Dia 43 - Felipe P. 41
Django Unchained- 2012
Dir: Quentin Tarantino
Elenco: Jamie Foxx, Christoph Waltz, Leonardo Dicaprio, Samuel L. jackson
Ir ao cinema pra mim é um ritual. Você marca com antecedência, se prepara
psicologicamente para enfrentar fila, você guarda grana, escolhe sua melhor
roupa e vai. Não é uma coisa mundana, não é o tipo de coisa que me faça sair de
casa pra ver qualquer coisa, eu só vou
ao cinema tendo em mente o que eu vou ver. Se o filme saiu de cartaz durante o
meio tempo entre sair de casa e chegar ao cinema (acredite, isso acontece por
aqui) ou se os ingressos esgotaram para a sessão que eu queria ver, não tem
plano B, eu não vou me contentar com um prêmio de consolação. Eu vou dar meia
volta e ir embora.
É um evento que exige um ritual, uma preparação...
E levando em conta que se tratava do primeiro filme do
Quentin Tarantino que eu veria no cinema...
Preciso deixar claro desde já que dizer que Django Livre
não é o melhor filme do Tarantino é algo totalmente redundante. Complementar
essa redundância com “mesmo assim é um bom filme”, é nada mais que chover no
molhado. Então vamos deixar de besteira e vamos ao que interessa, ok?
Django Livre é o melhor trabalho de Quentin Tarantino.
Mas Pulp Fiction é o melhor já feito na história.
Como?
Explico.
Tarantino é um cara inteligente, que aprende bem com os
próprios erros, evolui bem com eles. Ele não tem um único filme ruim em sua
carreira e, que fique bem claro, esse é o meu posicionamento, a cada trabalho,
ele evolui, se torna um diretor melhor, sem nunca perder sua identidade.
Eu vou mandar a real: eu sou um grande puxa saco do
Tarantino. E acho que você deveria ser também, por que isso é questão de
caráter! Eu não confiaria em um homem que não gosta do Tarantino ou que, no mínimo,
não admire seu trabalho. Isso se equipara à honra. Um homem que não saiba pelo
menos três frases clássicas de Pulp Fiction ou Kill Bill é o mesmo cara capaz
de atirar em alguém pelas costas, eu não confio nesse tipo de gente.
Mas enfim...
Eu estranhei que um filme em cartaz há tanto tempo
(levando em consideração estreias semanais e que nessa sexta-feira tenha
entrado em cartaz o crepúsculo com zumbis) ainda mantivesse duas salas no
cinema mais respeitável da capital cearense, mas quando eu vi a fila que se
formava ontem para assistir à segunda sessão de Django Livre, eu compreendi.
Quando entramos na sala, eu e mais dois amigos, tivemos
dificuldades de encontrar assentos, sequer conseguimos sentar juntos, de tão
lotada que a sala estava. Eu sentei numa fileira em que havia uma caravana de velhinhas
e eu posso assegurar que nunca vi ninguém se divertindo tanto com duas horas e
quarenta e cinco de matança quanto elas. Foi surreal.
Mas vamos ao que interessa: Django.
Django Livre, o faroeste sulista de Quentin Tarantino,
conta a história de um escravo que é “comprado” por um caçador de recompensas
com o objetivo de ajuda-lo a encontrar um grupo de foras da lei por quem havia um
prêmio pela cabeça. Os dois executam os sujeitos e acabam seguindo juntos até a
próxima missão e depois disso não se separam mais. O escravo é Django (o ‘D’ é
mudo), Jamie Foxx, badass motherfucker, e o caçador King Schultz, Christoph
Waltz, se realizando como só ele é capaz num filme do Tarantino.
Os dois chegam num ponto em que já mataram tanta gente
que não sobrou ninguém vivo no velho sul para se colocar uma bala na cabeça. É
quando Django revela que sua esposa Broomhilda havia sido vendida e King decide
ajuda-lo a resgatá-la e só aí, por volta de uns quarenta minutos de história,
as coisas seguem para sua trama principal.
