sábado, janeiro 26, 2013

Indomável Sonhadora

Dia 26 - Felipe P. 26
Beasts of the Southern Wild - 2012
Dir: Benh Zeitlin
Elenco: Quvenzhané Wallis, Dwight Henry e Levy Easterly

Fui ver Beasts of the Southern Wild (e falarei mais sobre esse nome depois) sem saber absolutamente nada do que se tratava. Vi algumas imagens, vi pessoas elogiando, me abstive das críticas, coisa que tenho feito bastante depois que o meu portal de cinema favorito virou uma bodega, me abstive dos trailers e fui lá, com a cara e a coragem, esperando ver mais uma produção superestimada daquelas que a academia indica por indicar. Esperava até menos que isso, achava que seria uma daquelas produções melancólicas cheias de piedade sobre gente sofrendo na miséria...
Que surpresa foi a minha ao perceber que se tratava, na verdade, de uma aventura. Uma aventura no mais puro sentido da palavra. No sentido de jornada ao desconhecido. De crescimento e de evolução.
Comecemos do começo.
O filme conta a história de Hushpuppy, uma garotinha de uns dez anos de idade que vive com o pai numa vila isolada do mundo por uma barragem. A barragem separa a vila de Hushpuppy, um lugar chamado “A Banheira”, do “mundo civilizado”, onde as pessoas são tristes e só tiram férias uma vez por ano, enquanto na Banheira os moradores tiram férias todos os dias.
A Banheira em si é um mundo paralelo: tem seus habitantes, suas histórias, suas regras e sua mitologia. É um lugar onde é proibido chorar pelos mortos, que são colocados em barcos em chamas e lançados ao mar. Um lugar com suas próprias lendas sobre o fim do mundo. Um lugar onde todos se conhecem, onde não há falsidade, todos são amigos verdadeiros e se você morre, pode ter certeza que seus amigos cuidarão dos seus filhos como se fossem deles.
A Banheira é um lugar como não existe no mundo.
Quem vê de fora, de longe, imagina que eles vivam numa miséria e numa grande tristeza, que eles não tenham nada e que passem fome, mas se você vê de dentro, a perspectiva que o filme nos concede, você percebe que eles tem tudo ali dentro, naquela comunidade incomum.
Mas a paz na Banheira é afetada por uma tempestade, uma daquelas que eles avisam sobre na TV, se você tem uma, se você sabe o que é isso. A tempestade rompe a barragem e inunda tudo, destrói casas, mata pessoas e, por algum tempo Hushpuppy e o pai são os únicos sobreviventes da tragédia. Ao mesmo tempo, o pai da garota sofre de uma doença desconhecida, que o está matando lentamente. Até os dois descobrirem o contrário: eles não são os últimos.
Mas muitos se foram, poucos restaram. E os poucos que restaram não vão reencontrar a paz com facilidade.
Algumas pessoas tem o dom de contar grandes histórias. E é impressionante a quantidade de história que Benh Zeitlin e Lucy Alibar, respectivamente diretor e roteirista, conseguem contar em pouco mais de uma hora e meia, sem vacilar, sem perder o ritmo e sem se tornar superficial.
Como eles conseguem dar características únicas a cada habitante da Banheira e como conseguem transformar os do lado de fora em seres pálidos e indistintos. São todos iguais aos outros, com suas roupas novas e seu jeito agressivo, como animais que acham que são maiores do que são.
Em certo momento Hushpuppy deixa tudo para trás e guia três outras crianças em suas próprias jornadas, cruzando o mar a nado. Elas encontram pessoas diferentes, que se vestem diferente, que falam diferente, que vivem diferente. Em poucos minutos de filme essa jornada é mostrada em detalhes mínimos e, esses poucos minutos são suficientes para mudar tudo.
Quando a menina regressa, que revê seus amigos e seu pai, ela está diferente. Dias atrás eu falei sobre rito de passagem e é exatamente disso que o filme trata.
De crescer e ver o mundo mudando ao seu redor, as regras caindo por terra, as crenças sendo desconstruídas, os conselhos que te deram, as coisas que te ensinaram...
O título nacional não descreve isso com clareza. Indomável Sonhadora... Pff... Parece filme da Dakota Fanning... Beasts of the Southern Wild,  algo como “Feras do Selvagem Sul”, quase intraduzível, mas que contem todo o poder sonoro que precisa para se traduzir em palavras o poder dessa história.
Se eu tivesse que descrever em uma palavra, só poderia usar uma: Épico.
Esse filme é um épico.
Uma aventura épica, guiada por uma trilha sonora épica, que não para nem por um segundo, triunfante! Edificante! Épica.

PS: não há nomes conhecidos no filme, todos os atores são amadores, o que não impediu Quvenzhané Wallis de, aos dez anos de idade, receber uma indicação ao Oscar de melhor atriz. Mas impediu o filme de se candidatar ao prêmio do sindicato dos atores.

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