Dia 187. Michel 172.
De volta ao universo maravilhoso e sombrio do fado com a incrível Dulce Pontes em uma coletânea intitulada "Best Of...".
Neste disco podemos ver o talento desta mulher que é considerada a sucessora natural de Amália Rodrigues, com todo o seu sentimento, sua inventividade e seu amor pela música portuguesa. Pode-se sentir aqui cada gota, cada textura, cada momento de uma vida e de seus amores, embalados pelo leve e intenso cantar desta bela mulher e sua voz monumental.
Neste álbum, sua voz soa clara e totalmente sob controle. Quanto amor sai dali, daquela alma!
Apesar de esta ser uma coletânea que privilegia os fados, Dulce é uma cantora de vários estilos, do pop ao clássico, revelando-se uma artista versátil e criativa, que une a tradição do fado a arranjos e instrumentos modernos, trazendo este que é um dos mais belos ritmos musicais do mundo sob uma nova roupagem, tornando-o acessível às novas gerações, que também poderão se apaixonar pela música portuguesa por excelência.
Deixo vocês com essa cantora ímpar, e se não me estendo demasiado aqui é por ter falado demais sobre o fado no post sobre Amália - http://www.01pordia.com/2013/07/a-arte-de-amalia-amalia-rodrigues-ou.html.
Deixo-vos com Fernando Pessoa, enquanto desejo que se apaixonem por Amália, Dulce e pelo Fado, que é a fronteira do amor que se foi e que se encontra para nós perdido para sempre.
--------------------------------------------------------------------------
O FADO E A ALMA PORTUGUESA
"Toda a poesia - e a canção é uma poesia ajudada - reflecte o que a alma não tem. Por isso a canção dos povos tristes é alegre e a canção dos povos alegres é triste.
O fado, porém, não é alegre nem triste. É um episódio de intervalo. Formou-o a alma portuguesa quando não existia e desejava tudo sem ter força para o desejar.
As almas fortes atribuem tudo ao Destino; só os fracos confiam na vontade própria, porque ela não existe.
O fado é o cansaço da alma forte, o olhar de desprezo de Portugal ao Deus em que creu e também o abandonou.
No fado os Deuses regressam legítimos e longínquos. É esse o segredo sentido da figura de El-Rei D. Sebastião".
14-4-1929
Sobre Portugal - Introdução ao Problema Nacional. Fernando Pessoa (Recolha de textos de Maria Isabel Rocheta e Maria Paula Morão. Introdução organizada por Joel Serrão.) Lisboa: Ática, 1979.
- 98.



Nenhum comentário:
Postar um comentário
Obrigado por comentar no 01Pd! Seja bem vindo e volte sempre!