Dia 210. Michel 186.
Procurar. Sempre sair de si, mesmo que doa - e sempre dói. Amar é doer, sofrer, sacrificar, perder-se de si mesmo num perpétuo deixar ir, deixar-se ir, diluir-se até que não sobre nada além de lembranças.
Keaton Henson entende isso com sua voz meio aguda e dolorosa. Ele entende de sentidos e de sentimentos, de toque, de promessas e de juras de amor destruídas pela realidade e pelo passar do tempo. Ele entende das texturas da manhã e das chuvas, da neblina, do frio e da solidão.
Keaton Henson é um poeta dos dias terminais.
Sua música é angustiante e verdadeira. Sua dor é real e honesta. Seu lamento é justo e sólido, maciço, poderoso. Intenso.
Seu primeiro disco, "Dear...", lançado em 2010, mostra-nos a face/voz de alguém que se entrega de maneira tão profunda à sua música que escutá-lo e fazer par com ele, embarcar em sua viagem, trocar segredos. Ele é aquele amigo que caminha contigo por aquela rua deserta no fim de tarde, e que escuta as tuas queixas, e que te mostra que, "Ei, cara, estamos no mesmo barco, entende? Eu já amei assim também, e sempre termina mal. Mas eu sempre me apaixono de novo e de novo, enquanto este velho coração aqui aguentar. Por que é de minha natureza gostar de alguém assim, loucamente, sem amarras, sem retorno".
Poesia pura.
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| "Charon". |
É. Isso também.
Que possamos sempre combater aquele nosso desejo bobo de sermos felizes a qualquer custo, porque, como já diria Guimarães Rosa, "Viver é muito perigoso... Porque aprender a viver é que é o viver mesmo... Travessia perigosa, mas é a da vida.".
Que tenhamos uma boa noite. Abraços e boas músicas.
"As coisas assim a gente não perde nem abarca. Cabem é no brilho da noite. Aragem do sagrado. Absolutas estrelas". (Guimarães Rosa).




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