segunda-feira, fevereiro 18, 2013

Clube da Luta

Dia 49 - Felipe P. 47
Fight Club - 1999
Dir: David Fincher
Elenco: Bradd Pitt, Edward Norton, Helena Bonhan Carter.

AS 8 REGRAS DO CLUBE DA LUTA
1 - Nunca fale sobre o clube da luta;
2 - Nunca fale sobre o clube da luta;
3 - Somente duas pessoas por luta;
4 - Uma luta de cada vez;
5 - Sem camisa, sem sapatos;
6 - As lutas duram o tempo que for necessário;
7 - Quando alguém gritar "para!", sinalizar ou desmaiar, a luta acaba;
8 - Se for a sua primeira noite no Clube da Luta, você tem que lutar!

Você é um em 7 bilhões, nada te diferencia de ninguém e a cada momento centenas de milhares de pessoas estão lutando pra te fazer igual aos outros. Eles te dizem o que vestir, te dizem o que comer, eles te dizem o que assistir, do que gostar, no que acreditar, te isolam se você tenta pensar diferente, te criticam, te negativam.
Consumismo, dependência tecnológica, moda, mídia, padrões de beleza, politicamente correto, bullying, preconceito, depressão... Eles querem te padronizar, te fazer amar teu inimigo, querem te engordar pro abate...
E qual o objetivo?
Você se importa?
Clube da Luta não é um filme, é uma ideia. Uma ideia poderosa, como um desfibrilador. É como a descarga elétrica que te acorda, te faz abrir os olhos, que faz teu coração bater de novo quando a sociedade conseguiu te sufocar. É como uma porrada na cara, como um soco no estômago que te tira do coma e te põe em estado de paranoia.
Conta a história de um sujeito sem nome que compra coisas, que usa roupas e perfumes, que tem mesas de centro e pratos de porcelana feitos à mão por mão de obra barata de moradores de países miseráveis. Ele vê TV, trabalha e compra, como um círculo vicioso que mantém uma sociedade viciada. Uma sociedade que não se importa se você vive bem, não se importa se você tem saúde, não se importa se você se sente bem no seu trabalho, só se importa se você compra, se você gasta grana com coisas que não precisa para impressionar gente que você despreza.
O sujeito não dorme direito, se sente vazio, se sente incompleto e doente, como se tivesse algo o devorando por dentro, ele simplesmente não é capaz de pregar os olhos sem tomar uma pílula vermelhinha com alguma droga permitida pela sociedade e, quando ele vai ao médico e ele não receita nada pra ele, além de mascar raízes e tomar chás, o cara fica meio maluco. É quando o médico receita algo incomum. Grupos de apoio a gente moribunda: câncer, parasitas no sangue, caras com peitos enormes por conta de hormônios, sujeitos que foram literalmente castrados, ele conhece todo tipo de gente depressiva e em estado terminal que se pode imaginar, ele encontra a morte e o sofrimento cara a cara e isso o faz sentir...
Bem.
Ele começa a dormir feito um bebê depois disso.
A vidinha medíocre do cara, tão medíocre quanto a sua, sim, sua vida é patética e se ela tivesse uma cara eu bateria nela, muda drasticamente quando ele conhece Tyler Durden num avião. Tyler é uma agressão à vida, Tyler é um câncer. Ele se veste mal, ele não corta o cabelo, ele fala de boca cheia, mija na sopa que servem no restaurante em que trabalha e mora numa casa abandonada no meio do nada. A existência de Tyler é um erro de Deus.
E aquilo tudo é o primeiro choque de mudança que acontece na vida do nosso amigo sem nome, que pode ser qualquer um de nós. Pode ser eu, pode ser você... Você pode ser eu...
Um dia a casa do cara explode e todas as suas coisinhas, sua louça cara, suas revistas de compras, seus cosméticos e suas roupas de grife, tudo voa em direção ao céu, em chamas, num lindo show de destruição e morte, BOOM. A vida do cara acabou.
E ele poderia recorrer a seus amigos e parentes se tivesse algum, poderia pedir abrigo aos seus pais, seus irmãos, se seu orgulho deixasse, poderia pedir abrigo a Marla Singer, a louca que ele conheceu no grupo de apoio ao câncer de testículo, mas não.
Ele pede abrigo ao Tyler.
E ele diz sim, mas com uma condição: ele tem que bater forte, com toda a força que tiver, na cara de Tyler, uma coisa totalmente estúpida e sem sentido, uma coisa totalmente patética, dois caras se espancando sem motivo algum na frente de um bar, cercado de outros caras tomados por adrenalina e testosterona, querendo arrebentar a cara um dos outros. Eles se enfiam num porão sujo e fedido de um estabelecimento qualquer, e formam ali seu próprio grupo de apoio a homens impotentes. Garçons, motoristas, auxiliares de escritório, bancários, office boys, um bando de caras sem perspectiva, um bando de caras sem objetivo, um bando de gente vivendo mecanicamente, fazendo seu trabalho e ganhando salários miseráveis, um bando de caras que se junta, sem camisa, sem relógio e sem sapato, no porão de um bar pra se esmurrar até que um deles peça pra parar.
Nasce o Clube da Luta.
O Clube da Luta é como uma paródia aos grupos de apoio aos quais o sujeito sem nome se viu frequentando. Ele tem um orador, Tyler, ele tem doentes, ele tem gente que vai lá pra exorcizar seus demônios, contar seus problemas, chorar num ombro amigo, diante de pessoas que estão dispostas a ouvir. A única diferença é a forma como isso é feito:
Todos formam um círculo, debaixo de uma lâmpada gigante, daquelas dos clubes de sinuca, que ficam sobre as mesas, dois caras vão pro centro do círculo e se espancam até que o outro peça pra parar ou que desmaie. Essa é a terapia e, na verdade, eles não estão batendo uns nos outros, eles estão batendo em seus chefes, em seus inquilinos, em seus pais, professores da faculdade, no funkeiro que ouve música alta no ônibus, no motorista desgraçado que para na faixa de pedestres, nos policiais abusivos... Eles estão batendo na própria cara.
São lutas violentíssimas, os caras saem delas com hematomas, cortes, dentes quebrados, fraturas, levam pontos na cara, vão trabalhar no outro dia cuspindo sangue, com cara de quem foi atropelado. Mas saem de lá renovados, vão para suas casas e dormem feito bebês, beijam suas esposas, seus filhos, levam o cão para passear e, quando se encontram na rua, agem como se nada houvesse acontecido. Não há rivalidades no Clube da Luta, não há inimigos, não há problemas pessoais, nem revanches, nem cobranças... Apenas gente com problemas dispostas a ajudar umas às outras.
Uma coisa linda.
Até que foge ao controle e se transforma numa célula terrorista anárquica liderada por Tyler, explodindo prédios e causando tumultos generalizados, espalhando medo e dúvida, levantando questões que você jamais imaginaria se perguntar, te fazendo questionar sua própria vida...
O final de Clube da Luta é uma das mais aterradoras e incríveis ideias que podem habitar a mente (ou as mentes) humana. A ideia de que você é o monstro que a sociedade quer condenar, que você é o monstro que você tanto teme, o cara que aponta a arma pra tua cabeça e diz pra passar a carteira é apenas uma versão deturpada de você mesmo, é como um beijo de soda cáustica, nitroglicerina na cabeça e um soco na cara.
A ideia de que pra fazer um mondo melhor, com todos iguais, onde todos tem a mesma oportunidade, as mesmas chances, talvez seja preciso demolir o mundo atual, implodi-lo, destruir tudo e deixar todos ao mesmo nível do chão, sem patentes e sem títulos, sem classes sociais, todos num círculo, se espancando até que alguém peça pra parar.

