Dia 175. Felipe Pereira 169
El orfanato - 2007
Dir: J.A. Bayona
Elenco: Belén Rueda, Fernando Cayo, Roger Príncep
Laura (Belén Rueda) viveu em um orfanato até o dia em que
foi adotada. Estava sempre cercadas de amigos no lugar, crianças da mesma idade
e mesma situação, algumas até pior. Mas um dia ela precisou sair do lugar e
nunca mais teve notícia dos “irmãos”.
Reencontramos Laura vários anos depois, ela já está
casada, já tem um filho, Simón (Roger Princep) e, depois de muitos anos,
retorna ao orfanato com intenção de transformá-lo num abrigo para crianças
deficientes.
Ela volta para o lugar, cheio de lembranças, trazendo a
família consigo. As coisas correm bem, os três tem uma boa vida, uma vida sem
grandes crises.
Porém Laura e o marido, Carlos (Fernando Cayo) escondem
do filho duas coisas, dois segredos bem grandes: primeiro: o garoto é adotado.
Segundo: ele tem HIV de nascença (faz tratamento, tomas os remédios, mas não
faz ideia). Esses dois detalhes serão vitais à trama mais adiante.
E isso, até o momento, não era problema algum. Até que
uma assistente social, Benigna (é o nome dela), visita Laura no Orfanato,
dizendo estar cuidando do caso de Simón, trazendo documentos antigos sobre a
adoção e a doença do garoto e trazendo à tona questões antigas.
Aquilo gera uma certa instabilidade, principalmente
quando Laura acorda no meio da noite e encontra a mulher fuçando sua casa de
forma no mínimo suspeita, para então, dias depois, descobrir que ela sequer era
assistente social.
Mas essas são apenas peças menores.
Os dias passam, a poeira baixa e as coisas seguem como o
planejado.
Laura conta ao filho pequenas coisas sobre os tempos do
orfanato, leva-o para visitar lugares que marcaram sua infância, conta
histórias...
Um dos lugares que ele mostra a ele é uma caverna na
praia que ela costumava visitar quando criança, com os amigos do orfanato. E é
nessa caverna que as coisas começam a acontecer. Nessa caverna Simón, que já
tinha alguns amigos imaginários, conhece um menino chamado Tomás, aparentemente
mais uma das suas criações. Simón é solitário, por conta da doença, por conta
de passar tempo demais dentro de casa, de ir morar num lugar isolado, não tem
contato com outras crianças, espaço preenchido por amigos que só ele vê.
Os pais levam isso na boa, coisa de criança, apesar d ele
já estar chegando numa idade um pouco avançada para isso, os dois conversam que
alguém tem que falar para o garoto que isso já foi longe demais, mas ninguém
faz nada sobre o assunto. Mas tudo ok, coisa de criança.
Até que ele conhece Tomás (e outras cinco crianças
imaginárias) e a coisa começa a ficar esquisita. Tomás faz coisas que crianças
imaginárias não fazem habitualmente e, além disso, sua presença é um tanto
quanto forte demais.
Simón e um garoto tem até um joguinho meio sinistro de
caça ao tesouro, Laura acaba se envolvendo no jogo e, sim, isso é outra peça no
quebra cabeças.
Além de que ele conta coisas para Simón que o garoto não
tinha (e nem deveria saber). Como, por exemplo, o fato de ele ser adotado, de
ele estar doente e de que ele, assim como Tomás, “não vai crescer”, vai ser
criança para sempre.
Então os dois decidem abrir o jogo pro garoto, contam
tudo o que ele pode saber na idade, o que acaba acarretando uma mágoa que fica
guardada no garoto, mas não se manifesta imediatamente.
Isso é mais uma peça no quebra cabeças.
Até que chega o dia da reabertura do orfanato, agora um
abrigo para crianças deficientes/carentes, e Laura decide dar uma festa de
máscaras. Antes da festa ela e Simón tem uma discussão, acumulada de desentendimentos
e da mágoa por conta das omissões de Laura, ela perde o controle e dá um tapa
no garoto.
