sexta-feira, abril 12, 2013

A Vida É Doce - Lobão, ou: As guitarras distorcidas das ironias da vida.

Michel 96. Dia 101.
É impossível não escutar "A Vida É Doce" (1999) e não pensar num dia nublado, frio e úmido. É impossível não pensar nas guitarras distorcidas das ironias da vida, e nas trezentas e vinte e sete mil maneiras que a mesma tem de tentar de derrubar no chão e, antes de te matar, te humilhar.

A vida é doce.

Desencontros e solidões noturnas, medos e cantos escuros, bebidas e a ilusão de felicidade que vem e vai num flash, em vômitos e dores de cabeça. Naquele momento da noite em que ninguém mais é amigo de ninguém, apenas estranhos que fingem que se conhecem e que se gostam por conveniência, hábito ou inércia.

De todos os clichés, escolhemos dizer que: sim, porra, todo mundo é uma ilha vulcânica em atividade permanente, instável e prestes a explodir em pedaços incandescentes de rocha e lava e gases sulfurosos superaquecidos. E fim.


Este é "A Vida É Doce": Lobão em sua melhor forma, sarcástico, romântico, drástico, brutal, visceral, sutil. Lobão overdoseando, urbano, noturno, madrugada soturna e sombria, luz de poste queimada, cachorro na esquina, gritos e freadas bruscas.

No bar, na boate, no asfalto, entre mendigos e bêbados e traficantes.

A noite é uma criança.
A noite e suas crianças.

É como tentar esquecer aquela menina que te deixou sozinho porque "você é um cara legal demais". É como tentar perdoar aqueles teus amigos que não te ligam mais. É como tentar deixar para lá todo o estrago deixado pela educação de teus pais.

É como tentar não quebrar o vidro na hora do incêndio por não querer se cortar.


Destaque para as faixas: "El Desdichado II" (A abertura perfeita para este disco: sombria, desesperançosa, solitária... perfeita.); "Universo Paralelo" (Teclados que parecem sirenes tristes... a música mais falada que cantada, uma levada meio rock, meio blues... canção de se perder na noite); "Para Onde Você Vai" (A mais bonita do disco, uma letra linda, melodia perfeita...); "A Vida É Doce" (Faixa-título, ligada diretamente à música de abertura - a mesma sonoridade sofrida, vagabunda, bêbada); "Uma Delicada Forma De Calor" (A música clássica do Lobão, que carrega sua identidade da década de 1980 - e a participação da divindade Zeca Baleiro); "Tão Perto, Tão Longe" (A musicalidade do Lobão salta aqui com a violência de sangue jorrando de um corte profundo); "Vou Te Levar" (Delicada, clara, um toque de esperança, como a manhã nascendo após uma madrugada fria e difícil... lembranças quentes de dias felizes long ago, não desistir das boas lembranças apesar de tudo...); "Mais Uma Vez" (Para mim, o fechamento do disco. A confirmação de que a vida é uma bitch, mas que ela pode bater e nos derrubar, mas, porra!, eu vou continuar levantando. Até morrer. Uma canção com um agridoce gosto de vitória que não se decidiu ainda).


Um disco que mostra um Lobão mais velho, mais maduro, mais selvagem, mais capaz. Um Lobão cansado, mas violento e capaz de reagir e de fazer e desfazer o que quiser quando quiser.


"A Vida É Doce" é um disco cinzento, frio e úmido. Um disco feito para momentos sombrios, um recado de um solitário para outros. Uma ironia fina, que diz: "Ei, cara, você não está sozinho".


Cinco Lunas mais que merecidas.

Postando hoje mais cedo, antes que a noite me deixe ainda mais puto ainda.

Este foi o Ladrão de Almas, dando uma chance para o gêmeo maligno sair e respirar.


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