segunda-feira, abril 01, 2013

We Need To Talk About Kevin (Br: Precisamos Falar Sobre O Kevin), por Janiê Maia Saintclair

Dia 91Janiê Maia Saintclair
Just because you're used to something doesn't mean you like it.”  (Só porque você está acostumado a alguma coisa não significa que você gosta dela) - Kevin diz a sua mãe Eva.

Sinistro, forte, angustiante e perturbador! Que filme espetacular, de uma sublime agonia, que nos deixa
absortos com a falta de sentimentos do protagonista. We Need To Talk About Kevin (Precisamos Falar Sobre o Kevin) é um filme anglo-americano lançado em 2011, dirigido pela talentosíssima Lynne Ramsay e estrelado por nada menos que Tilda Swinton, John C. Reilly e Ezra Miller. A produção é baseada no livro Temos de Falar Sobre o Kevin de Lionel Shriver.
Começar uma crítica com tais adjetivos a um filme é um tanto inesperado, no entanto, é o que sou obrigada a escrever. Essas são as primeiras impressões que você tem assim que coloca os olhos na película, perturbadoramente fantástica! Não é exagero, é um logo sincero, totalmente verdadeiro, sem anedotas. Um filme tão complexo quanto o livro. O romance de Lionel Shriver, no qual o longa foi baseado, foi colocado nas listas dos livros impossíveis para adaptação ao cinema. Mas, neste caminho tortuoso surge à bela, talentosa, genial Lynne Ramsay (não muito conhecida do grande público), mostra o porquê de Cannes a admirar e a premiar cada vez que dirige um novo espetáculo. Em seu currículo cinematográfico consta apenas 6 filmes, mas destes projetos ganhou mais de 20 prêmios e 11 indicações (várias premiações de Cannes).
E Ramsay usa toda a sua genialidade para enfocar um problema social tão evidente nos dias atuais, mas que mesmo assim ainda causa certo temor ao tocarmos no assunto. Problema esse que é comum nos EUA; creio que todos até já fazem ideia do que estou falando, a sociopatia ou psicopatia é um problema comum aos americanos. Massacres na escola, como os de Columbine, são muito comuns por lá.
E é destas fatalidades que a diretora Lynne Ramsay expõe na tela, sem parecer forçada ou depreciativa, sem cair nas garras dos thrillers de terror, cheios de sangue, e história clichês. Ao contrário We Need To Talk About Kevin é um filme de uma
beleza suprema, é um drama e suspense que nos faz refletir. A frase (só porque você está acostumado a alguma coisa não significa que você gosta dela) que serve como epígrafe desta crítica, resume todo o transtorno psicológico dos personagens principais da história: Kevin (Ezra Miller) e sua mãe Eva (Tilda Swinton).
A história do filme se passa no acompanhamento da vida de Eva Katchadourian (Tilda Swinton), uma mulher de classe média alta; uma bem sucedida escritora de livros turísticos que tenta retomar o caminho certo de sua vida após a uma hedionda tragédia familiar. O filme mostra os flashbacks de Eva, abandonada, humilhada e desprezada pela sociedade que a culpa pela tragédia que arruinou não só sua vida como a de outras famílias. Que tragédia é essa? Vocês já podem imaginar, mas a assistir no filme é que dá um sentido mais sinistro. Eva lembra sua vida desde o momento que conheceu o marido Franklin (John C. Reilly), até o terrível acontecimento. O tempo passa, ela e Franklin se apaixonam, essa paixão tem como cenário a Espanha, durante a tradicional guerra de tomates espanhola. E é desta guerra de tomates que a cor vermelha (tão bem colocada na fotografia da película) inunda a tela e banha nossos olhos. O vermelho, a cor do sangue, o que dá vida ou a extirpa, é o ponto chave para as diferentes tomadas temporais de Eva. É o vermelho que marca a transição de tempo, passado e presente. Nunca o futuro!!! A cor está ambientada no filme todo! Sublime, genial. Um casamento feliz, tranquilo, era para ser exemplo de contos de fadas até o momento em que nossa Eva engravida como algo não planejado. Gravidez rejeitada, mas depois ela aceita, um fardo a seu ver! O Lindo baby nasce, chora muito, e o som deste choro, a faz quase não suportá-lo. O tempo