Não venha me dizer que você é o tal “Mister Coragem” e que por isso não tem tempo de ficar guardando aqueles medinhos bobos em alguma gaveta de sua memória. Cara! Não adianta negar, todos nós temos esse tipo de medo. Sei lá, ele pode vir representado na forma de uma barata voadora, um rato, uma vespa, um sapo cascudo e barrigudo ou então determinada cena de um filme que entrou na sua cabeça e volta e meia insiste em sair dos recônditos de sua memória para atormentá-lo.
Craddock McDermott!! Pronto!
Citei na lata! Essa peste é a causa do meu medo interior. O véinho do paletó
assombrado, como aprendi a chamá-lo, supera outros medos primitivos potentes,
tais como o Reverendo Kane do filme Poltergeist, aquele pastor idoso com uma
cara macabra que atazana a vida da família daquela menininha que, por sua vez,
acaba sendo “puxada” para o além - putz! Taí outro veinho do cão! – a “Regan-aranha”
de “O Exorcista”, na cena da escadaria; o vovô-fantasma do episódio “O
Cemitério” de “A Galeria do Terror” que sai da sepultura depois de morto e
começava se mexer nuns quadros pendurados na parede de uma mansão. Pera aí?
Vovô-fantasma? Caraca! Taí mais um véinho do além! Estão vendo só como eles me
perseguem...
Gente, o Craddock de “A Estrada
da Noite”, livrão de terror escrito por Joe Hill, filho do mestre Stephen King
é a soma de todos esses medos primitivos. Basta somarmos o Reverendo Kane, a
Regan-aranha e o vovô da sepultura que teremos- quer dizer, terei, já que esses
medos são meus - como resultado o tal Craddock McDermontt.
Craddock, literalmente, arrepia
na história. O fantasma só pensa em vingança e é capaz de tudo para atingir os
seus objetivos. Para que você entenda melhor quem é esse velhinho endemoniado
vou fazer uma breve sinopse da obra de Hill.
A história tem como protagonista
o cinquentão Jude Coyne: uma verdadeira lenda do rock que tem vários gostos
excêntricos, como por exemplo, colecionar objetos macabros. Coyne tem um livro
de receitas de canibais, uma confissão de uma bruxa de 300 anos atrás, um laço
usado num enforcamento, uma fita com cenas reais de assassinato. Dessa maneira,
quando fica sabendo de um estranho leilão na internet, ele não pensa duas vezes
antes de fazer uma oferta. Ah! O anuncio? Esse aqui: “Vou vender o fantasma
do meu padrasto pelo lance mais alto...”
Por $1.000 dólares, o roqueiro se
torna o feliz proprietário do paletó de um morto, supostamente assombrado pelo
espírito do antigo dono, ninguém menos do que Craddock. A partir daí, a vida do
roqueiro se transforma num verdadeiro inferno, pois a presença de Craddock –
apesar de ser um fantasma – passa a ser real e ameaçadora, invadindo a
intimidade de Coyne, levando o cara as raias da loucura.
No momento em que o cantor recebe
o paletó do velhinho maléfico numa caixa em formato de coração, dobradinho e
bonitinho, o leitor já percebe que a partir daí virá chumbo grosso.
A coisa é braba! O espírito de
Craddock parece estar em todos os lugares, à espreita, balançando na mão
cadavérica uma lâmina reluzente que é uma verdadeira sentença de morte. O
roqueiro logo descobre que o fantasma não entrou em sua vida por acaso e só
sairá dela depois de se vingar.
