Dia 149 - Felipe Pereira 143
Dark Skies - 2013Dir: Scott Stewart
Elenco: Keri Russell, Josh Hamilton, Dakota Goyo
"EXISTEM DUAS POSSIBILIDADES: OU ESTAMOS SÓS NO
UNIVERSO OU NÃO ESTAMOS.
AMBAS SÃO IGUALMENTE ATERRORIZANTES."
(ARTHUR C. CLARKE)
Dark Skies, que no Brasil foi pavorosamente batizado de
Os Escolhidos, é uma ótima surpresa. É um suspense dramático intenso e
realmente assustador. Acompanha a história de uma família, casal e dois filhos,
que passa a protagonizar eventos cada vez mais bizarros, cada vez mais indiscretos
e violentos. Começa com uma bagunça na cozinha, no meio da noite a mulher
acorda e encontra as portas abertas e a geladeira arrombada e todo seu conteúdo
espalhado pelo chão. Polícia, investigação breve, estaca zero. Depois disso o
casal decide colocar alarmes na casa e logo em seguida, em outra noite, todos
eles disparam ao mesmo tempo dando a entender que todas as entradas da casa
foram violadas ao mesmo tempo. E mais uma vez algo de estranho acontece à casa.
Dessa vez, ao invés de uma bagunça, seja lá o que tenha invadido a residência
da família Barret, deixou uma pilha de objetos extremamente organizada formando
desenhos luminosos no teto. A família fica aterrorizada (principalmente a
mulher, exageradíssima), voltam a procurar a polícia que levanta suspeitas de
que alguém de casa tenha feito aquilo. A suspeita recai sobre os filhos do
casal: sonambulismo, carência afetiva, pacote completo de clichês familiares.
Mas isso não dura muito, antes mesmo de o artista por
trás das obras se mostrar essas suspeitas são deixadas de lado.
Então eles se mostram, num lapso de milésimos de segundo,
um deles permite ser visto... E então se escancara o óbvio:
Antes mesmo disso ocorre uma série de eventos ainda mais
malucos: o cara perde acorda no meio da noite e vai pro jardim sem se dar
conta, a mulher perde o controle durante o trabalho e começa a dar cabeçadas
numa porta de vidro, pássaros se chocam contra a casa, o filho mais novo aparece
com marcas estranhas no corpo, o mais velho tem uma convulsão do nada (acho que
também tenho sido visitado por aliens quanto a isso)... E o casal não
compreende, não aceita aquilo, busca explicações racionais para aquela
maluquice toda, mas apenas uma pessoa é capaz de oferecer respostas concretas àquela família:
Dark Skies é dos mesmos produtores de Atividade
Paranormal e Sobrenatural (Insidious) e tem uma estrutura semelhante a esses
dois. Falo de roteiro, não daquela estética de câmera na mão do primeiro. Há os
mesmos elementos dos dois mencionados aqui, algo que, apesar de muito sutil, tem
se tornado comum ultimamente, repetitivo até. Qualquer um que tenha visto os
dois anteriores vai perceber essas semelhanças e identifica-las, por que eu não
vou lista-las aqui... Sinto muito, vá e veja o filme.
É uma fórmula repetida, porém funcional (mesmo que eu
ache Atividade Paranormal um lixo e que Insidious e Dark Skies adicionem a essa
fórmula um roteiro, coisa que seu predecessor não tem). O que se faz aqui é
basicamente trocar uma ameaça por outra teoricamente pior.
Até o elemento de inevitabilidade está presente, o que
causa uma tensão constante, mas causa também uma previsibilidade irritante.
Uma coisa bacana é o ritmo do filme, lento, arrastado,
uma trilha sonora monótona, sem acontecimentos mirabolantes, dão um realismo e
um sentido de urgência que a ação frenética de filmes do gênero constante mente
falham em construir.
Porém, porém, sempre há um porém... Os atores não são
muito bons, o que tira o charme da coisa, tira o brilho de tudo. Não são atores
terrivelmente ruins, mas são atores não muito bons atuando não muito bem, todos
ao mesmo tempo. O filho mais novo do casal causa angústia de tão não muito bem
que ele atua, dá vontade de bater nele quando ele fala que tá com medo, mas não
expressa isso muito bem. O filho mais velho do casal, interpretado por Dakota
Goyo (o filho do Hugh Jackman em Gigantes de Aço) até se esforça, entrega algo
de competente, mas não tem lá grandes oportunidades e JK Simosn que faz uma
participação pequena e dá seu showzinho particular pra cima daqueles atores não
lá muito bons...
O diretor Scott Stewart (o mesmo de Legião e Padre, os
dois filmes que sepultaram a carreira do coitado do Paul Bettany) tem uma vibe
mais contemplativa, gosta de desenvolver bem as situações, não gosta de mostrar
demais, mas sabe dar as pistas certas para manter o expectador interessado,
manter a adrenalina não no máximo, mas no ponto certo, naquele ponto exato do “vai
dar merda, vai dar merda”. A sensação é essa o tempo todo.
Até o final, com o já esperado plot twis que só maximiza
aquela sensação de inevitabilidade já mencionada...
Dark Skies vale bastante a uma hora e meia perdida, não é
algo espetacular, mas é um suspense de qualidade com doses cavalares de tensão e
um ou outro momento de vergonha alheia. Dá uma podada nos espetáculos visuais desmiolados
do diretor e oferece a este mesmo um rumo novo na carreira. Que se desenvolva
nesse e deixe o pobre do Paul Bettany em paz.
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