Dia 235
Låt Den Rätte Komma In - 2008
Dir: Tomas Alfredson
Elenco: Kåre Hedebrant, Lina Leandersson, Per Ragnar
Låt Den Rätte Komma In, Deixe Ela Entrar é um filme sueco de 2008, baseado em um livro de mesmo nome do autor John Ajvide Lindqvist (que também assina sozinho o roteiro) que fez um sucesso mundial estrondoso por conta de exibições em festivais independentes, onde arrecadou os mais variados prêmios, chegando a ser exibido em circuito comercial, porém limitadíssimo. DEE (eu adoro transformar tudo em siglas) conta a história de Oskar (Kåre Hedebrant), um jovem sueco de seus 12/13 anos que mora com a mãe separada em um condomínio no congelado subúrbio sueco. A vida do garoto é solitária e miserável, segue uma rotina monótona de passar seus dias na escola, onde sofre agressões constantes por parte dos colegas e noites em seu quarto, tramando vinganças que nunca põe em prática.
E sua vida segue como um pêndulo desgraçado, oscilando
entre tédio e sofrimento de uma forma tão rotineira e desesperançosa que ele
está praticamente acostumado a isso, a essa violenta apatia.
Até o dia em que ela chega, a nova garota do bloco, a
vizinha, the girl next door: Eli (Lina Leandersson), uma garota tão curiosa quanto estranha, mas
aparentemente era apenas isso. Oskar e Eli acabam, inevitavelmente, se
aproximando, se conhecendo, se relacionando e, é quando esse relacionamento
começa a se tornar mais forte e profundo, que a garota faz a grande revelação:
ela não é apenas uma garota. Não mais.
Eli é uma vampira, no sentido literal da palavra. Um ser
da noite, que se alimenta de sangue e vive há tanto tempo que perdeu as contas,
aprisionada eternamente ao corpo de uma garota de 12 anos, viajando pelo mundo
ao lado de seu “pai” e, coincidentemente, aonde ela vai crimes macabros começam
a acontecer. Pessoas começam a surgir mortas de formas horríveis: corpos
destroçados, sangue drenado, gargantas cortadas...
A revelação de Eli deveria aterrorizar o garoto, mas aquilo
acaba por atraí-lo mais (após um choque inicial, mais pelo surrealismo da situação
que pelo horror em si) à garota, acaba por aproximá-los mais um do outro e, por
fim, acaba por mudar a vida de Oskar de uma forma brusca e extremamente
violenta (para os padrões suecos). A garota o influencia diretamente em seu
modo apático de viver, causa uma reviravolta totalmente inesperada na apática
existência daquele pequeno vermezinho pálido, transformando-o em algo... Mais
forte.
Ao mesmo tempo em que a chegada de Eli e seu “pai”
bagunçam totalmente o “ecossistema” sueco do local, causam um distúrbio imenso
à paz e a sensação de segurança suburbana. Sem falar nas mudanças no
comportamento do garoto em casa e na escola. A companhia de Eli traz a Oskar
uma confiança que ele não tem habitualmente, faz com que ele tome decisões
impensadas e violentas que surpreendem a ele mesmo.
Porém tudo foge ao controle e uma das vítimas da vampira
acaba por sobreviver, trazendo à tona informações e segredos que antes haviam
morrido com suas presas. E isso coloca a segurança, tanto de Oskar quanto da
garota em perigo.
Deixe Ela Entrar é um clássico do horror moderno que
mergulha na mitologia canônica do vampiro clássico. Seres da noite que queimam
ao sol e se s alimentam de sangue humano, indiferente de sua índole,
indiferente à sua “humanidade”, matar é necessário a eles.
É um filme charmoso, classudo, sangrento e extremamente
bonito, tanto pela ideia quanto pelo visual, cheio de boas sacadas, cheio de
detalhes que fazem a diferença e, ainda assim, extremamente sutil. DEE carrega essa sutileza em seu
título, confiando na inteligência do expectador para decifrar seus mistérios,
bolar teorias sobre seus sinais silenciosos.
Acima de tudo, acima do “romance” humano-monstro (e Eli é sim um monstro, um dos mais aterrorizantes), é uma crônica sobre o isolamento e sobre a descoberta tendo a morte como alegoria para a mudança. O final de Deixe Ela Entrar é uma das coisas mais bonitas e chocantes, mais poéticas, que o cinema mundial teve o prazer de ver. É corajoso, é sangrento e impiedoso. Você termina de ver o filme com os olhos marejados e arregalados, pela beleza e pelo horror, pelas milhões de coisas que podem acontecer dali em diante, pelas histórias que podem se desenrolar daquele momento em diante.
Histórias essas, tão sombrias e belas, que ninguém se
atreverá a contar.
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