Dia 152 - Felipe Pereira 148
Eternal Sunshine of the Spotless Mind - 2004
Dir: Michel Gondry
Elenco: Jim Carrey, Kate Winslet, Elijah Wood, Kirsten Dunst, Mark Ruffalo e
Tom Wilkinson.
"How happy is the blameless vestal's lot!
The world forgetting, by the world forgot.
Eternal sunshine of the spotless mind!
Each pray'r accepted, and each wish resign'd"
The world forgetting, by the world forgot.
Eternal sunshine of the spotless mind!
Each pray'r accepted, and each wish resign'd"
(Alexander Pope)
Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças conta a história de um sujeito meio antissocial, Joel (Jim Carrey) conhece
uma mulher completamente maluca, Clementine (Kate Winslet) em uma viagem à
praia que faz com dois amigos. Os dois saem, passam um tempo juntos e acabam
namorando por um tempo até que o relacionamento começa a se tornar um incômodo,
os dois passam a brigar o tempo todo, tem uma discussão mais grave e vai cada
um para seu canto.
No dia seguinte ele vai até ela e ela simplesmente parece
não saber quem ele é e, pior, já está com outro cara, muito mais novo. Ele
tenta contato, mas ela o ignora, muda de número de telefone, passa a fugir
dele.
É quando ele faz a descoberta que muda tudo.
Lacuna é uma empresa que promete livrar o cliente dos
momentos angustiantes da vida, momentos dos quais alguém gostaria de esquecer,
coisas, em geral, tristes e que trazem sofrimento. Na época em que o filme se
passa, a véspera do dia dos namorados americano (o valentine’s day) a clínica
da Lacuna fica cheia de gente querendo apagar relacionamentos mal sucedidos da
memória. Na verdade o dia dos namorados é para a Lacuna o que o natal é para as
Americanas.
A proposta da Lacuna é fazer uso de um procedimento
médico teoricamente seguro para mexer na área do cérebro responsável pelas
memórias, rastrear a origem e o início de uma memória específica e apaga-la de
uma vez por todas da cabeça da pessoa. É algo como a Rekall de O Vingador do
Futuro, mas ao contrário: ao invés de implantar memórias sintéticas, os caras
apagam memórias verdadeiras de modo a fazer parecer que elas nunca estiveram
lá. E ainda enviam cartões para as pessoas mais próximas do paciente para que
elas não toquem no assunto da memória apagada, só para não dar margem de erro
ao procedimento.
E é exatamente isso que Clementine faz. Ao chegar num
ponto do relacionamento em que não poderia se chegar a mais lugar nenhum, no
qual tudo o que restava era mágoa, dor e tédio, ela decide abrir mão de tudo e resetar
o próprio cérebro até um ponto em que Joel simplesmente não existisse em sua
vida.
E quando descobre isso o cara surta! Entra em desespero,
ele amava a mulher e não sabia o que tinha feito de errado para que ela tomasse
uma decisão tão agressiva. Ele decide fazer igual. Contrata a Lacuna e decide
apagar Clementine de sua vida também.
O procedimento é simples (em termos), inclui recolher
todos os objetos que remetam à memória a ser apagada para que se possa fazer um
mapa neural de onde começa e onde termina a memória em questão. Após isso se
faz um teste de associação a objeto, o sujeito com um monte de fios e eletrodos
na cabeça, observa fotos e objetos pessoais que remetam ao período em questão
enquanto um “profissional” observa as áreas do cérebro que sofrem alteração
quando o paciente vê o objeto. Tudo é catalogado e mapeado e, uma noite, uma
equipe de profissionais treinados e capacitados vai até a caso do paciente e
executa o processo de apagar suas memórias dolorosas: enquanto a pessoa dorme
um computador ataca o cérebro da pessoa destruindo os “arquivos” a serem excluídos
definitivamente.
