Dia 21 - Felipe P. 21
2 Coelhoes - 2012
Dir: Afonso Poyart
Elenco: Fernando Alves Pinto, caco Ciocler, Alessandra Negrini, Thaíde.
Sejamos curtos e grossos: o cinema nacional é uma
desgraça.
E aí vem você, com seu nacionalismo barato e sua camisa
do Che Guevara me dizendo que não sei dar valor ao que é do Brasil. Sejamos
diretos. No começo desse ano De Pernas Para o Ar 2, um filmeco com estética de
novela da Record e com um elenco global, fez mais bilheteria que Argo, um filme
vencedor de dois Globos de Ouro. No ano passado foi a vez de Até Que A Sorte
Nos Separe. Antes disso foi Se eu Fosse Você...
O Cinema nacional azedou. Essa é a verdade. Esta é a
razão pela qual eu não pago 18 paus pra ver filme nacional no cinema. Por que o
que chega ao cinema é o soro do leite azedo.
Não me condene, em momento algum eu disse que não havia
nada de bom. O que há de bom na cena nacional é exceção. São obras ignoradas
por estúdios e distribuidoras. São obras das quais não se vê comercial no
intervalo da novela. São filmes que ganham prêmios no exterior por que aqui
dentro não tem espaço. O Cinema nacional tá tão podre e doente que os atores de
futuro estão pulando fora. Santoro, Alice Braga, Wagner Moura... Os atores de
talento tão lá fora e os diretores tão indo no mesmo caminho.
O cinema nacional chegou ao ponto de que, para ter
qualidade, tem que se espelhar no cinema de fora.
É aí que entra o filme que debateremos hoje.
2 Coelhos, de Afonso Poyart, é diferente do que tem sido
ofertado no mercado cinematográfico brasileiro. É um filme de ação que abusa da
edição veloz, da trilha sonora agressiva, de recursos visuais diferenciados e
da narração “americanizada” para contar uma história que exige um pouco mais do
expectador médio, do perfil básico do brasileiro que vê os filmes da Ingrid
Guimaraes e acha que aquilo é cinema. Faz uso de referências a cineastas
renomados como Quentin Tarantino e Guy Ritchie e de músicas estrangeiras de
bandas como Radiohead e 30 Seconds To Mars o tempo todo, sem medo e sem
vergonha, e isso é um verdadeiro ato de coragem.
Ele nos conta a história de Edgar, um sujeito da classe
média, Play Station, carro do ano, faculdade particular, que quando tem o
IPhone roubado tem ao mesmo tempo uma espécie de epifania. Percebe que vive num
país de corruptos e que as pessoas estão tão acomodadas com isso que ninguém
vai fazer nada pra mudar. E que ações pequenas, pintar a cara, balançar
bandeiras e xingar muito no twitter, não fazem diferença nenhuma. E o cara quer
mudança, o cara decide fazer barulho, ele quer causar estragos. E pra isso ele
parte para o terrorismo, bola um plano mirabolante que coloca a bandidagem
contra a politicagem de uma forma que um acabe com um outro, daí o título do
filme, dois coelhos com uma “caixa d’água” só.
Conforme a trama se desenrola, você percebe que a
história do IPhone era na verdade algo menor e totalmente sem importância e que
o plano de Edgar era mais antigo, mais elaborado, mais enraizado. Mais violento.
Que ele manipula pessoas, que ele mente e trapaceia e que ele está disposto a
ir até as últimas consequências para pôr o plano em prática.
E se você analisar com calma, vai perceber que 2 Coelhos
não foi feito pensando no público brasileiro, ele ataca o público brasileiro de
todos os lados, ofende mesmo, violentamente. Critica pesadamente. Outro ponto
que sustenta isso é o nome dos personagens. A maioria deles não é brasileiro,
apesar de ser usado em solo nacional. Edgar, Julia, Walter, Sophia... É um
filme pensado e executado pra fora, para outros povos. A prova disso é a
recepção no exterior, que foi bem mais calorosa que a de dentro. O público
americano, o pouco público que viu, se impressionou, há boatos de que se
planeje um remake, de que Afonso Poyart tenha conversado com grandes estúdios após
a repercussão do seu trabalho. O cara já tem um projeto com o Anthony Hopkins! Faz ideia do que isso significa?
Não que isso seja atestado de qualidade. Não, coisa
alguma.
Para alguns até quer dizer o contrário, basta ver quanta
gente criticou sem assistir e disse que não veria por que “Isso não é cinema
nacional”. Ridículo.
Uma coisa eu lhes asseguro: 2 Coelhos cumpre muito do que
se propõe.
Visualmente, tecnicamente falando, o filme é impecável. A
direção de Poyart é regular e consistente (mesmo que ele demore um pouco a dar
uma personalidade definida a seus personagens e que eles ), a fotografia e o
som são invejáveis e os atores são competentes. Fernando Alves Pinto, o
protagonista, é excelente, o resto do elenco não desaponta.
Não há do que reclamar nessa parte.
Então qual o problema?
Um dos fatores mais importantes de um filme, que se
sobrepõe a qualquer outro fator de uma projeção é o seu roteiro. Com um roteiro
bem escrito, uma história não precisa nem de atores, nem de efeitos especiais,
nem de som!
Agora, um roteiro ruim pode acabar com qualquer obra. Não
que seja o caso aqui, o roteiro não é ruim. Ele é deficiente.
São mais tramas e sub tramas e reviravoltas do que o
necessário, flashbacks demais, firulas demais, acabam tornando a história
confusa e, por vezes, cansativa. Por que há uma diferença, uma grande diferença
entre confuso e complexo e 2 Coelhos é confuso.
As motivações dos personagens são confusas. Quer dizer,
qual é a do caco Ciocler? O que é que se passa na cabeça do sujeito, tendo
Edgar feito o que fez? Tem um contexto filosófico na atitude que ele toma? Alguma
desculpa, alguma coisa? O próprio Edgar! Não há nada mais confuso que Edgar!
Enfim, 2 Coelhos vale a pena, vale muito a pena. Vale
pela técnica, pela diferença, pela possibilidade de evolução. E mesmo que tenha
um final totalmente covarde e prepotente, vale pela ideia de dar um rumo novo a
um cinema que definha, mesmo que seja um rumo já conhecido.
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