Dia 203, Felipe Pereira 189
Inglorious Basterds - 2009
Dir: Quentin Tarantino
Elenco: Brad Pitt, Mélanie Laurent, Eli Roth
Sabe de uma coisa, Utivich? Acho que
esta é minha obra prima.
Você já deve ter me visto falar de obras do Tarantino por
aqui, sabe que eu dou uma surtada leve, fujo do tema (e do controle), começo a
falar coisas sem sentido, me derramo em elogios ao sujeito...
Não vai ser diferente desta vez...
Bastardos Inglórios começa em uma fazenda. O patriarca de
uma família de franceses corta lenha no lado de fora de casa enquanto suas
filhas estendem roupas no varal. Nesse momento uma comitiva nazista se aproxima
em seus veículos luxuosos. O líder deles desce de seu carro acompanhado de seus
subalternos. Aproxima-se do patriarca de forma cordial e ameaçadora e o faz uma
proposta: ou ele entrega a família de judeus que ele esconde em sua casa ou ele
e toda sua família (e os judeus) serão executados ali mesmo.
O homem, relutante, com a consciência nublada, não vê
outra opção a não ser entregar a família. Ali dentro os soldados nazistas
atiram contra o chão de madeira, em direção ao compartimento sob a casa onde
homens, mulheres e crianças se abrigam, matando a todos. Exceto a uma: Shosanna
(Mélanie Laurent). Enquanto Shosanna foge, banhada no sangue de sua família, o Coronel
Hans Landa (Christoph Waltz) se delicia do desespero da jovem, com um sorriso
cativantemente sádico estampado em seu rosto.
-Au revoir, Shosanna!
São as últimas palavras que a jovem ouve do algoz de sua
família antes de se embrenhar na floresta e nunca mais ser vista.
Bastardos Inglórios conta a saga de um grupo de judeus
durante a Segunda Guerra Mundial que se une para espancar, matar e massacrar da
forma mais cruel e sanguinária possível qualquer nazista que decida cruzar seu
caminho. Liderados pelo Tenente Aldo Raine (Brad Pitt, genial), os Bastardos,
como são chamados, bolam um plano para encurralar e matar o próprio Hitler
mesmo que isso envolva sacrificar as próprias vidas e a de seus companheiros. Porém,
em seu caminho está ninguém menos que o mais notório e empenhado coronel de
Hitler: o alemão Hans Landa, um homem sádico, cínico e extremamente carismático
que ama seu trabalho e vive para executá-lo da forma mais competente possível.
Para bater de frente com os nazistas e, de tabela com
Landa, Aldo Raine e sua fiel patota de judeus furiosos e vingativos saem pela Europa
recrutando soldados dispostos a fazer o sacrifício que for para arrancar o
escalpo de um nazista e acabar de uma vez por todas com a guerra (pelo menos
daquele lado da guerra). Mesmo que isso signifique recrutar soldados de ambos
os lados do campo de batalha, sejam eles judeus ou até mesmo nazistas
renegados.

Enquanto isso, longe dos olhos e dos ouvidos dos
nazistas, Shosanna planeja por conta própria, ao lado de Marcel (Jacky Ido),
seu cumplice e amante que uniu-se à sua luta visto que, caso triunfe, ele só
tem a ganhar, uma forma de pôr com as próprias mãos um fim ao domínio nazista sobre
a Europa e, de tabela, vingar-se do homem que massacrou sua família como gado.
O problema é que Landa chega no pedaço e decide usar o estabelecimento de Shosanna,
um cinema do qual ela e Marcel tomam conta, para exibir um filme biográfico
sobre um soldado nazista que sozinho vitimou um exército judeu, do alto de uma
torre enquanto toda sua companhia havia sido morta. O soldado se chama Fredrick
Zoller (Daniel Brühl), ele estrela o filme, chamado Orgulho da Nação,
interpretando a si mesmo e, ao ver Shosanna, imediatamente se encanta pela
moça.
Bastardos Inglórios tem dezenas de personagens, cada um
com sua devida importância, cada um interpretado por um ator fantástico dando o
máximo de si, cada um ocupando um segmento específico que interage ou não com
todos os outros segmentos, em uma história ousada e intrincada da qual eu
poderia escrever pelo menos mais duas postagens se quisesse e pudesse cobrir
tudo.

Aqui Tarantino pega o background histórico e o subverte
despudoradamente, muda os rumos da guerra, rescreve finais conhecidos, adiciona
personagens fictícios mesclando-os a fatos históricos, mata figuras em momentos
que a história em si não poderia prever e entrega o filme mais maduro, criativo
e alucinado de sua carreira. O que se vê aqui é um outro tipo de diretor, um
tipo que mistura referência pop a ficção e realidade, muda a história como se
ela fosse escrita por ele mesmo e adiciona a ela uma dose cavalar de humor
inteligente e violência bruta e crua.
Bastardos Inglórios é um marco na carreira de Tarantino,
fez até mesmo aqueles que torciam-lhe o nariz darem o braço a torcer. É um
filme épico, empolgante e envolvente, mas nem por isso leve. É tenso e dramático,
cheio de personagens geniais, como Raine, interpretado por Brad Pitt carregando
um sotaque caipira e entregando um dos melhores e mais soltos personagens de
sua carreira. Mas quem rouba a cena aqui é o até então pouco conhecido
Christoph Waltz interpretando o coronel nazista que amarra todos os núcleos da
trama e espalha o terror por ela, com sua fala mansa, seu sorriso crocodilesco
e seu carisma inacreditável.
O final de Bastardos é explosivo, ousado e criativo,
totalmente inesperado... Você fica em choque pela coragem do diretor de chegar
e sair deixando um rastro de destruição e chamas por onde passa. Bastardos
Inglórios é a história como ela deveria ter acontecido, é o passado vingado
pelas mãos e pelos olhos de um dos mais brilhantes diretores da atualidade:
Quentin Tarantino.
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PS: Hoje completamos 500 postagens e em breve estaremos fazendo 200 dias. Fique de olho, você não perde por esperar ;)
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