terça-feira, fevereiro 12, 2013

Django Livre

Dia 43 - Felipe P. 41
Django Unchained- 2012
Dir: Quentin Tarantino
Elenco: Jamie Foxx, Christoph Waltz, Leonardo Dicaprio, Samuel L. jackson

Ir ao cinema pra mim é um ritual.  Você marca com antecedência, se prepara psicologicamente para enfrentar fila, você guarda grana, escolhe sua melhor roupa e vai. Não é uma coisa mundana, não é o tipo de coisa que me faça sair de casa pra ver qualquer coisa, eu só  vou ao cinema tendo em mente o que eu vou ver. Se o filme saiu de cartaz durante o meio tempo entre sair de casa e chegar ao cinema (acredite, isso acontece por aqui) ou se os ingressos esgotaram para a sessão que eu queria ver, não tem plano B, eu não vou me contentar com um prêmio de consolação. Eu vou dar meia volta e ir embora.
É um evento que exige um ritual, uma preparação...
E levando em conta que se tratava do primeiro filme do Quentin Tarantino que eu veria no cinema...
Preciso deixar claro desde já que dizer que Django Livre não é o melhor filme do Tarantino é algo totalmente redundante. Complementar essa redundância com “mesmo assim é um bom filme”, é nada mais que chover no molhado. Então vamos deixar de besteira e vamos ao que interessa, ok?
Django Livre é o melhor trabalho de Quentin Tarantino.
Mas Pulp Fiction é o melhor já feito na história.
Como?
Explico.
Tarantino é um cara inteligente, que aprende bem com os próprios erros, evolui bem com eles. Ele não tem um único filme ruim em sua carreira e, que fique bem claro, esse é o meu posicionamento, a cada trabalho, ele evolui, se torna um diretor melhor, sem nunca perder sua identidade.
Eu vou mandar a real: eu sou um grande puxa saco do Tarantino. E acho que você deveria ser também, por que isso é questão de caráter! Eu não confiaria em um homem que não gosta do Tarantino ou que, no mínimo, não admire seu trabalho. Isso se equipara à honra. Um homem que não saiba pelo menos três frases clássicas de Pulp Fiction ou Kill Bill é o mesmo cara capaz de atirar em alguém pelas costas, eu não confio nesse tipo de gente.
Mas enfim...
Eu estranhei que um filme em cartaz há tanto tempo (levando em consideração estreias semanais e que nessa sexta-feira tenha entrado em cartaz o crepúsculo com zumbis) ainda mantivesse duas salas no cinema mais respeitável da capital cearense, mas quando eu vi a fila que se formava ontem para assistir à segunda sessão de Django Livre, eu compreendi.
Quando entramos na sala, eu e mais dois amigos, tivemos dificuldades de encontrar assentos, sequer conseguimos sentar juntos, de tão lotada que a sala estava. Eu sentei numa fileira em que havia uma caravana de velhinhas e eu posso assegurar que nunca vi ninguém se divertindo tanto com duas horas e quarenta e cinco de matança quanto elas. Foi surreal.
Mas vamos ao que interessa: Django.
Django Livre, o faroeste sulista de Quentin Tarantino, conta a história de um escravo que é “comprado” por um caçador de recompensas com o objetivo de ajuda-lo a encontrar um grupo de foras da lei por quem havia um prêmio pela cabeça. Os dois executam os sujeitos e acabam seguindo juntos até a próxima missão e depois disso não se separam mais. O escravo é Django (o ‘D’ é mudo), Jamie Foxx, badass motherfucker, e o caçador King Schultz, Christoph Waltz, se realizando como só ele é capaz num filme do Tarantino.
Os dois chegam num ponto em que já mataram tanta gente que não sobrou ninguém vivo no velho sul para se colocar uma bala na cabeça. É quando Django revela que sua esposa Broomhilda havia sido vendida e King decide ajuda-lo a resgatá-la e só aí, por volta de uns quarenta minutos de história, as coisas seguem para sua trama principal.
Durante todo o tempo que precede esse momento, tudo o com que Tarantino se preocupa é em apresentar situações para desenvolver seus personagens de uma forma em que você se importe com eles, pegando o que há de melhor nos atores que os representam.
O papel de escravo liberto havia sido escrito pelo diretor para o ator Will Smith, mas conta-se que Smith, mesmo aceitando o papel sem pestanejar, decidiu recusá-lo quando percebeu que não se encaixava nele, que talvez viesse até mesmo a comprometer o resultado final. Para se ter uma ideia de tamanha a complexidade e o peso do personagem. Eis que entra em ação Jamie Foxx e aqui fica minha ressalva: eu não gosto do Jamie Foxx. Não é o ator que eu odeio ou que deixo de ver o filme por tê-lo no elenco. O cara é excelente. O meu problema com ele é que eu o acho um ator arrogante demais, e nem mesmo isso justifica. Ele é fodão, um puta ator, tem todo o direito de ser tão arrogante quanto quiser, mas pra mim isso atrapalha a experiência de ver um filme com o sujeito. O que o Tarantino faz? Usa isso a favor do personagem. Django vai crescendo durante o filme, vai ganhando uma personalidade que se fortalece conforme cresce sua raiva, conforme aumenta seu desejo de vingança, ele vai ficando mais intimidador... É aí que você percebe que o Foxx foi feito pro papel, ele nasceu para ser Django. E ele ficou perfeito.
Waltz é outro monstro, o cara entra em cena e todos os holofotes se voltam pra ele, tudo converge para favorecer seu personagem, o caçador de recompensas e ex-dentista King Schultz. O cara é um matador sanguinário que se resguarda na lei e nas brechas dela para exercer o ofício. Um sujeito convincente e articulado que ganha qualquer um na lábia, chega na cidade matando o xerife e ainda é pago pra isso.
Sem falar do DiCaprio, um vilão assustador e extremamente carismático, totalmente surtado. O cara é a personificação do que há de pior na humanidade, compra escravos de fazendas e os obriga a lutar até a morte em brigas que você sente cada golpe como se fosse em você, cada pancada, cada osso quebrado.
Django Unchained é de longe um dos filmes mais violentos e corajosos do Tarantino, cheio de crítica, cheio de sarcasmo, de humor negro, agressividade, é seu trabalho mais maduro como diretor, como obra, seu melhor trabalho, o mais competente de todos.
É preciso dar o braço a torcer, ele se supera tecnicamente a cada filme.
Tecnicamente.
Mesmo assim, eu reitero: Pulp Fiction é o melhor filme já feito.

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3 comentários:

  1. Eu vi um cara comentando que o Cristoph Waltz/King Schultz é aquele que se delicia com as próprias palavras À medida que elas vão saindo de sua boca... e é isso mesmo! Ele gosta do que faz. Entrou no meu panteão junto com o DiCaprio e o Hopkins.

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  2. Django será, provavelmente, o melhor filme que verei esse ano. Não que eu subestime o que o cinema ainda irá me mostrar, mas a experiência de ver Tarantino pela primeira vez no cinema, foi algo sem igual, ainda mais para um filme do gênero de Django. Eu, uma pessoa totalmente avessa ao western, tive que abrir uma das maiores exceções que já fiz e que, devo dizer, não me arrependi nem por um segundo. Chegar no cinema, encarar um fila gigante, entrar numa sala lotada, procurar uma poltrona vaga, a ansiedade de assistir um Tarantino, a relutância por ver um western, tem o DiCaprio no filme, mas nem o Bradley me fez abrir uma exceção, mas era Tarantino.
    E então, acabou o filme e as únicas palavras que eu pude dizer foram "Cara, que filme foda!"

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