Enquanto você lê esse post, não
se engane pensando o seguinte: - “Ai... coitadinho do Jude, caiu numa arapuca
sem saber. Que dó...” Bem, só para esclarecer esse detalhe, já alerto que quem
caiu na arapuca foi você, já que Coyne não é nenhum santo. O cara usou uma “galáxia”
de mulheres e depois descartou todas elas; traiu amigos, incluindo os
integrantes de sua banda, é sarcástico ao máximo, tem mania de grandeza... acho
que já chega né? Mas acontece que o personagem, apesar de ser um crápula acaba
conquistando o leitor e conforme as páginas vão sendo viradas, você se vê
torcendo para que o velho roqueiro excêntrico se livre da sua maldição. O leitor
descobre que toda a excentricidade e o caráter não muito correto do artista é
uma carapaça que ele utiliza para se proteger de seus próprios fantasmas, como
por exemplo uma infância sofrida por causa do pai violento. Conforme Craddock
vai arrastando a vida de Coyne para um abismo sem fim, percebemos que ele
começa a mudar as suas atitudes e a mostrar o digamos... seu lado mais humano.
Ehehehe... aliás, é sempre assim né. Muitas vezes deixamos para mostrar o nosso
lado cordeirinho somente quando estamos por baixo e precisando de uma
ajudazinha.
Bem, comecei a escrever sobre a
personalidade de Coyne e acabei desviando o foco do assunto principal. Estava
fazendo uma breve sinopse da história para que o leitor conhecesse melhor a
relação Craddock e Coyne. Ok; parei no momento em que “falava” que o fantasma
não havia entrado na vida de Coyne por acaso. Vamos lá, retomando... O “veinho” do paletó assombrado é padrasto de
uma fã que cometeu suicídio depois de ser abandonada por Jude!
Mas antes de começar a tacar
pedras e cuspir no cara, gritando: - “Bem feito desgraçado! Tomara que esse
véinho maldito e também desgraçado como tu lhe coma o bucho!!!” Saiba que no
desenrolar das páginas, Joe Hill dá um verdadeiro golpe de mestre e mostra
porque é filho de Stephen King. Na verdade o suicídio da garota tem outro
motivo, bem mais grave. Uma revelação que surpreende o leitor, deixando-o com
as calças nas mãos e com aquela velha expressão de Ooooh!!! A causa do suicídio
da fã está diretamente ligado.... Acho que vou segurar a minha língua. Afinal
de contas, eu seria um calhorda se revelasse esse segredo. E com isso, parte do
impacto da obra de Hill perderia o sentido.
Craddock McDermontt se mostra um
espírito vingativo, impiedoso e maléfico ao extremo. O fantasma é pura maldade,
capaz de atos atrozes para se vingar. Numa corrida desesperada para salvar a
sua vida, Jude Coyne faz as malas e cai na estrada com a sua jovem namorada
gótica Marybeth. Durante a perseguição implacável do fantasma, o astro do rock
é obrigado a enfrentar seu passado em busca de uma saída que o tire dessa
enrascada.
Todas as aparições de Craddock
durante a história, de fato, provocam calafrios; mas daqueles que trazem como
brinde um mal-estar danado. Tem um trecho do livro em que Jude e sua namorada
estão na estrada, no mustang do cantor, fugindo do fantasma quando de repente
eles vêem surgir do nada uma caminhonete velha com um vulto de paletó no
volante. Arghhhhh!!!
Joe Hill e Stephen King. O Rei e o Principe |
Craddock tem o poder de
hipnotizar as pessoas e fazer com que elas se envolvam em situações perigosas e
até mesmo cometerem suicídio. Durante a leitura, você também descobrirá as
origens nada “santinhas” de Craddock que teve um passado negro.
O final da história é bem
interessante e acredito que irá agradar os leitores. Portanto, tai! Mãos à obra
e coragem! Estão prontos para encarar o véinho do paletó assombrado?
rapaz, que texto bacana. Tava suando frio aqui com medo de levar um spoiler na cara, mas até que tu segurou a onda. Assim que terminar o que tô lendo do King-Pai parto pro livro do King-Filho, com certeza deu uma vontade desgraçada de ler!
ResponderExcluirTo querendo urgente ler o outro do King-Filho. Sei que vc não tem por habito comentar os nossos posts, por isso ganhei o dia com esta postagem. Valeu!
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