segunda-feira, janeiro 21, 2013

2 Coelhos

Dia 21 - Felipe P. 21
2 Coelhoes - 2012
Dir: Afonso Poyart
Elenco: Fernando Alves Pinto, caco Ciocler, Alessandra Negrini, Thaíde.

Sejamos curtos e grossos: o cinema nacional é uma desgraça.
E aí vem você, com seu nacionalismo barato e sua camisa do Che Guevara me dizendo que não sei dar valor ao que é do Brasil. Sejamos diretos. No começo desse ano De Pernas Para o Ar 2, um filmeco com estética de novela da Record e com um elenco global, fez mais bilheteria que Argo, um filme vencedor de dois Globos de Ouro. No ano passado foi a vez de Até Que A Sorte Nos Separe. Antes disso foi Se eu Fosse Você...
O Cinema nacional azedou. Essa é a verdade. Esta é a razão pela qual eu não pago 18 paus pra ver filme nacional no cinema. Por que o que chega ao cinema é o soro do leite azedo.
Não me condene, em momento algum eu disse que não havia nada de bom. O que há de bom na cena nacional é exceção. São obras ignoradas por estúdios e distribuidoras. São obras das quais não se vê comercial no intervalo da novela. São filmes que ganham prêmios no exterior por que aqui dentro não tem espaço. O Cinema nacional tá tão podre e doente que os atores de futuro estão pulando fora. Santoro, Alice Braga, Wagner Moura... Os atores de talento tão lá fora e os diretores tão indo no mesmo caminho.
O cinema nacional chegou ao ponto de que, para ter qualidade, tem que se espelhar no cinema de fora.
É aí que entra o filme que debateremos hoje.
2 Coelhos, de Afonso Poyart, é diferente do que tem sido ofertado no mercado cinematográfico brasileiro. É um filme de ação que abusa da edição veloz, da trilha sonora agressiva, de recursos visuais diferenciados e da narração “americanizada” para contar uma história que exige um pouco mais do expectador médio, do perfil básico do brasileiro que vê os filmes da Ingrid Guimaraes e acha que aquilo é cinema. Faz uso de referências a cineastas renomados como Quentin Tarantino e Guy Ritchie e de músicas estrangeiras de bandas como Radiohead e 30 Seconds To Mars o tempo todo, sem medo e sem vergonha, e isso é um verdadeiro ato de coragem.
Ele nos conta a história de Edgar, um sujeito da classe média, Play Station, carro do ano, faculdade particular, que quando tem o IPhone roubado tem ao mesmo tempo uma espécie de epifania. Percebe que vive num país de corruptos e que as pessoas estão tão acomodadas com isso que ninguém vai fazer nada pra mudar. E que ações pequenas, pintar a cara, balançar bandeiras e xingar muito no twitter, não fazem diferença nenhuma. E o cara quer mudança, o cara decide fazer barulho, ele quer causar estragos. E pra isso ele parte para o terrorismo, bola um plano mirabolante que coloca a bandidagem contra a politicagem de uma forma que um acabe com um outro, daí o título do filme, dois coelhos com uma “caixa d’água” só.
Conforme a trama se desenrola, você percebe que a história do IPhone era na verdade algo menor e totalmente sem importância e que o plano de Edgar era mais antigo, mais elaborado, mais enraizado. Mais violento. Que ele manipula pessoas, que ele mente e trapaceia e que ele está disposto a ir até as últimas consequências para pôr o plano em prática.
E se você analisar com calma, vai perceber que 2 Coelhos não foi feito pensando no público brasileiro, ele ataca o público brasileiro de todos os lados, ofende mesmo, violentamente. Critica pesadamente. Outro ponto que sustenta isso é o nome dos personagens. A maioria deles não é brasileiro, apesar de ser usado em solo nacional. Edgar, Julia, Walter, Sophia... É um filme pensado e executado pra fora, para outros povos. A prova disso é a recepção no exterior, que foi bem mais calorosa que a de dentro. O público americano, o pouco público que viu, se impressionou, há boatos de que se planeje um remake, de que Afonso Poyart tenha conversado com grandes estúdios após a repercussão do seu trabalho. O cara já tem um projeto com o Anthony Hopkins! Faz ideia do que isso significa?
Não que isso seja atestado de qualidade. Não, coisa alguma.
Para alguns até quer dizer o contrário, basta ver quanta gente criticou sem assistir e disse que não veria por que “Isso não é cinema nacional”. Ridículo.
Uma coisa eu lhes asseguro: 2 Coelhos cumpre muito do que se propõe.
Visualmente, tecnicamente falando, o filme é impecável. A direção de Poyart é regular e consistente (mesmo que ele demore um pouco a dar uma personalidade definida a seus personagens e que eles ), a fotografia e o som são invejáveis e os atores são competentes. Fernando Alves Pinto, o protagonista, é excelente, o resto do elenco não desaponta.
Não há do que reclamar nessa parte.
Então qual o problema?
Um dos fatores mais importantes de um filme, que se sobrepõe a qualquer outro fator de uma projeção é o seu roteiro. Com um roteiro bem escrito, uma história não precisa nem de atores, nem de efeitos especiais, nem de som!
Agora, um roteiro ruim pode acabar com qualquer obra. Não que seja o caso aqui, o roteiro não é ruim. Ele é deficiente.
São mais tramas e sub tramas e reviravoltas do que o necessário, flashbacks demais, firulas demais, acabam tornando a história confusa e, por vezes, cansativa. Por que há uma diferença, uma grande diferença entre confuso e complexo e 2 Coelhos é confuso.
As motivações dos personagens são confusas. Quer dizer, qual é a do caco Ciocler? O que é que se passa na cabeça do sujeito, tendo Edgar feito o que fez? Tem um contexto filosófico na atitude que ele toma? Alguma desculpa, alguma coisa? O próprio Edgar! Não há nada mais confuso que Edgar!
Enfim, 2 Coelhos vale a pena, vale muito a pena. Vale pela técnica, pela diferença, pela possibilidade de evolução. E mesmo que tenha um final totalmente covarde e prepotente, vale pela ideia de dar um rumo novo a um cinema que definha, mesmo que seja um rumo já conhecido.
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