Dia 76 - Felipe P. 74
High Fidelity - 2000Dir: Stephen Frears
Elenco: John Cusack, Iben Hjejle, Jack Black
"If there's something inside that you wanna say / Say it out loud it'll be okay / I will be alright, I will be alright, I will be alright, I will be your Light"
(Dry The rain - The Beta band)
Eu vou falar sobre o amor hoje. A minha concepção de amor, pelo menos.
Devo deixar bem claro, logo de início, que o meu conceito de amor é algo químico e deturpado, que pode facilmente ser substituído por uma caixa de BIS sem grandes perdas e com a vantagem de que o BIS não vai te levar em casa pra conhecer os pais, não vai te censurar pelas roupas que você usa, não vai ficar de mimimi por que você chegou exausto e só mandou um SMS, não vai te fazer frequentar festas para as quais você não quer ir, cheias de pessoas de quem você não gosta e tocando música que você não aprecia e principalmente, acima de tudo, acima de qualquer outra consideração, o BIS não vai partir seu coração.
Mas eu estou falando do amor como os poetas e cantores de sertanejo universitário o descrevem, não estou falando de sexo. Por que uma caixa de BIS não pode substituir o sexo e todos os compostos químicos que se manifestam na consumação do ato. Eu estou falando de feniletilamina, dopamina, endorfina, e oxitocina, o amor como uma fórmula química que te deixa dopado, coisa que uma caixa de BIS pode fazer por você: te deixar dopado e com diarreia.
E eu vou dizer uma coisa a vocês, meninos e meninas: Amor não é o que está escrito nos livros do Nicholas Sparks. É muito fácil amar uma Mandy Moore moribunda ou um Chaning Tatum com traumas de guerra, por que nos livros do Sparks você só pode amar alguém que tem feridas profundas e dramas pessoais, mas essas pessoas são incrivelmente bonitas e sensíveis, todas elas, em todos os lados. Por que é muito fácil encontrar o amor da sua vida, aquela pessoa feito um floco de neve, ela está na próxima esquina e vai esbarrar em você e você vai ajudá-la a recolher os livros dela que caíram e, olha só, entre eles está seu livro favorito, o que vai te levar a puxar assunto com ela e no fim vocês se casam!
De uma coisa eu tenho de concordar com o Sparks: a vida, assim como os romances adolescentes, acaba em casamento.
Nick Hornby descreve o amor como a sensação de estar sempre de volta à estaca zero. Você vai ter momentos de prazer e conforto, mas eles vão acabar e o que vai restar é a solidão, o coração partido e a música triste. Ambos os lados estarão magoados e ressentidos, ambos procurarão saídas fáceis em pessoas óbvias, mas eles estarão invariavelmente voltando à estaca zero. Só aí eles terão mágoas e feridas, mas não serão de doenças terminais nem de guerras, será um do outro. Por que? Por que reações químicas que afetam o cérebro causam dependência. E por que sofrimento dá barato. Quer dizer, por que uma pessoa que está sofrendo feito um gambá, vai pegar seu mp3 player e ouvir Everybody Hurts? Eu me atrevo a ir mais longe! Eu diria que a função do amor é nos deprimir para que nós possamos ficar chapados de sofrimento, para só então ir ouvir Everybody Hurts.
Mas vamos falar de Alta Fidelidade.
Rob Gordon (John Cusack) está na fossa. Conhecemos o cara logo nesse momento, com seus fones de ouvido no volume máximo, com seus LPs de colecionador e suas negações, enquanto sua namorada empacota suas roupas e vai embora. E ele parece reagir bem a isso, salvos os gritos de raiva e a música alta, o cara até lista para nós suas cinco melhores namoradas. Lista na qual Laura, a que bateu a porta e foi embora, supostamente não entra. Alta Fidelidade, baseado no livro de Nick Hornby, fala sobre a jornada de um homem tentando superar o fim de um relacionamento e falhando miseravelmente até o momento em que ele sente a necessidade incontrolável de voltar à estaca zero.
Aliás, Incontrolável é um filmaço! Um dos últimos do Tony Scott, fala sobre um trem!
E ele faz de tudo: se afunda em trabalho, ouve música triste, sai com outras pessoas, ele faz de tudo, absolutamente tudo para superar, seguir em frente e esquecer, mas o mundo, o Universo, insiste em levá-lo de volta à estaca zero.
O bacana de Alta Fidelidade é ver o lado masculino da comédia romântica, ver como o cara encara o amor e o desamor, ver o que um cara faz quando leva um pé na bunda (por que todo mundo sabe que as mulheres assistem um filme da Reese Witherspoon e tomam sorvete enquanto choram na frente da TV): ouvir música alta, sair em horários pouco usuais, ir a lugares pouco usuais e conhecer pessoas com as quais se identificam mais que aquela que os abandonou. Nos abandonou.
O bacana também é ver o cara falando coma câmera o tempo todo, fazendo listas de tudo sobre tudo, as referências pop, a trilha sonora, o elenco impecável e a direção competente de Stephen Frears que concede ao filme uma irregularidade necessária para a identificação com a trama.
Alta Fidelidade é sobre quebrar a cara e admitir as próprias falhas, sobre se isentar de culpa quando 95% dela é sua e você sabe disso, sobre amor humano e não literatura barata, mas principalmente, sobre como é bom, quentinho e confortável voltar à Estaca Zero.
PS: meu top 5 romances:
1 - Antes do Amanhecer
2 - Alta Fidelidade
3 - Flores partidas
4 - (500) Dias Com Ela
5 - Todo Mundo Quase Morto
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