Gabriel O Pensador - Um rapper questionável, um artista multifacetado

Dia 200. Giovanildo 01.

Gabriel Pensador é um artista que alicerça sua musicalidade na poesia, e quando o artista consegue samplear a poesia com bom humor e uma preocupação política, apesar de até um certo ponto adolescente, faz uma obra-prima como foi o primeiro cd do Gabriel O Pensador. Ele é um cara que cantou um estilo de música que fazia parte de sua musicalidade, o Rap, mas se nota já nesse cd que na verdade ele não estava muito preocupado em fazer uma carreira de Rapper mas na verdade expressar sua visão de mundo. Cada música, desse álbum tem uma temática, parece que ele pegou um mote de ideias e foi agrupando e musicando, registrando assim as frustrações e indagações dele e de muita gente que até hoje se identifica com uma obra que apesar de ter ai seus 20 anos de lançamento continua com indagações que vemos nas ruas, nas manifestações, no espírito do povo de cobrar por seus direitos, de comentar sobre a vida política do país e de fazer arte como vemos nas diversas manifestações, aqueles cartazes com frases bem boladas, inteligentes, e bem humoradas, é também algo que se vê no trabalho desse cantor.
Esse cd tem história. Meu irmão me emprestou pra ouvir ai eu cai na besteira de emprestar para outra pessoa, resultado esse cd viajou por um ano pra Itália somente conseguindo ele de volta com muita investigação e coincidências.

Tô feliz Matei o Presidente -  é hilária e foi até mesmo censurada, revela aquela alma sarcástica, de humor negro. Colocar a nossa ira em um assassinato do então presidente Fernando Collor de Melo, fazia naquele momento a gente extravasar a raiva e a tensão no momento.
Lôra Burra - É interessante que no final da música ele se corrige dizendo que "existe lora burra, negra, morena ou natural" e acaba não caindo no preconceito que os mais politicamente corretos iriam bater em cima.
Indecência Militar - Quem em sã consciência não quis cantar essa música, no caminho para aquela p*** daquela apresentação militar, que é obrigatório mas é uma incoerência, visto que estamos em uma democracia, como o próprio diz na música.
Lavagem Cerebral - Aborda os preconceitos de uma forma geral, mas mais especificamente do preconceito racial dando uma aula das nossas origens e da irracionalidade devido a sermos justamente uma miscigenação, que talvez seja a maior do planeta.
...e você - Aqui ele quer deixar bem claro que o trabalho dele é música, é arte, e que apesar de brasileiro, carioca, cantar rap, e outras características que o tornam um artista local, a sua obra tem influências múltiplas, o que o torna um artista do mundo. Mostra que ele não quer colocar correntes na sua obra e que valoriza tudo o que ele é. Do mais simples ao mais sofisticado.
Retrato de um playboy - Essa é uma música que a gente sempre quer cantar, que no fundo temos indignação com pessoas que acham que porque nasceram em berço de ouro podem pisar, destratar outras, pela simples questão da origem humilde. Esculacha também no vazio do personagem playboy como alguém que sempre teve tudo na mão e por isso se torna uma pessoa fútil sem valores.
Nada Especial - Uma música engraçada, que de uma forma aparentemente despretensiosa vai mostrando as problemáticas da cidade, o caos do dia-a-dia urbano, o desrespeito com o ser humano. Algo curioso aqui é a participação do Ronaldo Fenômeno como trocador do ônibus 175.
Esparanduquê - É um soco no estomâgo, é um tiro curto, é uma navalha diretamente na ferida. Uma sacudida de verdade na nossa cara, cara-a-cara com o povo brasileiro.
O resto do mundo - Foi a pior música do cd na minha opnião, lento, sem graça, sem a tão famosa rapidez de sua rimas. Fala de um mendigo que o sonho era morar numa favela, tipificando uma pessoa no fundo do posso e chamando a atenção para uma realidade que vemos tantas vezes nas ruas do nosso Brasil. Mas por incrível que pareça foi a música que levou o Gabriel para Portugal.

Sem palavras, álbum muito marcante, riquíssimo e de um frescor de poesia e música singular.