"A História é uma mentira e precisamos libertar o futuro através do conhecimento"
Certamente uma ideia que pode ser aplicada nos dias de hoje e que como premissa da série, foi reforçada neste segundo episódio. Muitas foram as criticas negativas a alguns elementos presente nesta produção que já tem garantida a segunda temporada, e uma que me incomodou foi sobre o ator que interpreta Da Vinci. Não sou versado em técnicas de atuação e por isso não entrarei nesta discussão. Vou preferir ficar com o que ela tem de excelente: a história.
Todos adoramos boas história cheia de mistérios e aventuras, em especial se esta história contiver elementos que a ligue a outras boas produções já conhecidas. Eu gosto de games, gosto de cinema e de bons livros. Também gosto de História; aquela com status de ciência e que como tal pretende revelar nosso passado de maneira objetiva, e tão forte neste aspecto que nos impede de questiona-la e pô-la a prova. Napoleão dizia que a História é conjunto de mentiras consensuais, e eu, ainda que a contra gosto, concordo com ele. A História pode mesmo ser isso, ou pelo menos escrita para nos fazer não pensar sobre aquilo que não precisamos saber. Soa-lhe como teoria conspiratória? Pois é isso mesmo. E a série tem mais esse elemento que tanto adoramos mesmo inconscientemente e que parece ser uma "farpa" que nos incomoda, e nos pertuba como a nos antecipar que algo de podre há sobre outras camadas do que chamamos História.
Assim podemos enquadrar Da Vinci e Lorenzo, dois personagem da série, cada um com sua motivação, como homens disposto a libertar o verdadeiro conhecimento. Do Leonardo histórico sabemos que foi um polimata - do grego polymathês, "aquele que aprendeu muito", uma pessoa cujo conhecimento não está restrito a uma única área, uma das mais importantes figuras do Alto Renascimento. De Lorenzo de Medici, que foi um estadista italiano, soberano de fato da Republica Florentina durante o Renascimento, também conhecido como "Lorenzo o Magnifico" por seus contemporâneos florentinos. Um mecenas incentivador e financiador das artes, mas também um precursor do que no futuro seria conhecido como bancos. Inimigo da igreja e de Roma por esse fato, já que segundo os ditames da religião cristã da época, cometia o pecado da "usura".
Da Vinci a sua maneira, continua sua missão de localizar "O livro das folhas" que contem conhecimentos que a igreja pretende esconder em sua famosa biblioteca, mas não apenas por isso. Sua busca está ligado a seu passado e a sua mãe. Da Vinci lamenta por conseguir pintar tudo que ver com exatidão, mas não consegue pintar o rosto de sua mãe, ele revela que tem lembranças claras de sua tenra infância mas não do rosto dela. E eu não posso deixar de pensar que ele não consegue pinta-la porque nunca a viu.
Neste episódio Da Vinci se revela leal a Lorenzo ao ser tentado pelo Conde Riario filho do Papa Xisto a cooptar com Roma e de quebra apresenta sua mortal "metralhadora" para seu agora protetor, o governante de Florença. O titulo deste episódio é "A Serpente" que na trama se revela como O Conde Riario ao tentar Leonardo. Na cena anterior ao juramento de lealdade a Lorenzo, durante um banquete, Lorenzo apresenta uma encenação do paraíso bíblico com direito a uma serpente que sutilmente é sugerida como sendo o Conde Riario. Florença é este paraíso que não se submete ao poder corruptor da igreja. E novamente temos o conhecimento como poder, que se quer libertado por Da Vinci e obliterado pela igreja. O Conde Riario admite querer o conhecimento do livro para "administra-lo" e não para suprimi-lo com pensa Leonardo.
Lamentavelmente a série apesar de confirmadíssima em uma segunda temporada, ainda sofre de alguns problemas. Em nenhum momento o roteiro de Gover consegue trazer um interesse para as descobertas que estão sendo feitas. Como exemplo disso, nenhuma das grandes sacadas que o protagonista tem durante uma hora de episódio conseguem se dizer inovadoras a ponto de justificar um arco envolvendo esse mistério ( o que se torna mais sintomático com a revelação final desinteressante envolvendo um mapa da America do Sul). Para uma série que a própria premissa é de misturar um personagem histórico com elementos investigativos dignos de um Sherlock Holmes, essa é uma falha que precisa ser urgentemente corrigida a fim de dar maior coesão à trama. Se não gera um grande interesse, também seria injusto afirmar que a investigação chega a ser monótona, já que consegue fazer o dever de casa ao colocar alguns elementos que consigam ao menos servir para colocar o espectador a par do que está acontecendo.
Lucrecia Donati. Não, não é Angelina Jolie (Laura Haddock) Uma das belezas da série |
Sofrendo ainda da péssima construção de personagens feita durante o piloto, Da Vinci's Demons peca por em nenhum instante conseguir fazer com que se tema pelo destino de qualquer um pertencente a este universo. Como uma consequência lógica deste processo, boa parte das ameaças que se poem no episódio acabam por soarem vazias, trazendo à tona sentimentos que aquele que assiste deveria sentir, mas nunca consegue. Isso é algo que pode ser aliviado caso se utilize um universo caricatural, como a série está começando a desenvolver melhor, mas mesmo assim a conexão jamais pode ser nula a ponto de atrapalhar o fenômeno da identificação.
Existem séries de suspense, série de ação, série de fantasia, séries que tentam combinar tudo. Muitas delas são bem sucedidas, outras não Da Vinci's Demons se encontra em um ponto que seu futuro permanece um grande ponto de interrogação quanto a sua qualidade. Para uma série iniciante, isso é sinal de que ainda existe um grande espaço para melhora que poderá ser alcançada com um esforço por parte de toda a equipe de criação.
Em tempo: Animais endêmicos de nosso continente na Europa do século XV é muito surreal, assim como o mapa da America do Sul. Espero encontrar mais a frente uma justificativa plausível pra isso, se não der, incluam logo Cabral e o Brasil na trama e mandem a coerência histórica as favas trazendo Da Vinci para desenhar os silvícolas do oeste.
Assis, Exitem mapas da América do sul desde do tempo dos templários alguns mapas anterior ao século XIII.
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