quinta-feira, agosto 22, 2013

Nando Reis - Sei, 2012

Dia 234

SEI, 2012, foi a maior decepção musical que tive nessa década. Acho que nem o disco novo do Coldplay me agrediu tanto quanto o mais recente trabalho do infernal Nando Reis.

“Mamonas assassinas com mamilos polêmicos
E a lúcia enunciada o enunciado totêmico
Petróleo dos primórdios nossa terra foi feita
O asfalto fonoaudiólogo do episódio neurológico
A terraplanagem perfeita”
(Pre-sal, Nando Reis)

A primeira música de SEI já chega mostrando a que veio: ela se chama Pre-Sal, dura mais de sete minutos, tem um riff de guitarra que se repete como a trilha sonora de um jogo do Nintendo durante toda sua duração e é permeada por rimas desconexas forçadíssimas que sequer atingem a sonoridade desejada. Ela me fez compreender que para alguns artistas, em certo ponto de sua carreira, a música se torna apenas uma forma de pagar as contas. Para pagar as minhas, eu preencho planilhas e relatórios. Para pagar as contas dele, Nando Reis lança discos. Alguns, como SEI, bastante medíocres.
Sou fã do trabalho do ruivo. Algumas de suas canções me marcam pra caramba, alguns discos são realmente impressionantes e todas as parcerias que ele executava com a Cássia Eller em vida rendiam trabalhos fantásticos. Músicas inspiradas, de pura e valorosa poesia, com ritmo poderoso... Não é o caso de SEI.
O disco é repetitivo, cansativo, e nada criativo. Par você ter uma ideia, ele é tão cretino que a frase em negrito que acabei de escrever tem uma sonoridade melhor que as toneladas de rimas inexatas que Reis vai entoando displicentemente durante os 62 minutos de duração do álbum. A faixa título, Sei, para se ter uma ideia, atinge o máximo desse defeito, mais do que isso: vai além. A palavra “pessoa” é repetida tantas vezes que não dá pra ouvir a música sem enjoar imediatamente dela, ainda mais eu que tenho problemas com palavras que se repetem.
Sei by 01 Por Dia on GroovesharkEntão surge um raio de esperança na escuridão quando começam os primeiros acordes de Pra Quem Não Vem, uma das mais curtas do álbum, a que soa melhor, uma canção realmente bela com apenas 3 estrofes, sem rimas toscas, sem guitarras patéticas, ela é bem cantada, bem composta, bem executada e conta com a participação de Marisa Monte dando uma equilibrada na voz de Reis, que em certos momentos desafina de uma forma vergonhosa (em um disco de estúdio), chegando a doer no ouvido.
Quando finalmente parece que Nando recobrou a sanidade poética, SEI começa a se tornar morno e apático, inexpressivo como um disco qualquer. Aí vem de tudo: influência de samba, reggae, Falcão (não o vocalista do Rappa, o cantor de brega mesmo). A letra de Coração Vago, um brega melodioso, soa exatamente como uma canção do camaleão do brega cearense, o que poderia ser uma coisa boa se fosse voluntário e não fruto de uma fadiga criativa dolorosa.
Deve haver alguma poesia muito bem elaborada nas músicas de SEI, mas as rimas sem sentido e a repetição nauseante de palavras me desviou totalmente a atenção.
O que me leva a questionar a obrigatoriedade dos artistas nacionais (e vários internacionais também) em lançar discos com uma frequência cada vez maior. Não seria melhor soltar um trabalho só quando ele estivesse realmente bom? Realmente competente? Um cara como David Bowie, por exemplo, passou dez anos sem lançar um disco e, quando o fez, liberou uma obra genial (The Next Day) e inspirada, como se nunca houvesse parado de gravar.
SEI é genérico, cheio de pontas soltas e cansativo. Que me desculpe Nando Reis (se um dia vier a ler esse texto, camarada, a culpa é inteiramente sua), sou um grande fã seu, aprecio demais sua obra, mas por favor, se for pra lançar coisas assim, dê uma de Bowie, espera uns dez anos e lança algo bom, com mais de uma música aproveitável. A gente espera, fica ouvindo teus trabalhos mais antigos. Sem pressa, sem pressa. Relaxa.

Vê aquela animação, Família do Futuro: Você fracassou, mas siga em frente!

-




Nenhum comentário:

Postar um comentário

Obrigado por comentar no 01Pd! Seja bem vindo e volte sempre!