Um novo éon se iniciou na música brasileira com a chegada de Raul. Após anos na estrada como Raulzito, entrou no mercado fonográfico com o icônico "Krig Ha, Bandolo!" (1973), assinando agora como Raul Seixas.
E Raul Seixas seria até o fim de sua vida física.
Mas hoje falaremos de um outro trabalho lendário: "Novo Aeon", de 1975.
Um disco introspectivo e reflexivo, mas nem por isso silencioso. Barulhento e incomodante no sentido de "mexa-se do seu centro de conforto, seu babaca egoísta", "Novo Aeon" trata de temas polêmicos como amor, fidelidade, egoísmo, Deus, obsessão, perseverança... Raul e seu parceiro Paulo Coelho nos dão aqui um trabalho honesto e verdadeiro, em momento algum se perdendo em ambiguidades.
Raul canta o que Raul vive e acredita, e não aceita o que já está estabelecido ou que é dado como certo. Raul traça um caminho novo, mexe com conceitos e preconceitos, inova e renova-se, mostrando suas variadas facetas através de seus passeios em variados estilos musicais.
"Novo Aeon" é um trabalho maduro, de um artista que já havia se consagrado e não precisava se apresentar. Raul já tinha sua base de fãs, e cantava para eles. Cantava com eles.
Somos um com Raul em "Novo Aeon" - salvas as devidas proporções.
Raul fala do dia a dia, das aulas da faculdade, da hora do banho, do jantar e do café da manhã. Fala de dúvidas e caminhos a escolher, fala de medos e receios, e fala descaradamente de amor. Tão verdadeiro, profundo e intenso que chega a chocar com tanta sinceridade.
A voz de Raul, ora grave e rascante, ora aguda em falsetto, nos espeta, nos comove, nos irrita. Raul nos atinge em lugares que julgávamos protegidos, nos machuca onde jurávamos estar seguros.
Raul Seixas, o multifacetado mutante, sofre, mas nos liberta. Raul não aceita, escolhe e faz. Canta. Vive.
Quisera eu ter mais palavras para descrever o poder deste que foi um dos mais poderosos roqueiros de todos os tempos.
Um mito eterno em sua complexidade. Raul Seixas, o roqueiro; o místico; o músico; o poeta...
Quantas facetas, quantos adjetivos para descrever aquele que, além de ser uma pessoa, foi também um acontecimento.
Raul, aquele homem indefinível, mutante, imperfeito, sonhador.
Toca, Raul.
Caminhos II
Raul Seixas
Assim como
Todas as portas são diferentes
Aparentemente
Todos os caminhos são diferentes
Mas vão dar todos no mesmo lugar
Sim
O caminho do fogo é a água
Assim como
O caminho do barco é o porto
O caminho do sangue é o chicote
Assim como
O caminho de reto é o torto
O caminho do risco é o sucesso
Assim como
O caminho do acaso é a sorte
O caminho da dor é o amigo
O caminho da vida é a morte
Até!
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