sábado, fevereiro 02, 2013

O Filho do Rambow (NÃO ENTRE EM PÂNICO)

Dia 33 - Felipe P. 32
Son of Rambow - 2007
Dir: Garth Jennings
Elenco: Bill Milner, Will Poulter e Jessica Hynes

Houveram tempos sombrios em minha vida. Tempos nos quais eu me tornei um nômade cultural. Quase um hipster, mas sem lenços no pescoço e camisa de flanela, nem aqueles óculos ridículos de aro de tartaruga que eles roubam da caixa de pertences da vó morta. Nessa época da minha vida, tudo o que eu pesquisava na internet era seguido de um termo bastante conhecido e até um tanto infame nos dias atuais: “indie”.
Não demorou até que eu começasse a fazer pesquisas como “20 melhores filmes indie”, “coletânea músicas indie”, coisas do gênero. Foi nessa época que conheci coisas como The Arcade Fire, Arctic Monkeys, Peter Bjorn and John, Belle and Sebastian e mais um monte de coisas que eu não escuto hoje em dia. Nessa mesma época eu conheci Donnie Darko.
E não é dele que eu vou falar hoje.
O filme do qual eu falarei foi vítima de muito preconceito da minha parte, muito mesmo! Todos os dias a caminho do colégio eu via seu pôster numa daquelas portas de vidro de locadora de DVD e desviava o olhar. O título me agredia demais e o pôster me dava uma certa repulsa. Eu via aquela coisa e imediatamente lembrava de clássicos do mau gosto como O Filho do Maskara e Ace Ventura Jr, coisas do gênero franquia falida desesperada por algum tipo de lucro safado que apela para o mercado dos pais sem noção e das crianças sem senso crítico.
Eu passei por esse pôster durante um ano e todos os dias resmungava e virava a cara. Até o dia em que tive a brilhante ideia do “20 melhores...” e lá estava o tal Filho do Rambow. Sabe aquele momento em que você aperta os olhos, chega com a cara bem próxima do monitor e solta um belíssimo “que porr* é essa?”.
Mas não venha você me julgar, olha esse título! OLHA ESSE TÍTULO! A sonoridade me dá náuseas!
Engoli o orgulho e decidi pesquisar. Foi a primeira parte da surpresa.
O diretor se chamava Garth Jennings, ninguém menos que o cara que dirigiu O Guia do Mochileiro das Galáxias (e escreveu “So Long, and Thanks ForAll the Fish”). Eu não sei vocês, mas eu adoro o Guia do Mochileiro. Sim, eu li os livros, não, a adaptação não é muito fiel, mas eu adoro aquele filme.
A segunda surpresa foram as notas e críticas positivas. Todos que viam, eram só elogios.
Decidi dar uma chance. Lá estava eu, na frente da TV assistindo uma coisa chamada “O Filho do Rambow”. Detalhe: eu via de madrugada, pra não correr o risco de que alguém chegasse, me visse assistindo aquela coisa estúpida e perguntasse “que você tá vendo” e eu tivesse que responder.
A história segue o dia a dia de dois garotos que estudam na mesma escola, Lee (Will Poulter) e Will (Bill Milner). Lee é um marginal, fuma dentro do cinema enquanto grava com uma câmera VHS uma sessão de Rambo (o filme se passa por volta do ano do lançamento de First Bllod), atira bolas em gente em cima de escadas para vê-las cair, a apresentação dele é um festival de demonhices divertidíssimo. Will, por outro lado, é exatamente o oposto (essa foi a frase mais redundante que eu escrevi na vida): família religiosa, aluno exemplar, filho respeitoso, mora numa casa "harmoniosa", enquanto Lee mora num asilo, onde é cuidado por alguns idosos e pelo irmão mais velho, que quase não dá a mínima pra ele.
Os dois se conhecem e, contra todas as possibilidades, passam a andar juntos. Num dia desses, no porão/arquivo do lugar onde Lee vive, Will tem um vislumbre da experiência mais assustadora e incrível da sua vida: uma cena de Rambo, que Lee havia gravado dentro do cinema.
O garoto enlouquece. Sua mãe sequer o permitia ver TV, quanto mais algo como Rambo. Aquilo o enche de vontade, dá um novo ânimo à sua vida, como um ato de rebeldia, um turbilhão de emoções e isso aqui tá parecendo vinheta do Fantástico. E tudo ao mesmo tempo em que, na cidade onde vivem, está ocorrendo um festival de cinema amador (Sundance???) que vai premiar o vencedor (Sundance, definitivamente). Festival do qual Lee quer desesperadamente participar.
Os dois então começam a gravar um filme para o tal festival e Will decide que é “O Filho do Rambow”, seu pai foi preso e resta a ele salvá-lo. Ao contrário do que se podia imaginar, mesmo durante a produção o trabalho dos dois começa a chamara tenção, Will se torna relativamente popular, gente se mete no trabalho dos dois e a amizade que se formou de maneira meio orgânica, meio atribulada sofre um abalo.
As coisas fogem do controle de tal modo a afetar a conservadora família do garoto e, daí em diante tudo o que tem de dar errado, dá errado. Lady Murphy, sua vadia.
Após o fracasso de bilheteria que foi O Guia do Mochileiro Das Galáxias, as duras críticas que recebeu, a não aprovação dos fãs, Jennings optou por um trabalho menor, menos pretensioso que adaptar a maior epopeia nerd de todos os tempos e O Filho do Rambow acabou se tornando algo tão underground que é difícil até de recomendar pra alguém. Mas acaba sendo algo extremamente agradável de se ver, de se falar sobre. No fim das contas é um fell good movie com um monte de pontos positivos e uma historinha simples, um daqueles filmes que não vai te fazer mal nenhum de ver, no mesmo estilo que Be Kind, Rewind, com direito a stop motion e tudo.
E dono uma trilha sonora espetacular, com direito a David Bowie, Depeche Mode, Duran Duran, The Cure...
Desnecessário dizer que fez sucesso em Sundance...
A mensagem de hoje é essa: aquele filme escroto que te desagrada pelo poster, que você julga sem ver pode te reservar boas surpresas. O que não significa que você vai encontrar boa coisa nos filmes do Adam Sandler ou na Saga Crepúsculo, sejamos seletivos.

