Analogue - A-Ha, ou: Admirável Mundo Novo

Dia 246.

Um dos melhores discos do A-Ha, "Analogue" (2005), fala-nos de frio e de distâncias. As canções - mesmo as que soam mais alegres ou festivas - são todas preenchidas por um sentimento de vazio e de distanciamento natural destes dias de hoje.

Neste Admirável Mundo Novo, o que impera é o sentimento de não pertencer mais nem a épocas passadas, nem ao presente, nem ao futuro. Este sentimento de não fazer parte, de não compartilhar, de não poder - ou não querer estar - é tão característico e tão parte dessas gerações que estão ficando para trás... Não é por descobrir que o mundo não tem sentido, pois sabíamos disso a muito tempo. É por percebermos que nossos filhos e filhas, estes garotos, perceberam a falta de sentido do mundo e não se importam com isso. Eles só se importam com eles mesmos.

Nada mais é sagrado ou puro. Tudo se resume àquilo que se pode ter, e àquilo que se pode exibir. Trocar o novo pelo mais novo, desfazer-se do que é velho/feio/ultrapassado. 

Viver numa velocidade tão absurda que a vida passa numa velocidade absurda. Até um tempo atrás nascíamos-crescíamos-envelhecíamos-morríamos. Hoje, morre-se pouco tempo após nascer. Anos viram dias, e temos jovens adultos envelhecidos prematuramente mas sem responsabilidade, sem respeito pela vida e pela morte. Não se sabe mais a diferença entre os sentimentos, e toma-se remédios para sentir ou deixar de sentir alguma coisa.

Claro que há exceções. Sempre há. Mas...

Não há mais espaço para a experiência. A sabedoria virou piada. Tudo é chato e desinteressante. Tédio é a palavra de ordem. Até as emoções são digitalizadas.

Bem vindos ao mundo real, onde tudo é convertido em informações digitais. Onde tudo o que é nosso em breve estará na "Nuvem", e nossos corpos se provam cada vez mais inúteis e ultrapassados.

Ser velho num Admirável Mundo Novo é descobrir-se à parte do mundo.

Excelente disco, excelente banda.

Excelente noite. 

Fica a reflexão.