Durante todo o tempo que precede esse momento, tudo o com
que Tarantino se preocupa é em apresentar situações para desenvolver seus
personagens de uma forma em que você se importe com eles, pegando o que há de
melhor nos atores que os representam.
O papel de escravo liberto havia sido escrito pelo
diretor para o ator Will Smith, mas conta-se que Smith, mesmo aceitando o papel
sem pestanejar, decidiu recusá-lo quando percebeu que não se encaixava nele,
que talvez viesse até mesmo a comprometer o resultado final. Para se ter uma
ideia de tamanha a complexidade e o peso do personagem. Eis que entra em ação
Jamie Foxx e aqui fica minha ressalva: eu não gosto do Jamie Foxx. Não é o ator
que eu odeio ou que deixo de ver o filme por tê-lo no elenco. O cara é
excelente. O meu problema com ele é que eu o acho um ator arrogante demais, e
nem mesmo isso justifica. Ele é fodão, um puta ator, tem todo o direito de ser
tão arrogante quanto quiser, mas pra mim isso atrapalha a experiência de ver um
filme com o sujeito. O que o Tarantino faz? Usa isso a favor do personagem. Django
vai crescendo durante o filme, vai ganhando uma personalidade que se fortalece
conforme cresce sua raiva, conforme aumenta seu desejo de vingança, ele vai
ficando mais intimidador... É aí que você percebe que o Foxx foi feito pro
papel, ele nasceu para ser Django. E ele ficou perfeito.
Waltz é outro monstro, o cara entra em cena e todos os
holofotes se voltam pra ele, tudo converge para favorecer seu personagem, o
caçador de recompensas e ex-dentista King Schultz. O cara é um matador
sanguinário que se resguarda na lei e nas brechas dela para exercer o ofício. Um
sujeito convincente e articulado que ganha qualquer um na lábia, chega na
cidade matando o xerife e ainda é pago pra isso.
Sem falar do DiCaprio, um vilão assustador e extremamente
carismático, totalmente surtado. O cara é a personificação do que há de pior na
humanidade, compra escravos de fazendas e os obriga a lutar até a morte em
brigas que você sente cada golpe como se fosse em você, cada pancada, cada osso
quebrado.
Django Unchained é de longe um dos filmes mais violentos
e corajosos do Tarantino, cheio de crítica, cheio de sarcasmo, de humor negro,
agressividade, é seu trabalho mais maduro como diretor, como obra, seu melhor
trabalho, o mais competente de todos.
É preciso dar o braço a torcer, ele se supera
tecnicamente a cada filme.
Tecnicamente.
Eu vi um cara comentando que o Cristoph Waltz/King Schultz é aquele que se delicia com as próprias palavras À medida que elas vão saindo de sua boca... e é isso mesmo! Ele gosta do que faz. Entrou no meu panteão junto com o DiCaprio e o Hopkins.
ResponderExcluirExato. O cara é um monstro.
ExcluirDjango será, provavelmente, o melhor filme que verei esse ano. Não que eu subestime o que o cinema ainda irá me mostrar, mas a experiência de ver Tarantino pela primeira vez no cinema, foi algo sem igual, ainda mais para um filme do gênero de Django. Eu, uma pessoa totalmente avessa ao western, tive que abrir uma das maiores exceções que já fiz e que, devo dizer, não me arrependi nem por um segundo. Chegar no cinema, encarar um fila gigante, entrar numa sala lotada, procurar uma poltrona vaga, a ansiedade de assistir um Tarantino, a relutância por ver um western, tem o DiCaprio no filme, mas nem o Bradley me fez abrir uma exceção, mas era Tarantino.
ResponderExcluirE então, acabou o filme e as únicas palavras que eu pude dizer foram "Cara, que filme foda!"