Houve
um tempo em que as guerras eram travadas de outra maneira. Chegar a elas era
sempre um custo calculado, que nem seus principais artificies desejavam sabendo
o preço que teriam que pagar quando se desse o seu final. Talvez por saberem
estimar esse custo as guerra antigas possuíam uma diferença das guerras atuais.
Elas não eram guerra de extermínio. Seus objetivos não eram a destruição e a aniquilação
do inimigo, seu propósito era a humilhação da derrota.
Não
por acaso, o teatro da batalha, o lugar onde se davam os combates (com exceção
das batalhas de sitiamento e assédio) ficavam a distância das fortalezas e
castelos ou de qualquer lugar que poderíamos chamar de “espaço urbano”
Havia
um preambulo para o combate, uma demonstração de qualquer tipo de superioridade
(de armas, de número ou proposito), para fazer com que os oponentes desistissem
da batalha e assim se poupassem do seu alto custo
.
De
fato, só os loucos e desvairados com ambições além da medida, conduzem nações a
guerra. Isso pelo menos até a 2ª grande guerra, até surgir a chamada “economia
de guerra” e seus barões ansiosos por lucros. Guerras modernas são isso.
Oportunidade de lucro.
Do
episódio em questão de Da Vinci Demons, um
dos melhores até agora, pode-se extrair essa leitura. O poder de Roma perto de
assediar Florença com sua força militar, algo inimaginável para Roma até saber
do que se constituía de fato, a invenção de Leonardo. Um engenho de dez
mosquetes capaz de disparar 33 vezes por minutos. Com uma cadência de tiro
dessas, poucas tropas se aventurariam num enfrentamento.
O Conde Riario |
O Papa Sixto |
Naquele
tempo como hoje a informação era algo crucial e uma rede de espiões, ou um
soldado descuidado poderia fornecer a notícia que poderia fazer a diferença na
hora da batalha, ou a vantagem para que a batalha não acontecesse. E foi assim,
que dispondo da informação crucial, em conjunto com um “casus Belli”, um ato de
guerra, Roma tentaria forçar Lorenzo a uma termo de rendição, mostrando que uma
superioridade numérica de ataque poderia fazer frente no exato tempo de
carregamento das armas de Leonardo.
A
genialidade de Leonardo é posta à prova mais uma vez, ele tem 24 horas para
arranjar uma vantagem que mais uma vez, só poderia vir de suas armas. Sua obsessão
pela busca do livro da folha não o ajuda a se concentrar na nova empreitada,
quando ele percebe que seu desejo se encontra muito além do mundo que a
Europa conhecia, a oeste, além mar, como se dizia.
Como vencer uma guerra sem que ela aconteça
“Quando
seu inimigo pensa que você estar morto, um simples engano pode ser o suficiente”.
Da
explosão de uma romã, a fruta, Leonardo que enxerga a realidade por padrões
(sempre achei ser essa uma prerrogativa da genialidade), concretiza sua nova
arma que junto com um engano, um embuste, desmotiva o Conde Riario o comandante
das tropas romanas, a um ataque.
A
nova arma? Lançada por artilharia. Uma questão de matemática. Como embalar um
grupo de esferas de forma mais compacta? E como a natureza usa sempre meios
eficientes para atingir seus fins, Leonardo buscou inspiração nela, a romã. Ele
a chamou de “grupo bomba” ou a nossa moderna granada. Um involucro encerra um
conjunto de explosivos menores num solido de Arquimedes, que separados por
espaçadores de ferro, explodem ao atingir um solido, produzindo uma nuvem de
estilhaço.
A versão de mão da granada de Da Vinci. As que seriam lançadas de artilharia seriam bem maiores, antecipando o que viria a ser a munição dos canhões modernos |
O
embuste? Uma peça de artilharia gigantesca, uma besta, feita de papel e pintada
de maneira convincente, disposta a uma distância segura de um melhor exame.
E
a inteligência venceu a ignorância, entendida aqui como desconhecimento.
Roma
não pode ser grande como deseja o Papa Sixto, à sombra de Florença. O sistema Bancário
de Florença, único no mundo do Renascimento e controlado por Lorenzo é credor
das dívidas do Vaticano, além de possuir os melhores artistas e inventores
financiados por ele.
Leonardo
é a peça chave. O Papa e seu sobrinho, o Conde Riario sabem que terão que fazer
cair Leonardo antes de fazer cair Florença. Como último movimento para isso, a
mesma cerimônia promovida por Lorenzo para tornar Leonardo Grão Mestre da Ordem
de São João, padroeiro de “Firenze”, ás ordens do Papa, Leonardo é acusado de
Sodomia. Algo suficiente para tirar Leonardo fora de cena e colocá-lo preso em
Roma, até seu enforcamento ou algo pior. Mas sabemos que não é bem isso que
deseja Roma.
Logo
agora que Leonardo estava em posição de pleitear um financiamento de uma
expedição que o levaria ao futuro mundo novo em busca do livro da folha.
Será
que veremos Leonardo nas Américas?
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