segunda-feira, abril 08, 2013

Drive

Dia 98 - Felipe Pereira  95
“Por que sou um escorpião e essa é a minha natureza”
Drive - 2011
Dir: Nicolas Winding Refn
Elenco:  Ryan Gosling, Carey Mulligan, Bryan Cranston

Antes de começar gostaria de avisar que esse texto corre o risco de ficar extremamente pedante, mas isso é meio inevitável ao se falar de algo como Drive.

O que faz alguém abrir mão da própria identidade, do contato com outros seres humanos, da vida em sociedade? O que força um homem a se isolar do mundo, das pessoas e a levar uma vida sombria e misteriosa?
Internet.
Mas esse não é o caso de Drive, de 2011 do diretor dinamarquês Nicolas Winding Refn. O filme conta a história de um sujeito de nome não revelado (Ryan Gosling) que ganha a vida trabalhando numa oficina de carros e como dublê em filmes de perseguição. O que poucos sabem sobre o sujeito é que além disso, ele também é piloto de fuga para criminosos, algo extremamente específico, mas que faz todo o sentido dentro da trama e no contexto do personagem, em sua adoração por veículos, sua união com as máquinas.
O cara leva a vida numa total discrição sendo que ele mesmo não chama muita atenção para si. O que muda completamente quando ele conhece Irene (Carey Mulligan, impressionantemente linda), uma mulher cujo marido foi preso deixando-a sozinha com o filho pequeno. O sujeito acaba entrando na vida de Irene totalmente sem querer, simplesmente por que é impossível evitar que isso aconteça. Por que é impossível não querer estar por perto dela. Os dois acabam se envolvendo, de uma forma lenta e inevitável, acabam se aproximando e não se conhecendo. Aos poucos pequenos detalhes da vida de Irene vem à tona enquanto o cara só fica mais misterioso ainda. Até o momento que o marido da moça sai da prisão e retorna para a família. O que acaba chocando e trazendo o motorista de volta à própria realidade, na qual ninguém sabe bem quem ele é, ninguém sabe nem mesmo seu nome. O sujeito chegou na cidade e pediu um emprego num lugar onde não teria de entrar em contato com pessoas, não teria de dizer o próprio nome e não teria de inventar um. O que fica implícito que ele veio de algum lugar onde tudo deu terrivelmente errado, que de uma forma ou de outra pessoas foram feridas por conta dele e ele teve de bater em retirada para um lugar onde supostamente encontraria paz ou ao menos apatia. Mas uma coisa certa é que o problema e o passado sempre encontram quem foge deles.
No caso eles vieram ao encontro de Gabriel, o marido de Irene, um sujeito cheio de dívidas com pessoas erradas, que sem querer acaba colocando a própria família em risco, mesmo disposto a tomar outro rumo na vida. E nesse ponto o Motorista decide ajuda-lo a tomar esse rumo, movido por um desejo de proteger a família do outro, ou de ver o que vai acontecer, ou movido por algo que o faz sentir vivo... Que traz à tona a sua verdadeira natureza.
E quando as coisas dão totalmente errado, essa natureza vem à tona com toda a força e monstruosidade possível.
O que vem a seguir é uma avalanche de coisas que dão errado que só vão revelando mais e mais o lado monstruoso do cara, seu lado assassino, frio e implacável, o que acaba revelando bastante sobre ele e, sem precisar explicar absolutamente nada, acaba dando um background e uma profundidade minimalista a ele.
 Drive não é um filme difícil, é mais diferente que complexo. É algo ao qual não estamos habituados, um filme de ação dramático com toques artísticos, frio e introvertido que explode em violência. Silencioso e sombrio, porém também romântico e verdadeiro. Um filme charmoso, por assim dizer.
Seu ritmo é diferente do comum, as atuações são contidas, sem exageros e os diálogos não são óbvios, pouco se diz, somente o necessário.
Em certo ponto da trama, quando tudo já está desmoronando, o Motorista pega Irene em sua casa a fim de leva-la a um lugar seguro e, no meio do caminho, dentro de um elevador, ele se vê numa situação ameaçadora. Ele pega a moça, puxa-a para perto de si e dá-lhe o único beijo que os dois trocam durante todo o filme. Um beijo de despedida, Logo em seguida, ele vira-se para o homem que dividia o elevador com eles dois, derruba-o no chão e esmaga sua cabeça a chutes, enquanto a câmera foca no desenho de um escorpião na jaqueta do protagonista.
Esse é o nível de transição do personagem, esse é o ritmo de Drive, onde olhares falam mais do que diálogos elaborados e verborrágicos e sangue jorra quando menos se espera. Onde homens fogem de seus passados mas acabam por atraí-los para perto, por que não importa o quanto tente, o escorpião é incapaz de negar sua natureza.
Drive é uma das coisas mais cool dos últimos tempos.
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