sábado, abril 06, 2013

Spartacus - War Of The Damned, por Assis Oliveira



Quando se trata de dramaturgia, tudo precisa ser sempre sobre antagonismo. Algo precisa sempre existir contra outro algo. É necessário haver choque, ou não existe uma história.
SPARTACUS voltou. A segunda temporada de Spartacus tinha uma missão: superar a falta do astro falecido. E tinha um desafio: acabar com nossas referências de antagonismo. E sim, acabaram com todas elas. O roteiro se deu ao luxo de eliminar os maiores inimigos pessoais do herói, porque obviamente, a luta de Spartacus precisaria ser política e social e não poderia haver espaço para vinganças mesquinhas e pessoais. Seus inimigos, que se espalharam numa poça de sangue, convergiram nessa eliminação. E nesse processo, Spartacus encontrou o novo sentido de sua vida: LUTAR CONTRA ROMA.
O trácio não seria o primeiro homem a lutar contra um modo de vida, mas esse não é o tipo de luta que se encaixa muito bem no formato seriado da televisão. O cinema se dá melhor com cruzadas sociais… Vimos a jornada de um homem para vingar-se de seus algozes, e para continuar daqui, era necessário que Spartacus tivesse mais do que um inimigo abstrato. Ele precisava de um rival, e por conta disso, Crassus ganhou o palco do antagonismo.
Partimos do pressuposto de que o maior rival é aquele que se assemelha a você, por isso, a estreia de WAR OF THE DAMNED (titulo do episodio de estreia) foi muito esperta, se esforçando para aproximar Crassus de um sentimento de compreensão acerca da inferioridade. Como não se render a tamanha prova de inteligência dramatúrgica? Ao mesmo tempo, vimos a honra de uma luta pela liberdade perder força por conta de um líder alienado das necessidades de seus seguidores, e vimos um perseguidor ser escolhido para ser o operário da guerra.
A morte de Cossinius e Furios é emblemática: Roma perdeu a cabeça. Quanto mais o exército do escravo cresce, mas a segurança do poder diminui. Essa revolta é preocupante, porque ela reflete o aparente descontrole do império diante de quem o sustenta. Porém, as estratégias falham, e seria oportuno que o império fosse atrás de apoios mais escusos. Desde o início dos tempos que os emergentes conseguem lugares na alta sociedade através do dinheiro, e no fundo, é isso que Crassus quer. Ainda que isso represente lutar contra uma classe que ele, secretamente, respeita.
Para que ficasse muito claro pra nós, o roteiro providenciou uma forma conceitual de inserir o novo antagonista personificado de Spartacus. Roma é o inimigo principal, mas ela tem seu símbolo direto. Spartacus lutará contra um homem que não só tem um escravo como mentor de batalhas, mas que também o respeita e admira. Dessa forma, os dois se aproximam de imediato, o que tornará essa rivalidade ainda mais rica. Mesmo os coadjuvantes que os cercam também compartilham de similaridades. Ainda que o hedonismo de Gannicus não seja nocivo para o grupo, não deixa de haver uma alienação circunstancial, assim como há na personalidade do filho de Crassus.
Do outro lado da história temos Crixus, ainda preso ao relacionamento com Naevia, que por mais bonito e romantico que pareça, impede o personagem de crescer através de outras camadas. Parece que os roteiristas insistem em nos fazer torcer pelo casal, enquanto a troca da atriz não funcionou pra nós. A temporada passada foi de luta contra esse sentimento, e que piorou quando Naevia ganhou o privilégio de eliminar Ashur. O papel de Crixus na trama precisa ser consolidado, ou ele passará mais dez episódios submissos à apatia.
Já o relacionamento entre Agron e Nassir continua com aquele clima de “corda no pescoço” que já tinha anteriormente. Somos fãs do casal, mas parece que o tempo todo há uma ameaça invisível contra ele. Dessa vez, o sucesso de Nassir como guerreiro pode acabar pondo fim ao romance, o que será uma pena para a faixa homoerótica da audiência. Esse aspecto sexual da época não é só interessante, como irônico para os tempos de hoje. Homossexualidade não é sinal de fraqueza e os homens dos mais heterossexuais da história, um dia foram capazes de compreender o desejo melhor do que nós.
Foi uma boa estreia… nos deram boas cenas de ação e choque (as tripas do cavalo) e nos disseram que precisamos nos preparar. Todo mundo sabe como essa história termina, e não é do jeito mais feliz. Spartacus e seu novo antagonista tiveram seu destino traçado antes de virarem ficção, e por mais que a ficção use de liberdade poética, não se pode negar a história completamente. Essa será uma temporada difícil para todos nós… E que venha, então.


Por Assis Oliveira.

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