~

3 comentários:

  1. Da mesma maneira que você acabou descobrindo um bom filme a despeito de um preconceito inicial, embora muito bem fundamentado, eu também tive de rever muitas das minhas opiniões acerca do Adam Sandler.

    Como todo ator de sucesso marcado por um tipo de filme que se especializou em fazer e acabou até mesmo virando referência, a comédia escrachada, ele partiu para algo totalmente inesperado para sua carreira (e incrível foi terem lhe dado a oportunidade): um drama PESADÉRRIMO, deprê pra dedéu, chamado "Reine sobre Mim", com o premiado Don Cheadle como co-protagonista ao seu lado. http://www.imdb.com/title/tt0490204/?ref_=fn_al_tt_1 Para quem estiver sem paciência de ler em inglês, o personagem do Sandler é um ex-colega de quarto de Faculdade do personagem do Cheadle que o reencontra após anos. E passa a grudar no velho amigo, como que tentando reestabelecer laços afetivos. O personagem é perturbado das ideias, pois perdeu mulher e filhas no atentado de 11 de setembro.

    Fato: Sandler convence no papel de um personagem a princípio egoísta, fazendo programas dos tempos de estudante universitário, maníaco que esconde uma grande dor e mágoa que vão sendo revelados à medida em que a convivência com o personagem do Cheadle, um dentista cuja carreira e vida pessoal estava em relativo conforto e estabilidade até a chegada do ex-colega.

    Até aí, normal, quantas vezes não vimos atores famosos pelas suas comédias que abraçaram papéis dramáticos só para provar: "viu, nós também podemos fazer chorar". Vai desde o Jerry Lewis naquele irônico drama "O Rei da Comédia", embora eu o prefira na participação especial no velho seriado "O Homem da Máfia", passando pelo Will Ferrell no meu filme favorito "Mais Estranho que a Ficção" e no drama "Pronto para Recomeçar".

    (cont.)

    ResponderExcluir
  2. ...agora, que eu tenho que respeitar um comediante que aceita fazer um papel que parece decalcar aspectos ALTAMENTE REALISTAS de sua própria vida, fazendo um personagem que tem atitudes e pensamentos de um filhodapu* que ficou podre justamente por causa desse seu sucesso nessa área de atuação (comédias), o que faz até as pessoas que estão assistindo àquela história se pegarem pensando "será que ele é tão fdp assim que nem o personagem na vida real", ainda que a situação seja totalmente inventada em prol do andamento do filme, e que efetivamente só livra a cara desse comediante nos cinco minutos do final do filme... Gente, isso não é para qualquer um!!! Isso é coisa para macho, cara que honra as bolas do saco!

    Nem "Quero Ser John Malkovich" conseguiu misturar tão bem esse lance de confundir o público entre o ator e o personagem interpretado no filme: honestamente, Malkovich é tão reservado em sua vida pessoal que mesmo as pequenas aparições de seu "suposto" cotidiano em nada feriram a sua intimidade enquanto pessoa (podia ser tudo inventado e nunca ligaríamos se era ou não daquele jeito mesmo).

    Esse filme terrível de que tanto falo, e ao qual passei a admirar o Adam Sandler, é o meu segundo favorito: Funny People (Tá rindo de Quê?), do Judd Appatow, com o Seth Rogen. http://www.imdb.com/title/tt1201167/?ref_=fn_al_tt_1
    Também ganhou fama entre os fãs de Sandler como O PIOR FILME DA CARREIRA DELE. óbvio! Não era uma comédia "Adam Sandler"! Tava mais para dramédia, aliás flerta muito com o pique do Mais Estranho que a Ficção (ainda não vi 50/50 para confirmar se o pique também é esse!). Só sei que gostaria muito de ler resenhas sobre algum desses filmes do Sandler que citei, nem que seja para contestar essa minha babação de ovo exacerbada, especialmente o Funny People!

    Abraço e bom trabalho!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Cara, estou pra ver Reine Sobre Mim faz um tempão e ainda não ouvi, mas já vi muita gente falando bem desse filme. Outro filme bom com o Sandler é Embriagado de Amor, você já viu? Se não viu, fica minha dica.
      Recentemente vi Mais Estranho que a Ficção e achei um filmaço, até comentei sobre ele por aqui.
      http://www.01pordia.com/2013/01/mais-estranho-que-ficcao.html
      Muito obrigado por seus comentários, adicionaram muito e são sempre bem vindos.
      Até a próxima.

      Excluir

Obrigado por comentar no 01Pd! Seja bem vindo e volte sempre!