste sacerdotal e tê-la rasgada pelas feras e pelo vento quente do desejo.

É perceber-se sem nada a perder. É apaixonar-se de novo e de novo pela mesma pessoa. É reconhecer-se finito e falho e, ainda assim, arriscar-se a fazer aquela a quem se ama sorrir após uma pequena briga.

"Lovers Live" (2002) fala de amor. Mas não daquele idealizado, do amor de perdição; fala do outro, o que aquece, que pulsa, que mente e que não teme aventuras. Um amor que pode ser rápido, sujo e meio violento - onda que quebra num mar em ressaca, chuva e lama, vulcões e erupções. Amor e catástrofes naturais, amor e solidão, amor e tristeza. Amor e morte, fins, adeuses, recomeços, lembranças. 

Não se pode amar verdadeiramente sem egoísmos e sem abnegação. Sade canta com tristeza, e sua voz e o groove que se desprende de sua música nos aquece no frio movimento distante da vida que segue. Mas ao mesmo tempo que nos consola ela nos dá esperança.

E a esperança é a última que abandona os amantes. É o cais do porto seguro, é a pedra de salvação.

Eu, particularmente, não acredito no amor. Mas eu amo.

Ah, como amo.

"Lovers Live" é o primeiro disco ao vivo da banda Sade, e é um álbum incrível. Um show incrível.

Para quem amou, ama, amará - ou desacredita.


Bom domingo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Obrigado por comentar no 01Pd! Seja bem vindo e volte sempre!