Essa equipe é formada pelos experientes Patrick (Elijah
Wood) e Stan (Mark “JJ Abrams” Ruffalo), os dois vão até a casa de Joel, que se
encontra pesadamente sedado, e iniciam a operação.
E tudo corre bem até o momento em que Joel, após reviver
alguns momentos com Clementine, momentos que ele próprio havia esquecido em
decorrência do mau momento: os bons momentos. E o cara percebe a estupidez que
estava fazendo apagando aquilo de si, percebe o quanto ele precisa daquilo,
daquelas memórias, e o quanto o que ele está fazendo é covarde e mesquinho.
E ele decide parar. Mas talvez já seja tarde demais, tudo
parece já estar encaminhado e ser inevitável. Então ele dá início a uma
verdadeira corrida contra o tempo com o objetivo de salvar Clementine do
procedimento. E ele vai fazer isso saltando em sonhos, de memória em memória, tentando
impedir que a moça seja tragada pela operação, impedir que todos aqueles
momentos sejam perdidos para sempre.
E o negócio é muito Inception, cara! Vale lembrar que o
filme é de 2004, Inception naquela altura não passava de uma ideia!
O bacana é que aqui os sonhos e as memórias de Joel, as
quais ele briga tão ferrenhamente para proteger, dentro de sua cabeça dopada e
confusa são um emaranhado de acontecimentos desconexos e situações abstratas:
prédios que desabam do nada, carros caindo do céu, casas que se tornam praias,
esquinas e portas que dão sempre no mesmo lugar, o sujeito esquece o tempo
inteiro que tá sonhando e, claro, um bando de malucos do lado de fora do mundo
tá dando choques na cabeça dele pra apagar o que tá acontecendo lá dentro.
O roteiro de Brilho Eterno é uma coisa genial: escrito
pelo semi esquizofrênico Charlie Kaufman (Quero Ser John Malkovich e Adaptação),
um cara no mínimo pirado. Dizem que a mente dos loucos funciona em outra
frequência, certo? A de Kaufman não funciona numa frequência terrestre. O cara
eleva a criatividade baseada em insanidade a outro nível. Ele deve pensar: “que
tipo de coisa ainda não foi contada no cinema? Ah, já sei, vamos colocar o John
Cussack trabalhando num prédio que tem uma porta que dá na cabeça do John Malkovich!”
Kaufaman é um sujeito e tanto, é capaz de causar uma descarga elétrica cerebral
de qualquer um, mas sem apelar para o lado David Linch da coisa, ele consegue
se manter compreensível mesmo com toda sua piração. E com o roteiro de Brilho
Eterno ele conseguiu uma coisa única: um roteiro tão não linear de um jeito que
simplesmente não existem furos nele e, mesmo que existissem, poderiam muito bem
ser apenas mais uma peculiaridade da história.
E o que falar do diretor, o francês Michel Gondry? Sujeito
consciente do material que tem em mãos, dá tudo de si e entrega uma das obras
mais fantásticas do cinema moderno! Um cara comedido dentro de sua insanidade
(que só sendo maluco pra adaptar tão bem um roteiro do Kaufman) em um trabalho
intimista e universal. Quem nunca sentiu vontade de apagar um amor que deu
errado que atire a primeira pedra!
Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças é um filme
belíssimo, parece que não acaba nunca tamanha a luta de seu protagonista por um
final, não feliz, confortável. Joel não quer reatar com Clementine (não depois
do que ela fez), ele tomou uma decisão estúpida num momento de raiva e se
arrependeu dela. Tudo o que ele quer é um pedaço da memória daquela mulher e
ele é capaz de, dentro daquele mundo que desaba a seu redor, fazer qualquer
coisa por essa memória.
Tudo isso finalizado ao som dessa canção:
-
E não se esqueça:
Curta nossa fanpage: https://www.facebook.com/01pordia
E siga-nos no twitter: https://twitter.com/The01PorDia
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Obrigado por comentar no 01Pd! Seja bem vindo e volte sempre!