SE VOCÊ AMA ALGO, ESTEJA SEGURO DE SER AMADO TAMBÉM. DO CONTRARIO VOCÊ SÓ TERÁ PROBLEMAS.
Ninguém sabe ao certo quem é o herói ou vilão desse fascinante universo criado por Patrick Rothfuss. Na realidade essas duas figuras se concentram em Kvothe ou Kote, um homem enigmático que se esconde sob a identidade de proprietário da hospedaria Marco do Percurso. Da infância numa trupe de artistas itinerantes, passando pelos anos vividos numa cidade hostil e pelo esforço para entrar na escola de magia. O Nome do Vento e o Temor do Sábio acompanham trajetória de Kote e as duas forças que movem sua vida: O desejo de aprender sobre o mistério por trás da arte de nomear as coisas e a necessidade de reunir informações sobre o Chandriano - os lendários demônios que assassinaram sua família no passado. (Sinopse).
Quem aprecia os bons livros sabe que uma rede de amigos que curtem uma leitura é um requisito importante para ser informado quando algo realmente distinto aparece nas prateleiras das livrarias, e as vezes, até para lhe emprestar. Isso é importante. Felizmente eu tenho gente assim que me alerta quando algo aparece. Esta saga me veio pelas mãos do meu irmão Michel e não posso deixa-lo de agradecer. Eu não me perdoaria se perdesse algo assim. Obrigado.
O ano passado foram centenas de livros de fantasias lançado mundo afora e alguns chegaram por aqui e continuam chegando. Poucos com a característica distinta dessa serie épica - em que se promete uma trilogia pelo menos -, de reinventar o gênero e a formula de se fazer sucesso. Nos anos 1990 o jeito de se escrever o gênero foi reinventado com A Guerra dos Tronos, o primeiro livro da série Cronicas do Gelo e do Fogo saída da imaginação de George R.R. Martin e rapidamente se tornou um sucesso literário que culminou em série televisa de igual sucesso. Pois muito bem, A Crônica do Matador do Rei - com seus dois primeiros livros já no Brasil, é uma daquelas obras seminal que prenuncia uma mudança no modo de abordar o gênero fantasia, com a igual importância da obra de Martin.
Mesmo dentro de um gênero já muito bem definido as aventuras de Kvothe é um alento e uma renovação no jeito e estrutura de se contar uma saga épica. Num mundo povoado de heróis, que mesmo possuindo os traços peculiar do heroísmo, algumas vezes se sobressaem por seus caráter um tanto arrogante, Kote é quase um herói relutante que não molda suas ações no desejo da fama e do reconhecimento. Há muita humanidade nele e um conhecimento profundo da humanidade que o cerca, que o faz diferente. Antes que os traços de heroísmo surjam em Kote, ele se move primeiro em direção aos seus objetivos e interesses próprios e não rumo aos atos heroicos. Um artista versado na arte de interpretar papeis, herança de seus pais líder de uma trupe itinerante de artistas, um musico, um bardo contador de histórias e um habilidoso instrumentista nas cordas de um alaúde. Esse é o verdadeiro Kote e essas são suas habilidades originais, antes de dominar a arte arcana da magia. Seu desejo de entrar para escola arcana e acessar os conhecimentos guardados na sua milenar biblioteca em busca de informações que levem aos assassinos dos seus pais, são os seus primeiro impulsos para o mundo. Antes de chegar a Universidade, ainda um garoto os anos perambulando e lutando para sobreviver em meio a agruras e dificuldades de uma desconhecida e hostil cidade forjaram a dureza e a esperteza no infante Kote, mas que foram tão necessárias em outros momentos de sua vida.
Toda sua saga é relatada em primeira pessoa por ele mesmo a um escriba que o procurava motivado pelo desejo de contar a verdadeira história por trás da lenda que ele se tornou. Enquanto nosso herói se divide entre cuidar da taverna Marco do Percurso e os ensinamentos do seu protegido. O escriba toma nota da verdadeira história e cuida de captar adequadamente o verdadeiro homem por trás dos boatos.
