sábado, março 23, 2013

A Rush Of Blood To The Head - Coldplay, ou: Sobre as Imensidões

Michel 78. Dia 82.

Todo espaço aberto me angustia. Toda altura me afeta. Toda escuridão me incomoda. Luz intensa me irrita. Sentimentos profundos me amedrontam.

As imensidões me afligem.

Na realidade somos ínfimos e desimportantes. Nossa arrogância é inversamente proporcional ao tamanho de nossa relevância para o Universo. E de tão pequeno, de tão mínimo - embora eu fale por mim -, as imensidões, todas elas, qualquer uma... as imensidões me esmagam.

"A Rush of Blood to the Head" (2002) é esse disco que te mostra os grandes espaços vazios dentro e fora de você. São aquelas músicas que te fazem perceber a inutilidade do facho de luz da lanterna na vastidão da noite escura, ou de sentir tristeza num dia de sol na praia. Ao mesmo tempo, fala de amor e de amar de uma maneira tão simples que chega a irritar pela verdade que contém.

Pessoas, lugares, fatos, acontecimentos: esquecimentos, perdão e culpa.



Lembro como se fosse ontem quando comprei esse disco. Minha trilha sonora durante meses e meses, preso e perdido neste mundo em branco e preto. Cada música leva a um lugar diferente, sensação e textura, sabor e cheiro... 



E não é fácil encher-se de coragem e encarar o mar encapelado ou o deserto vazio. Não é fácil adentrar a Floresta Negra ou a noite escura. Não é fácil sair da janela e correr na chuva. Não é fácil trocar uma grande paixão por um constante amor.

As imensidões me matam.

Aqui está, aqui jaz, here lies: um homem, um grão de areia, um punhado de átomos, um agregado de memórias. Um covarde, um ladrão, um assassino, um guerreiro, um rei. Pai, filho, irmão. Amigo e traidor. Tudo isso, e isso ainda tão pouco diante da magnificência infinita do Universo.

Um simples ponto de cor na escuridão de eterna expansão que veio do início até o final.



Um disco para mexer com suas arrogâncias e auto-importâncias. Para te jogar na cara tua mortalidade e tuas bobagens e desejos. Um disco que reafirma Cronos consumindo seus filhos.

Tempo, tempo, tempo: um tigre esperando para ser domado.



E no fim, morremos tentando. Ironic, isn't it

Deixe a água entrar no barco que afunda. Jogue-se de braços abertos do avião que cai. Aceite aquele amor que você mais nega. Abrace a escuridão. Sorria com a alma.

Coma os morangos.




E as imensidões me fascinam.









Abraços a todos. Que nesta noite quente e úmida de Março, possamos fugir e nos refugiar nas imensidões - sejam elas internas ou externas.


O Tigre - William Blake


Tigre, tigre que flamejas
Nas florestas da noite.
Que mão que olho imortal
Se atreveu a plasmar tua terrível simetria ?

Em que longínquo abismo, em que remotos céus
Ardeu o fogo de teus olhos ?
Sobre que asas se atreveu a ascender ?
Que mão teve a ousadia de capturá-lo ?
Que espada, que astúcia foi capaz de urdir
As fibras do teu coração ?

E quando teu coração começou a bater,
Que mão, que espantosos pés
Puderam arrancar-te da profunda caverna,
Para trazer-te aqui ?
Que martelo te forjou ? Que cadeia ?
Que bigorna te bateu ? Que poderosa mordaça
Pôde conter teus pavorosos terrores ?

Quando os astros lançaram os seus dardos,
E regaram de lágrimas os céus,
Sorriu Ele ao ver sua criação ?
Quem deu vida ao cordeiro também te criou ?

Tigre, tigre, que flamejas
Nas florestas da noite.
Que mão, que olho imortal
Se atreveu a plasmar tua terrível simetria ?


Até mais.

O Ladrão de Almas.

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