Dir: Juan Carlos Fresnadillo
Elenco: Robert Carlyle, Rose Byrne, Jeremy Renner
Eu não acho que Extermínio seja um filme supervalorizado,
apesar de não gostar nada dele, sei reconhecer seu valor para a cultura zumbi.
Ele, apesar de tudo, agrega bastante coisa, adiciona novidade, dá uma
revitalizada no gênero, dá uma nova vida aos mortos vivos. Mas eu detesto
Extermínio.
Por outro lado, Extermínio 2 eu acho uma obra prima
do caos e da destruição, uma manifestação cinematográfica da Lei de Murphy
aplicada aos mortos vivos. Quando tudo o que houver de dar errado der errado,
os mortos vivos estarão lá pra piorar a situação.
28 Weeks Later começa ainda antes do (ridículo) final de
Extermínio: um casal se abrigou na casa de um casal de idosos enquanto o
apocalipse zumbi acontece lá fora. Tudo corre bem, dentro da medida do
possível, mas eles já estão quase sem suprimentos, já não possuem mais energia
elétrica, wi fi então, nem se fala... E eles estão vivendo dessa forma: os
idosos, o casal e mais dois ou três sobreviventes. Os filhos do casal estão
desaparecidos desde antes do apocalipse começar, quando haviam ido em um
acampamento/colônia de férias, algo do gênero. Porém essa paz turbulenta e
frágil que se instaurou naquele pequeno grupo é quebrada quando um garoto surge
à porta da casa onde eles tem se escondido. Faminto e assustado o menino conta
que seus pais haviam sido infectados e agora queriam mata-lo. E que eles não
estavam sozinhos: haviam muitos outros mortos junto deles. É quando se inicia a
insanidade, a casa é colocada abaixo por um grupo de zumbis famintos e ensandecidos
que mata todo mundo, exceto o cara. O sujeito que, para sobreviver, toma a
decisão mais dura e covarde da sua vida: abandona a própria esposa e o garoto
que eles haviam abrigado à própria sorte e, obviamente, os dois são atacados
pela horda de mortos vivos enquanto o cara dispara desesperado em direção a um
barco estrategicamente posicionado para uma fuga de emergência. Deixando para
trás de si uma trilha de corpos, entre eles o da própria esposa que gritava e
implorava por socorro enquanto tudo o que ele conseguiu fazer foi fugir.
Essa cena é alucinante de uma forma que Extermínio não
consegue ser e dá uma ideia da vibe que Extermínio 2 vai seguir. Chega de
cavalos correndo no pasto, chega de feel good moments, chega de cenas fofinhas
em supermercados, aqui as coisas vão bem além do cineminha indie de baixo
orçamento.
De um filme para outro o nível deu uma elevada
inacreditável, tanto de roteiro quanto de direção (Adios, Danny Boyle, quem
assume a batuta aqui é o espanhol Juan Carlos Fresnadillo). Ou seja, produção
multinacional: zumbis ingleses, exército americano e sangue latino!
Depois dessa espetacular cena de abertura acompanhamos um
timelapse explicando o que se passou após o infame final de 28 Days Later,
explicando o processo de reconstrução pelo qual passou a Inglaterra, com ajuda
do governo americano. Os sobreviventes foram reunidos num complexo chamado
Distrito Um, uma pequena cidade reconstruída das cinzas e do sangue derramado.
Um oásis da persistência humana diante de uma adversidade inimaginável: luz
elétrica, água encanada, internet, TV... Em 28 semanas os britânicos fizeram o
que os brasileiros levariam 28 anos para fazer caso sobrevivessem à infecção. Nesse
momento conhecemos os dois protagonistas da história: Tammy (Imogen Poots) e
Andy (Mackintosh Muggleton), os filhos do cara do começo do filme, do cara que
largou a própria mulher para morrer. Aparentemente Londres está habitável
novamente e lá eles reencontram o pai que conta a eles como sua mãe foi morta.
Superar, seguir em diante, a vida segue no Distrito Um
até o dia em que os dois irmãos decidem fazer algo realmente estúpido: eles
saem do perímetro seguro para ver como a cidade ficou após o apocalipse... E
reencontram sua mãe.