O que distingui a saga de outras centenas de livros de fantasia é justamente a abordagem diferente do autor. Mesmo sendo uma obra de alta fantasia ela é mais dedicada em descrever a essência do personagem, suas aflições e dilemas, desafios e traços de caráter que os aspectos geográficos como seria de se esperar para quem conhece o gênero.É mais importante aqui tratar da formação do personagem como um ser lendário e cercado de mistérios que vão sendo habilmente revelados pelo autor num suspense que prende o leitor. Não se trata de descrever quantas janelas tem um castelo, ou contar as folhas de um bosque. Claro que o ambiente não foi esquecido, ele é mesmo necessário em toda boa trama, mas ele vem em doses certas e permitindo ao leitor um maior exercício de imaginação.
Aqui o que se destaca é a escolha do estereótipo do personagem pelo autor. Nos temos na Fantasia um sem números de historias descritas com a a figura do guerreiro bárbaro ou cavaleiro, mago, druida ou feiticeiro, mas o bardo dotado de incrível talento musical e rara aptidão mágica como o Taliesin do folclore celta é algo pouco visto. Ele sempre foi ou mal descrito ou relegado dos cânones da fantasia.
Continuando pelos aspectos que fazem destes livros um destaque no gênero, um dos que mais contribuem para isso e a narrativa dividida em dois tempos. Quando ele nos é apresentado no primeiro capitulo, é o presente onde Kote é apenas um simples taberneiro, narrado em terceira pessoa, ou o narrador-onisciente. E depois quando trata do passado de Kote descrevendo sua história de vida; narrado em primeira pessoa, ou o narrador- personagem. Essa troca de foco pode parecer superficial para quem ainda não teve contato com a obra, mas ela faz toda diferença para a forma como os fatos são apresentados. Vamos assim, pelos olhos de Kote, e nos surpreendemos sempre compartilhando suas duvidas e fugindo dos caminhos óbvios que determinados textos podem apresentar.
As vezes me irritei com seu excesso de cuidado com as mulheres, principalmente com aquela que ele ama a seu jeito, com um cuidado zeloso por medo de que ela lhe escape. Ele encanta a todas as personas femininas que cruzam seu caminho, mantem uma paixão por uma, mas sua iniciação sexual acontece nos braços de uma figura mítica que ele já ouvirá em canções e que não imaginará mesmo existir. É nos seus braços, onde a maioria dos homens sucumbe a morte por esgotamento ou a loucura da paixão por algo que não se pode ter, que ele realmente conhece a mulher no sentido pleno. Escapa graças as sua habilidades arcanas e seus encantos poéticos. É apenas uma, entre as fantásticas narrativas da história que diz muito sobre a personalidade do nosso herói.
Com nosso herói sendo um contador de história, e com muitos outros personagem que encontraremos sendo também contadores de histórias, preparem-se para vária sub-narrativas que são outras historias dentro da história maior do nosso Kvothe. Isso contribui para a riqueza do texto, que sem nunca nos cansar, servem ainda para uma pausa bem vinda da aventura maior.
Há uma verdadeira sensação de imersão no estilo que nos conduz a sentir-se uno com Kote em todos os momentos de sua narrativa. A riqueza de detalhes de alguns textos é aqui devidamente substituída por algo que produz uma empatia e um mergulho em sua personalidade única de Kote. As vezes rude, mas nunca soberbo, ele vai pelo mundo que o cerca fazendo amigos e inimigos e nos transportado junto com sua inteligência única e as vezes com sua sensibilidade poética e musical. É um herói em tudo diferente que não carrega consigo um passado muito traumático, apenas o necessário para lhe dar um sentido de busca. Não faz inimigos mortais exceto aqueles que se ofendem vaidosamente por seus encantos de garoto que sabe mais do que devia, e os que são despertado pela inveja de sua jovialidade. Não estou certo se teremos mais do Kote adulto, na taberna não estamos seguro de sua idade, a cronologia é um tanto confusa e o próprio kote narrador não deixa pistas de sua verdadeira idade. De todo modo o que se percebe é que ele sempre foi uma alma ancestral que despertou cedo seu outro adormecido, talvez, seja justo isso que o faz tão encantador para quem ler e para que cruza seu caminho.
Para finalizar, o texto poderia ser descrito como uma prosa poética devido a beleza e a complexidade das colocações ao longo dos livros, o que é mais que sensato em se tratando de uma obra que tem como personagem principal um bardo. Que venha o terceiro logo.
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