Dia 234
SEI, 2012, foi a maior decepção musical que tive nessa
década. Acho que nem o disco novo do Coldplay me agrediu tanto quanto o mais
recente trabalho do infernal Nando Reis.
E
a lúcia enunciada o enunciado totêmico
Petróleo
dos primórdios nossa terra foi feita
O
asfalto fonoaudiólogo do episódio neurológico
A
terraplanagem perfeita”
(Pre-sal, Nando Reis)
Sou fã do trabalho do ruivo. Algumas de suas canções me
marcam pra caramba, alguns discos são realmente impressionantes e todas as
parcerias que ele executava com a Cássia Eller em vida rendiam trabalhos
fantásticos. Músicas inspiradas, de pura e valorosa poesia, com ritmo
poderoso... Não é o caso de SEI.
Então surge um raio de esperança na escuridão quando
começam os primeiros acordes de Pra Quem Não Vem, uma das mais curtas do álbum,
a que soa melhor, uma canção realmente bela com apenas 3 estrofes, sem rimas
toscas, sem guitarras patéticas, ela é bem cantada, bem composta, bem executada
e conta com a participação de Marisa Monte dando uma equilibrada na voz de
Reis, que em certos momentos desafina de uma forma vergonhosa (em um disco de
estúdio), chegando a doer no ouvido.
Quando finalmente parece que Nando recobrou a sanidade
poética, SEI começa a se tornar morno e apático, inexpressivo como um disco
qualquer. Aí vem de tudo: influência de samba, reggae, Falcão (não o vocalista
do Rappa, o cantor de brega mesmo). A letra de Coração Vago, um brega
melodioso, soa exatamente como uma canção do camaleão do brega cearense, o que
poderia ser uma coisa boa se fosse voluntário e não fruto de uma fadiga criativa
dolorosa.
Deve haver alguma poesia muito bem elaborada nas músicas de SEI, mas as rimas sem sentido e a repetição nauseante de palavras me desviou totalmente a atenção.
O que me leva a questionar a obrigatoriedade dos artistas
nacionais (e vários internacionais também) em lançar discos com uma frequência
cada vez maior. Não seria melhor soltar um trabalho só quando ele estivesse
realmente bom? Realmente competente? Um cara como David Bowie, por exemplo,
passou dez anos sem lançar um disco e, quando o fez, liberou uma obra genial
(The Next Day) e inspirada, como se nunca houvesse parado de gravar.
SEI é genérico, cheio de pontas soltas e cansativo. Que
me desculpe Nando Reis (se um dia vier a ler esse texto, camarada, a culpa é
inteiramente sua), sou um grande fã seu, aprecio demais sua obra, mas por
favor, se for pra lançar coisas assim, dê uma de Bowie, espera uns dez anos e
lança algo bom, com mais de uma música aproveitável. A gente espera, fica
ouvindo teus trabalhos mais antigos. Sem pressa, sem pressa. Relaxa.
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