Dia 196. Michel 177.
Lenine é um dos músicos-poetas mais violentos e virulentos do atual panorama musical brasileiro. Ele doma as palavras, dobra-as à sua vontade, usa-as a serviço de suas mensagens. É necessário ter muito poder para esculpir as palavras dessa maneira. É necessário ser um exímio ferreiro das artes musicais, e disso ele entende.
"Dentro do meu peito um desejo martelo
E uma vontade bigorna."
Hoje falaremos de "Labiata", seu trabalho de 2008. Deixa o som rolar enquanto tu lê a postagem.
Lenine, como todo bom nordestino que se preze, fala e canta com as entranhas. Tudo dele é metálico, sanguíneo, solar e poeirento. Mas há nele também o aspecto de cidade, aquele cansaço angustiado que somente as metrópoles sabem te dar, o peso que elas - as grandes cidades - jogam sobre ti: o peso dos séculos, da cobrança, do crescimento desenfreado, da miséria, da indiferença, da exploração, do esquecimento, da dor.
Lenine é rua e sertão.
Este também é o disco mais variado em estilos de Lenine. Samba, Rock, música regional, batidas eletrônicas... ele viaja e constrói junto com o ouvinte panoramas possíveis e impossíveis, texturas, marcações profundas... um trabalho de uma sonoridade e uma poesia tão ricas que é impossível escutá-lo impassível. Mais cedo ou mais tarde você se pegará cantando e concordando com o jeito, a voz e as verdades de Lenine.
Chamo especial atenção para as músicas "Martelo, Bigorna", "É O Que Me Interessa" e "Ciranda Praieira" - esta última, por sinal, tem me ajudado a colocar a Maria Julia para dormir à noite. Ela e eu adoramos.
"Labiata" é uma obra prima, o mais urbano e seus trabalhos, mas sem perder sua identidade.
Até a próxima, e tenham todos uma boa semana.
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