Naquele dia Simón desaparece sem deixar rastros. Desaparece
mesmo, de forma que se passam meses e não há sequer uma pista sobre o garoto.
No dia da festa Laura vê um garoto mascarado, o garoto
toca um terror desgraçado nela e ela acredita que ele é quem deu sumiço no seu
filho.
Passam-se seis meses do desaparecimento, nem a polícia
nem os pais do garoto tem pista nenhuma sobre ele e, levando em consideração a
condição dele, ele já nem deve mais estar vivo. Mas fica aquele climão, ninguém
quer admitir, ninguém quer tocar no assunto, mas as partes já meio que sabem disso,
apesar de Laura e seu coração de mãe não aceitarem.
Ela tem uma intuição de que o garoto está vivo de alguma
forma, coisa que é reforçada pelos eventos estranhos que ocorrem na casa. Laura
continua sentindo presenças, vendo coisas, ouvindo coisas que ela acredita
terem ligação ao caso do filho.
Até que ela toma uma decisão extrema: procura um sujeito
envolvido com parapsicologia e o cara vai até o orfanato (que acabou não sendo
reaberto) com uma equipe de médiuns e especialistas para investigar o local.
E é aí que as peças começam a se montar.
O Orfanato é um misto de drama e suspense, pendendo mais
para o drama, dirigido por J.A. Bayona (de O Impossível) e produzido pelo
onipresente Guillermo del Toro. Dos filmes que del Toro produziu nos últimos
anos (sem dirigir) Orfanato é sem sombra de dúvida o mais competente, o mais
fantástico de todos.
Isso se deve ao fato de que ele não apela para o horror
extremo, não apela para o susto nem para o medo. Faz uso desses elementos por
conta do sobrenatural que impregna a trama, mas não é esse o foco.
O foco é mesmo no drama, no desespero da mãe que perdeu
seu filho de uma forma inexplicável. E como o garoto não desaparece logo no
começo, Bayona tem tempo de sobra para trabalhar a relação entre os dois de
modo que, quando ele desapareça, o expectador torça para que ele e a mãe se
reencontrem
O elemento família é explorado de forma emocional e
intensa, não tanto exagerado quanto em seu trabalho mais recente, em todas
assuas nuances e desenvolvido de forma que o laço mãe e filho seja muito mais
forte que o laço marido e mulher ou até mesmo pai e filho.
E esse aspecto é muito bem utilizado quando o garoto some
e a mãe dá início a uma busca frenética e desesperada, por vezes irracional,
enquanto o pai, depois de certo tempo, aceita a perda e decide seguir em
frente, deixar partir.
Por sorte o filme não foca num conflito demorado entre os
dois, não se prende por muito tempo a isso, parte logo para questões mais
profundas.
Assim como em O Impossível, o ponto mais forte de O
Orfanato é seu elenco.
Belén Rueda é uma atriz maravilhosa, você realmente
acredita que ela seja a mãe de Simón, realmente se importa com o sofrimento
dela, quer que ela reencontre o filho, torce por um final feliz. O personagem
de Fernando Cayo, o pai, também convence, mas não há muito nele a ser
explorado, ele é um tanto deixado de lado, quase que um recurso de roteiro.
Por outro lado o filho dos dois, interpretado por Roger
Princép, entrega uma atuação concisa e sólida, o garoto é expressivo pra
caramba e Bayona faz uso disso o máximo que pode.
O final de O Orfanato é aterrador, ainda que “feliz”. É
quando o quebra cabeças se monta, todas as peças em seu devido lugar, você se
afasta e vê o desenho que ele forma, a história por trás da história. Sério, o
filme perde um pouco da emoção no segundo ato, mas quando chega no final ela
volta com tudo, quando as cortinas se fecham tá desidratado, não tem como não
se emocionar com o final.
Bayona é um manipulador de marca maior, faz o que pode
pra partir a alma do expectador, chega a ser baixo! E isso é fantástico.
-Dia 172. Felipe Pereira 168
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