terça-feira, maio 07, 2013

Vermelho Como o Céu

Dia 127 - Felipe Pereira 120
Rosso Come il Cielo - 2006
Dir: Cristiano Bortone
Elenco: Francesco Campobasso, Luca Capriotti, Marco Cocci

Já mencionei por aqui meu curso de logística, um negócio meio maluco que, em certos dias, os instrutores decidem simplesmente não dar aula e nos exibem um filme. Normalmente coisa que eu já vi ou que não me interessa. Dia desses foi 300, até falei por aqui. Outra vez foi um filme sobre um tubarão que come o braço da menina do Ponte Para Terabitia, negócio tosquícimo. Hoje foi um bagulho mais refinado, drama europeu de primeira categoria... Um filme italiano chamado Vermelho Como o Céu.
Na trama acompanhamos Mirco, um garoto de dez anos como qualquer outro garoto de dez anos. Daqueles sem grandes preocupações, cheio de amigos, brincadeiras na rua, quer dizer, qualquer garoto de dez anos exceto eu quando tinha essa idade. Eu era meio que uma entidade, algo que saia na rua uma vez a cada dez anos. Uma vez até me aventurei a jogar bola com uns garotos das redondezas e... Não Acabou bem.
Mas voltemos ao filme...
E a vidinha do garoto segue nessa de brincadeiras na rua, escola, amigos, casa, até que, um dia, ele se vê sozinho em casa e decide brincar com a espingarda do pai, que dispara por acidente e acaba por deixa-lo quase que completamente cego.
E, o filme se passando na Itália dos anos 70, uma lei impedia que o garoto continuasse frequentando a mesma escola que as outras crianças, o que faz com que ele seja mandado para um colégio interno para garotos cegos, coisa extremamente específica.
E é nesse lugar, uma escola católica, que se desenvolve toda a história. Um lugar onde o jovem tem de aceitar a nova condição (que vai piorando com o passar do tempo), onde fará novos e preciosos amigos e causará revoluções inacreditáveis.
E é nesse lugar onde ele vai desenvolver uma técnica própria e um tanto rudimentar de edição sonora que vai dar um rumo totalmente inesperado à história.
O que mais me impressionou no filme não foi a trama (que é interessante pacas), foi a técnica. O diretor Cristiano Bortone tem uma técnica muito diferente de filmar, uma coisa meio claustrofóbica e surreal, dando closes de forma milimétricas em elementos, objetos e rostos, olhos esbranquiçados pela cegueira, seja de Mirco ou dos outros garotos, alguns realmente cegos. Em uma cena ele foca no perfil do protagonista frente à uma janela turva e vai aproximando a câmera do vidro numa perspectiva em primeira pessoas dando uma ideia da forma como o garoto passou a enxergar apenas sombras e vultos, é um negócio tão simples, mas tão prático e inteligente que... Saca?
Em outro ponto, mais adiante, o protagonista acorda no meio da noite, ainda com seus resquícios de visão que o permitiam enxergar apenas luzes muito fortes, e liga uma lâmpada. E desliga e liga outra vez e desliga mais uma vez, até que uma freira chega e ele avisa a ela que a luz está queimada... É uma coisa muito angustiante, mas muito inteligente e dramática sem cair no melodrama da piedade...
E piedade é o que o filme menos pede do expectador, o próprio Mirco se deixa cair em pouquíssimos e minímos momentos de autopiedade, coisa que simplesmente passa ao perceber que os olhos são o que menos importam, dá pra enxergar de um milhão de formas diferentes...
Em certos momentos “Vermelho” assume a ótica de alguém que tem um mínimo de visão, você só vê luzes fortes, sombras prevalecentes e vultos, vozes que vem de não se sabe de onde, barulhos... O filme assume próximo ao seu fim um tom abstrato, surreal, uma coisa alucinante...
Sem falar que aqui é prestada uma homenagem incrível ao cinema como um todo, o garoto é um apaixonado pela sétima arte, sendo privado justamente da visão... Eu não consigo nem me imaginar nessa situação (na verdade...). Mas ele dá uma volta, encontra outros meios e isso é bacana demais.
Eu não esperava nada desse filme, não sou um apreciador fervoroso do cinema europeu, mas não o desrespeito de maneira alguma, é algo que pretendo ao menos pincelar quando tiver a maturidade necessária e esse tipo de obra só me faz sentir mais vontade de apressar esse momento...
O que mais me chocou, lá no final, quando sobem aqueles letreiros (e isso não é spoiler) é que “Vermelho” é baseado na história real de um dos maiores sonoplastas do cinema italiano, sujeito vivo ainda hoje: Mirco Mencacci.
O filme tem lá seus problemas, o roteiro tem uma fragilidade pouco vista, talvez nem seja um problema, mas a sensação que se tem é de que algo vai falhar a qualquer momento, o que não acontece, e o final é um tanto súbito e apressado, mas não tira nada, nada se perde por conta disso.

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