1999 foi um ano épico para o cinema, no mesmo anos, às portas do novo milênio, a histeria coletiva, as teorias da conspiração, do fim do mundo, o fim de uma era... No ano em que todos estavam implorando que alguém impusesse ordem ao caos, vem aos cinemas Matrix e Clube da Luta, dois clássicos inquestionáveis, falando sobre libertação da mente de duas formas extremamente semelhantes, ao mesmo tempo em que totalmente diferentes.
Clube da Luta é um filme sujo, banhado em sangue e gordura humana e lavado no sabão imundo feito dos mesmos, cheirando a cachorro molhado e suor.
David Fincher, o gênio, entrega a adaptação extremamente fiel do livro Clube da Luta, do autor Chuck Palahniuk, estrelada por Brad Pitt como Tyler Durden e Edward Norton como o sujeito sem nome.
Aqui a ideia e a realização se tornam maiores que nomes no elenco.
O filme choca primeiro pela violência, depois pela ideia e, por fim, pela realidade. David Fincher descreve Clube da Luta como uma emancipação.
Eu descrevo como um parto. Alguém que te arranca de um lugar quente e confortável e te joga num mundo de violência e caos, enquanto todos fingem que tudo é belo e comum e que todos são tolerantes e amorosos.
E eu já me esgotei por hoje, se você chegou até aqui, deve estar me achando um maluco, se você pulou pro final pra ver como acaba, saiba apenas que Clube da Luta é um dos melhores filmes já feitos. Violência, caos, sabão e explosões.
Dentes quebrados e hematomas.
Sangue, suor e gordura, tudo misturado, colocados em saquinhos plásticos e amarrados em colunas de prédios, com pavios em suas extremidades, só resta acendê-los e vê-los explodir e espalhar estilhaços para todos os lados.
Eu diria uma obra prima, mas até a Monalisa tá caindo aos pedaços.
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