passa, Kevin vai crescendo e ela nota sinais de que seu filho não gosta dela. Ele não sente amor pela mãe desde criança, e isso é mostrado de forma bastante complexa pelos atores mirins (os pirralhos dão medo na gente). Eva tenta de toda forma se aproximar do filho, mas ele não responde aos seus chamados, carinhos, gestos. Ao contrário, Kevin, como o filme mostra, parece ter nascido diferente, sem sentimentos ou remorsos, maltrata a mãe, finge amor pelo pai, pela sua irmãzinha (que maldades ele faz com ela). Franklin é um pai negligente, tudo defende o filho, mesmo quando sua esposa tenta demonstrar para ele que o filho é diferente. Daqui você já pode pensar: é um psicopata! Sim, de fato é! Afinal, Kevin é uma criança cruel e agressiva, nutre uma hostilidade sem explicação pela mãe. Com isso, Eva se torna uma mulher amarga, tomada pelo terror, pelo simples fato de que, no fundo do seu instinto materno, ela sabe que seu filho sofre de um transtorno de personalidade. E que nada pode fazer, pois seu filho se máscara através de carinhos e rebeldia, características da adolescência. Quando se torna adolescente, é que a maldade de Kevin chega ao ápice, e sua cobaia de treinamento para o mal é sua irmã mais nova! A grandiosidade de We Need To Talk About Kevin está na sua direção (Lynne Ramsay) e elenco tão bem escalados.
John C. Reilly é um ator de cinema, teatro e televisão estado-unidense, está ótimo no papel de pai apático, que nada vê ou finge que não vê as atrocidades do filho homicida. O pai que presenteia o filho no natal com um arco e flecha profissionais (Kevin é um arqueiro!). Uma metáfora para a figura da justiça, sempre presente, mas cega no tocante ao íntimo, quando esta lhe dá arma.
Ezra Miller, é um ator e músico americano, posso arriscar que é uma grande promessa! O cara tem talento! Interpreta o Kevin adolescente, tem atuações impressionantes. O olhar de psicopata que ele faz, dá arrepios, cheio de cinismo! 
Ou seja, Ezra interpreta assustadoramente um psicopata, daquelas atuações dignas de prêmios para atores revelações.
Tilda Swinton (a adoro) e está no meu Top 10 Atrizes! A premiada atriz britânica (ganhou um Oscar pela sua atuação no filme Michael Clayton). Está assustadoramente perfeita na personagem (atuação digna de um Oscar), ela demonstra toda a indignação de uma mãe que nada pode fazer pelo filho homicida, o sofrimento que ela passa só no olhar é de dá pena! É excruciante vê-la incorporar uma mulher sem expectativas, em estado vegetal, ou seja, não vive apenas sobrevive. A mudança de carga emocional que expõe na personagem Eva é dramática, uma hora feliz e tranquila, outra aterrorizada, amarga e sem expectativas. Por essa atuação, Tilda foi indicada a um Globo de Ouro, não ganhou! Injustiça. Sem dúvida alguma ela é a estrela deste filme, a sua beleza andrógina é que dá brilho e vida num ambiente onde o terror é uniforme.
We Need To Talk About Kevin é um grande filme, é uma história real! É real porque existem milhares de Kevins, que estão esperando o ‘contexto’ certo para disparar toda a fúria existente neles. É real porque nos faz questionar sobre nossas vidas, nossos filhos, família. O drama de Eva é o drama de muitas mães que se veem protagonista de um filme de terror. Quem vai acreditar que tem um psicopata em casa? Pois é, esta é uma das perguntas que o filme nos faz refletir.
Afinal nascemos psicopatas ou não? Em minha opinião, é uma condição patológica, se nasce sociopata, o ambiente é que dá as ferramentas para expor esta personalidade. Eva tenta a todo instante falar sobre Kevin para o marido ou para alguém. Mas quando todos querem ouvi-la já é tarde.
Histórias como estas são um banho para imprensa sensacionalista, e isto é retratado no filme. E o próprio Kevin confirma quando diz uma celebre afirmativa: será mesmo que as pessoas não gostam de ouvir esse tipo de coisa? As pessoas assistem a TV, para verem pessoas como eu!
Byeee! Bjussss! Até a próxima!
Janiê Maia Saintclair


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