É tudo muito conveniente, admito, o roteiro é permeado
dessas coincidências absurdas, mas acreditem se quiser, elas são necessárias
para fazer a trama fluir.
E o pior, a velha não morreu, mas foi mordida e
infectada. Ela é resgatada, levada para o Distrito onde é mantida em quarentena
para ser estudada, afinal ela pode ser a cura para uma eventual segunda onda de
infecção. Seu marido, arrependido do ato covarde que cometeu, ao visita-la não
consegue se conter e a beija.
E é ai que recomeça toda a zona desgraçada que quase vitimou
a terra da rainha 28 semanas atrás... O cara fica instantaneamente alucinado,
perde o controle, se torna um daqueles que deveriam ter sido exterminados...
Ele se torna um morto vivo. E esse é o segundo tomo do vírus zumbi, ainda mais
violento, ainda mais mortal e contagiante. Principalmente por que juntaram
todos os sobreviventes num lugar minúsculo onde eles supostamente estariam
seguros e livres da infecção.
E é aqui que E² se diferencia de seu antecessor! Por que
nós finalmente vemos como se inicia a tal infecção e isso é de causar pânico!
Todas aquelas pessoas espremidas num pátio apertado tentando salvara as
próprias vidas enquanto uma a uma elas iam perdendo suas humanidades, se
tornando seres monstruosos e irracionais, contaminando uns aos outros numa
velocidade recorde, com uma violência inacreditável e, para piorar, a força
armada é orientada a matar qualquer um que caminhe naquele lugar, esteja essa
pessoa viva ou morta viva...
E os caras iniciam um massacre civil, tanto de infectados
quanto de pessoas saudáveis e, mais uma vez, as pessoas que deveriam estar
seguras são postas numa situação da qual não podem escapar.
Um desses soldados, Doyle (Jeremy Renner, before it was
cool) simplesmente não consegue lidar com isso e abandona seu posto com o
intuito de salvar algumas vidas. E é quando ele cruza o caminho dos irmãos,
junto de Scarlet (Rose Byrne), uma médica que trabalhava no complexo.
E eles precisam dar tudo de si para escapar daquele
inferno que se formou bem diante de seus olhos...
Extermínio 2 é desesperador! É corajoso (um tanto cara de
pau) e desesperador! Tão analógico quanto seu capítulo anterior, bem menos
realista e depressivo que este, ele apela para a ação frenética e para
interações não tão trabalhadas (apesar de não serem superficiais), porém muito
mais convincentes entre seus protagonistas e mais fluido e descompromissado que
o filme de Danny Boyle.
É mais extremo! Enquanto que na primeira onda a
humanidade (a humanidade britânica) foi pega completamente desprevenida, nesse
segundo ataque medidas preventivas haviam sido tomadas. Medidas preventivas destrutivas,
como bombas capazes de devastar quarteirões que são jogadas no Distrito Um sem
a menor cerimônia. Se aquilo acabaria com o que restou da população britânica
no mundo, que seja!
O que se vê em E² é um exercício de falta de sorte inacreditável!
Tudo o que pode dar errado dá errado ao mesmo tempo de um jeito irremediável. Não
há tempo para deixar a nova infecção se espalhar, então tudo o que resta fazer
é queimar tudo!
E é exatamente isso o que acontece! Enquanto 28 Days
tinha um compromisso e uma mensagem ambiental e humanitária que embalava o
filme inteiro, o que acontece em 28 Weeks é que isso é deixado de lado em nome
da ação e da história. Não há apego à moral da história, há apenas uma
necessidade implacável de sobreviver, apenas um sentido de urgência desesperado
e desiludido que sabe, mas não aceita, que as coisas não vão mais voltar a ser
as mesmas e que daqui em diante só vai ser muito pior.
A produção não ignora seu capítulo anterior, pelo
contrário, pega e repete o que há de melhor nele. Há ideias muito boas ali,
todas subaproveitadas e mal colocadas. E² as aproveita e recicla de modo que
elas façam sentido.
Perfeito? Não, nem de longe, há momentos realmente
patéticos no filme, de um exagero inacreditável (a cena do helicóptero é
ridícula...), mas o conjunto da obra é um sucesso!
Pra mim só há Extermínio 2.
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