Quando se trata de dramaturgia, tudo precisa ser sempre sobre
antagonismo. Algo precisa sempre existir contra outro algo. É necessário haver
choque, ou não existe uma história.
SPARTACUS voltou. A segunda temporada de Spartacus tinha uma
missão: superar a falta do astro falecido. E tinha um desafio: acabar com
nossas referências de antagonismo. E sim, acabaram com todas elas. O roteiro se
deu ao luxo de eliminar os maiores inimigos pessoais do herói, porque
obviamente, a luta de Spartacus precisaria ser política e social e não poderia
haver espaço para vinganças mesquinhas e pessoais. Seus inimigos, que se
espalharam numa poça de sangue, convergiram nessa eliminação. E nesse processo,
Spartacus encontrou o novo sentido de sua vida: LUTAR CONTRA ROMA.
O trácio não seria o primeiro homem a lutar contra um modo de
vida, mas esse não é o tipo de luta que se encaixa muito bem no formato seriado
da televisão. O cinema se dá melhor com cruzadas sociais… Vimos a jornada de um
homem para vingar-se de seus algozes, e para continuar daqui, era necessário
que Spartacus tivesse mais do que um inimigo abstrato. Ele precisava de um
rival, e por conta disso, Crassus ganhou o palco do antagonismo.
Partimos do pressuposto de que o maior rival é aquele que se
assemelha a você, por isso, a estreia de WAR OF THE DAMNED (titulo do episodio
de estreia) foi muito esperta, se esforçando para aproximar Crassus de um
sentimento de compreensão acerca da inferioridade. Como não se render a tamanha
prova de inteligência dramatúrgica? Ao mesmo tempo, vimos a honra de uma luta
pela liberdade perder força por conta de um líder alienado das necessidades de
seus seguidores, e vimos um perseguidor ser escolhido para ser o operário da
guerra.
A morte de Cossinius e Furios é emblemática: Roma perdeu a
cabeça. Quanto mais o exército do escravo cresce, mas a segurança do poder
diminui. Essa revolta é preocupante, porque ela reflete o aparente descontrole
do império diante de quem o sustenta. Porém, as estratégias falham, e seria
oportuno que o império fosse atrás de apoios mais escusos. Desde o início dos
tempos que os emergentes conseguem lugares na alta sociedade através do
dinheiro, e no fundo, é isso que Crassus quer. Ainda que isso represente lutar
contra uma classe que ele, secretamente, respeita.
Para que ficasse muito claro pra nós, o roteiro providenciou
uma forma conceitual de inserir o novo antagonista personificado de Spartacus.
Roma é o inimigo principal, mas ela tem seu símbolo direto. Spartacus lutará
contra um homem que não só tem um escravo como mentor de batalhas, mas que
também o respeita e admira. Dessa forma, os dois se aproximam de imediato, o
que tornará essa rivalidade ainda mais rica. Mesmo os coadjuvantes que os
cercam também compartilham de similaridades. Ainda que o hedonismo de Gannicus
não seja nocivo para o grupo, não deixa de haver uma alienação circunstancial,
assim como há na personalidade do filho de Crassus.
Do outro lado da história temos Crixus, ainda preso ao
relacionamento com Naevia, que por mais bonito e romantico que pareça, impede o
personagem de crescer através de outras camadas. Parece que os roteiristas
insistem em nos fazer torcer pelo casal, enquanto a troca da atriz não
funcionou pra nós. A temporada passada foi de luta contra esse sentimento, e que
piorou quando Naevia ganhou o privilégio de eliminar Ashur. O papel de Crixus
na trama precisa ser consolidado, ou ele passará mais dez episódios submissos à
apatia.
Já o relacionamento entre Agron e Nassir continua com aquele
clima de “corda no pescoço” que já tinha anteriormente. Somos fãs do casal, mas
parece que o tempo todo há uma ameaça invisível contra ele. Dessa vez, o
sucesso de Nassir como guerreiro pode acabar pondo fim ao romance, o que será
uma pena para a faixa homoerótica da audiência. Esse aspecto sexual da época
não é só interessante, como irônico para os tempos de hoje. Homossexualidade
não é sinal de fraqueza e os homens dos mais heterossexuais da história, um dia
foram capazes de compreender o desejo melhor do que nós.
Foi uma boa estreia… nos deram boas cenas de ação e choque
(as tripas do cavalo) e nos disseram que precisamos nos preparar. Todo mundo
sabe como essa história termina, e não é do jeito mais feliz. Spartacus e seu
novo antagonista tiveram seu destino traçado antes de virarem ficção, e por
mais que a ficção use de liberdade poética, não se pode negar a história
completamente. Essa será uma temporada difícil para todos nós… E que venha,
então.
Por Assis Oliveira.
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