Dia 31
Corvo Attano e sua indefectível máscara. |
Outubro de 2012, ante a um atropelo de lançamentos de bons
títulos (Assassin’s Creed III, Black Ops, Far Cry 3, etc.) lançar DISHONORED
pode parecer um ato de fé. Como atrair a atenção de milhares jogadores
exigentes para uma mecânica nova e um mundo inovador em meio a uma desvantagem tão elevada? Algo que a ARKANE STUDIOS e a BETHESDA certamente tinham consciência desde o inicio.
Uma ideia cheia de boas intenções, cercada de uma equipe motivada para criar algo mais que uma tendência de bases estabelecidas tem como resultado este game surpreendente em vários aspectos. Desde seu heterodoxo sistema de permitir ao jogador ter sempre o controle, sem precisar de sequências cinematográficas e roteiros mal intencionados, utilizar pela primeira vez o próprio desenho conceitual como produto final, ate substituir uma textura gráfica foto realista de um rosto, com todos os poros da pele fotografados a 10 megapixels por traços artesanais pintados a mão... Tudo isso é mais que uma declaração de intenções. É saber a todo o momento o que é conveniente a um jogo e não é conveniente ao mercado.
Uma ideia cheia de boas intenções, cercada de uma equipe motivada para criar algo mais que uma tendência de bases estabelecidas tem como resultado este game surpreendente em vários aspectos. Desde seu heterodoxo sistema de permitir ao jogador ter sempre o controle, sem precisar de sequências cinematográficas e roteiros mal intencionados, utilizar pela primeira vez o próprio desenho conceitual como produto final, ate substituir uma textura gráfica foto realista de um rosto, com todos os poros da pele fotografados a 10 megapixels por traços artesanais pintados a mão... Tudo isso é mais que uma declaração de intenções. É saber a todo o momento o que é conveniente a um jogo e não é conveniente ao mercado.
Manchemos um pouco a mão de sangue. DISHONORED é um dos jogos mais
surpreendentes do ano e de uma geração. Sua mistura – e escolha – entre
sigilo e ação se acomoda ao jogo como uma luva, tanto que sentimos que por mais
poderes que as possibilidades de uso permitam, precisaremos jogar de novo para
dar asas ao nosso lado mais agressivo. Uma das melhores mecânicas criada em um
game com tantas possibilidades, e isso faz com que não nos cansemos de jogar
tão facilmente.
Terminado o jogo em cerca de 20, 25 horas, fica a pergunta se
um jogo de sigilo com tantos poderes não se torna demasiado fácil. O nível de dificuldade
em DISHONORED não é fácil. Seu medidor de vida baixa muito depressa e seus
inimigos são mais difíceis, veem e ouvem melhor. É conveniente estar sempre
salvando seu progresso pois, uma vez que um guarda te descubra, é uma morte
quase certa. Ao carregar a partida e fazer uma nova atuação não gastaras
praticamente nada de elixires de saúde e manas, e isto pode fazê-lo parecer um
jogo demasiado fácil, mas há uma sensação de morte iminente que nos empurra
para a realidade. Sem os poderes sobrenaturais, Dishonored seria um jogo
impossível.
A força de Dishonored não esta apenas no seu sistema de jogo,
mas também em seu visual gráfico repleto de personalidade em cada rua ou beco,
personagem e textura que faz com que Dunwall,
a cidade, respire vida própria,
levando-a diretamente ao olimpo dos grandes universos criados digitalmente. Seu
desenho, uma mistura de cidade anglo-saxônica descuidada do século XIX com ares
futuristas, não é tão fácil de rotular como “steampunk”. Nem sequer “oilpunk”.
E é precisamente nesse inclassificável estilo que está sua intricada beleza.
Percorrê-la é um prazer para os sentidos. Misture-se a ela, aproveite suas
luzes e sombras, salte de telhado em telhado, utilize-a a seu favor e contra
seus inimigos... Um dos melhores exercícios arquitetônicos desde Assassin’s Creed. Cada cenário é sempre
mais do que precisas para cumprir seus objetivos. Uma enorme mansão não esta lá
apenas para te ajudar nisso, mas esta também recheada de muitos detalhes e uma
elegância de cores poucas vezes vista. Percorrê-la pode ser opcional, porém fundamental
se queres descobrir cada um dos segredos que o jogo esconde. Desde a Runas e os Talismãs que aumentam seu poder sobrenatural, quadros, cofres e
demais itens colecionáveis, até informações dos objetivos e Missões Secundarias que não descobrirás
de outro modo.
A base de DISHONORED
não é o combate. Este
pode ser evitado a todo custo, até o ponto de não matar ninguém em todo jogo e
nem sequer lutar uma só vez. Neste quesito há poucos jogos de sigilo dos quais
se pode dizer o mesmo. Planejar uma estratégia eficaz é uma de suas melhores
satisfações, poder misturar seu armamento letal com seus poderes, quebrando as
leis naturais e criando um novo paradigma de ação que dá um salto de qualidade
no efeito “bullet time”. A poucas semanas do lançamento do jogo, bastava dar um
passeio no Youtube para ver as incríveis combinações de poderes que se pode
realizar, como matar um inimigo com sua própria bala ou evitar uma morte
possuindo (no bom sentido) um inimigo.
Aplicam-se aqui conceitos que chegam a transcender o próprio
jogo. Temos a dualidade entre a vingança
e a compaixão. Matarás seus inimigos
que lhe desonraram? Pouparás a vida pelo bem da cidade e da justiça? Estas
perguntas tem impacto em seu ser, e sua marca no jogador poderá ser maior
utilizando o arquétipo do FORASTEIRO - uma espécie de deus neutro que nem julga e
nem condena – para tal fim.
The Outsider/O Forasteiro |
Se voltarmos a nossa pergunta inicial – como chamar a atenção para uma nova licença no final de uma geração
– nos damos conta que a resposta é simples: fazendo um trabalho tão magnifico quanto
corajoso. Os criadores de DISHONORED nunca se desviaram de seu objetivo.
Fizeram tudo tal e como queriam sem pensar que o público atual esta demandando
ações relativamente fáceis e eternas sequências cinematográficas que roubam o
protagonismo do jogo. DISHONORED é uma obra de arte, e basta jogá-lo para
entender que os videogames tem sua
própria linguagem. Pode ser que seu “alvo” de jogadores seja menor que os
dos chamados blockbusters que enchem as estantes das lojas e que objetivam o
mesmo núcleo de jogadores que pouco necessitam de análises e valorização para
apreciar o que significa DISHONORED. Que este texto acerte seu alvo e forneça
um pouco mais dessa valorização da perfeição como um grito desesperado a todos
aqueles jogadores que precisem de um último ato de fé.
Aqui, DISHONORED já deu o primeiro passo.
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Fico muito feliz pela contribuição que meu grande amigo Assis Oliveira dá a este imberbe site nosso. Faço minhas suas palavras - Dishonored é O Jogo de 2012. Teremos, mensalmente, a coluna UmPorMês - Games, com a colaboração do grande Assis.
Um abraço a todos e até a próxima!
Estou orgulhoso de participar deste projeto, espero estar contribuindo a altura. Os créditos das excelentes imagens usada nos post ficam por conta do meu amigo Michel, eu não teria escolhido melhores. A figura Outsider/forasteiro é emblemática.
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