terça-feira, julho 30, 2013

Night Drive - Chromatics, ou: Abismo de Nada

Dia 211. Michel 187.

Dirigir à noite é uma experiência que pode ser assustadora e sublime ao mesmo tempo. Digo isto como motorista que tenta - ao máximo possível e impossível - ser prudente; e digo isto enquanto motorista que, eventualmente, precisa estar sozinho à noite. Som ligado.




Janelas abertas enquanto o vento entra e passeia pelo carro. Adiante apenas a lanterna dos outros - raros - carros, o facho de luz dos faróis e a estrada cheia de possibilidades e surpresas. A morte rondando a cada centímetro rodado, a cada curva, a cada escuridão adiante. 

Nessas horas todas as suas vidas - possíveis e imagináveis - passam diante dos teus olhos, num desfile meio catatônico e caleidoscópico de imagens/sons/aromas/texturas. Momentos que foram e que poderiam ter sido, promessas realizáveis e possíveis naufrágios... tudo isso enquanto o carro consome, civilizadamente Conquistador, metros e metros de asfalto numa velocidade que pode ser suficiente pra te fazer chegar ou pra te fazer sumir da história.

É mais ou menos isso que se sente ao se ouvir "Night Drive", terceiro disco do grupo FODÁSTICO chamado Chromatics.

Esse álbum tem tudo a ver com aquela paisagem fugidia passando pela janela. Uma metáfora da vida, talvez. Perseguir os instantes e a felicidade como se tentássemos capturar a essência das coisas... tudo é vão.

Luzes coloridas, sintetizadores. O som do Chromatics soa totalmente dentro da noite, algo eletro-orgânico cheio de vitalidade e de razões quânticas - um ser/ou/não ser escrito em zeros e uns. Bebidas, mulheres, carros, noite após noite, tédio após tédio - ao fim de tudo há apenas dias vazios que não podem ser preenchidos com as nossas expectativas vazias.



No fim há apenas aquele inquietante abismo de Nada que te olha de volta quando você o encara.

Finais e começos, tudo uma questão de posicionamento e de movimento. Nada demais, nada de menos.

Um disco que derrama beleza em forma de ruído de motor e rugido de vento. O som do carro ligado, velocímetro apontando num ângulo meio imprudente, motor cantando ou praguejando contra a necessidade insana de ir, apenas ir adiante.



É noite, e o Abismo do Nada nos chama com uma voz por demais doce e profunda.



Dirija com cuidado, pois a noite é uma criança desatenta, egoísta e extremamente desesperada.

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