Dia 91 - Janiê Maia Saintclair
“Just because you're used to
something doesn't mean you like it.” (Só porque você está acostumado a alguma coisa não
significa que você gosta dela) - Kevin diz a sua mãe Eva.
Sinistro, forte, angustiante e perturbador! Que filme espetacular, de uma sublime agonia, que nos deixa
absortos com a falta de sentimentos do protagonista. We Need To Talk About Kevin (Precisamos Falar Sobre o Kevin) é um filme anglo-americano lançado em 2011, dirigido pela talentosíssima Lynne Ramsay e estrelado por nada menos que Tilda Swinton, John C. Reilly e Ezra Miller. A produção é baseada no livro Temos de Falar Sobre o Kevin de Lionel Shriver.
E Ramsay usa toda a sua genialidade para
enfocar um problema social tão evidente nos dias atuais, mas que mesmo assim
ainda causa certo temor ao tocarmos no assunto. Problema esse que é comum nos EUA; creio que todos até já fazem ideia
do que estou falando, a sociopatia ou
psicopatia é um problema comum aos americanos. Massacres na escola, como os
de Columbine, são muito comuns por lá.
E
é destas fatalidades que a diretora Lynne
Ramsay expõe na tela, sem parecer forçada ou depreciativa, sem cair nas
garras dos thrillers de terror, cheios de sangue, e história clichês. Ao
contrário We Need To Talk About Kevin é um filme de
uma
beleza suprema, é um drama e suspense que nos faz refletir. A frase (só porque você
está acostumado a alguma coisa não significa que você gosta dela) que serve como epígrafe desta crítica, resume todo o
transtorno psicológico dos personagens principais da história: Kevin (Ezra Miller) e sua mãe Eva
(Tilda Swinton).
A história do filme se passa no acompanhamento da vida de Eva Katchadourian (Tilda Swinton), uma
mulher de classe média alta; uma bem sucedida escritora de livros turísticos
que tenta retomar o caminho certo de sua vida após a uma hedionda tragédia
familiar. O filme mostra os flashbacks de Eva, abandonada, humilhada e desprezada pela sociedade que a culpa
pela tragédia que arruinou não só sua vida como a de outras famílias. Que
tragédia é essa? Vocês já podem imaginar, mas a assistir no filme é que dá um sentido
mais sinistro. Eva lembra sua vida desde o momento que conheceu o marido Franklin (John C. Reilly), até o terrível acontecimento. O tempo passa, ela e Franklin
se apaixonam, essa paixão tem como cenário a Espanha, durante a tradicional
guerra de tomates espanhola. E é desta guerra de tomates que a cor vermelha
(tão bem colocada na fotografia da película) inunda a tela e banha nossos
olhos.
O
vermelho, a cor do sangue, o que dá vida ou a extirpa, é o ponto chave para as
diferentes tomadas temporais de Eva. É
o vermelho que marca a transição de tempo, passado e presente. Nunca o
futuro!!! A cor está ambientada no filme todo! Sublime, genial. Um casamento
feliz, tranquilo, era para ser exemplo de contos de fadas até o momento em que
nossa Eva engravida como algo não
planejado. Gravidez rejeitada, mas depois ela aceita, um fardo a seu ver! O
Lindo baby nasce, chora muito, e o som deste choro, a faz quase não suportá-lo.
O tempo passa, Kevin vai crescendo e
ela nota sinais de que seu filho não gosta dela. Ele não sente amor pela mãe
desde criança, e isso é mostrado de forma bastante complexa pelos atores mirins
(os pirralhos dão medo na gente). Eva tenta
de toda forma se aproximar do filho, mas ele não responde aos seus chamados,
carinhos, gestos. Ao contrário, Kevin,
como o filme mostra, parece ter nascido diferente, sem sentimentos ou remorsos,
maltrata a mãe, finge amor pelo pai, pela sua irmãzinha (que maldades ele faz
com ela). Franklin é um pai
negligente, tudo defende o filho, mesmo quando sua esposa tenta demonstrar para
ele que o filho é diferente. Daqui você já pode pensar: é um psicopata! Sim, de fato é! Afinal, Kevin é uma criança cruel e agressiva,
nutre uma hostilidade sem explicação pela mãe. Com isso, Eva se torna uma mulher amarga, tomada pelo terror, pelo simples
fato de que, no fundo do seu instinto materno, ela sabe que seu filho sofre de
um transtorno de personalidade. E que nada pode fazer, pois seu filho se
máscara através de carinhos e rebeldia, características da adolescência. Quando
se torna adolescente, é que a maldade de Kevin
chega ao ápice, e sua cobaia de treinamento para o mal é sua irmã mais
nova! A grandiosidade de
We
Need To Talk About Kevin está
na sua direção (Lynne Ramsay) e elenco tão
bem escalados.
John C. Reilly é um ator de
cinema, teatro e televisão estado-unidense, está ótimo
no papel de pai apático, que nada vê ou finge que não vê as atrocidades do
filho homicida. O pai que presenteia o filho no natal com um arco e flecha
profissionais (Kevin é um
arqueiro!). Uma metáfora para a figura da justiça, sempre presente, mas cega no
tocante ao íntimo, quando esta lhe dá arma.
Ezra Miller, é um ator e músico americano, posso
arriscar que é uma grande promessa! O cara tem talento! Interpreta o Kevin adolescente, tem atuações
impressionantes. O olhar de psicopata que ele faz, dá arrepios, cheio de
cinismo!
Ou seja, Ezra interpreta
assustadoramente um psicopata, daquelas atuações dignas de prêmios para atores
revelações.
We Need To Talk About Kevin é um grande filme, é uma
história real! É real porque existem milhares de Kevins, que estão esperando o ‘contexto’ certo para disparar toda a
fúria existente neles. É real porque nos faz questionar sobre nossas vidas,
nossos filhos, família. O drama de Eva é
o drama de muitas mães que se veem protagonista de um filme de terror. Quem vai acreditar que tem um psicopata em
casa? Pois é, esta é uma das perguntas que o filme nos faz refletir.
Afinal nascemos psicopatas ou não? Em minha opinião, é uma
condição patológica, se nasce sociopata, o ambiente é que dá as ferramentas
para expor esta personalidade. Eva
tenta a todo instante falar sobre Kevin
para o marido ou para alguém. Mas quando todos querem ouvi-la já é tarde.
Histórias como estas são um banho para imprensa sensacionalista, e
isto é retratado no filme. E o próprio Kevin
confirma quando diz uma celebre afirmativa: será mesmo que as pessoas não gostam de ouvir esse tipo de coisa? As
pessoas assistem a TV, para verem pessoas como eu!
Byeee! Bjussss! Até a próxima!
Janiê Maia Saintclair
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