quarta-feira, março 18, 2015

A inspiração para Disney, Robin Hood não foi realmente Robin Hood.



Explico:

Andrew E. Larsen é um historiador especializado em Inglaterra medieval e administra um blog sobre cultura pop e história chamado "Um Historiador vai ao Cinema". Em "Robin Hood da Disney: Um pouco mais medieval do que se poderia pensar", Larsen explora a verdadeira inspiração da animação da Disney, o que não era Robin Hood, mas um conto medieval diferente.

Algumas semanas atrás, eu decidi que queria abordar aqui um filme de animação que sempre foi o meu predileto entre todas as produções da Disney e que eu amava quando criança (ok, ainda amo). Eu tenho memórias vívidas de vê-lo no cinema, nas matinês do Cine São Luiz. Eu decidi assisti-lo agora no conforto da minha casa mais uma vez, por que eu não o tinha visto desde então e eu não tinha grandes esperanças de que renderia muito para escrever aqui, mas como se vê, temos algo digno de nota aqui.


Robin Hood é um personagem medieval, datado pelo menos do século 14 ou, possivelmente mais cedo. Há muito a dizer sobre toda a questão de saber se ele é uma figura histórica ou não, mas não é sobre isso que vou falar aqui, já que eu tenho certeza que qualquer um que assistir esse filme sabe que nem Robin Hood e Lady Marian eram raposas. É muito claro que o filme não é historicamente preciso.

O que é provavelmente menos claro é que a inspiração para essa versão de Robin Hood não é, na verdade, Robin Hood em tudo. Desde a década de 1930, Walt Disney estava interessado em contar uma versão da Alsácia, do século 12, sobre Reinard (ou Renart) a raposa. No Roman de Renart, Reinard, a raposa é convocada para o tribunal de um leão cruel, Rei Leo, para responder às acusações feitas contra ele por Isengrim, o lobo. Leo manda vários agentes, incluindo um urso, um burro e um gato para conduzi-lo ao tribunal, mas Reinard derrota todos três. (Aliás, o gato é chamado de Tibert, ou Tybalt, por esse motivo, em Romeu e Julieta de Shakespeare, Mercurio Tybalt é chamado de caçador de ratos e rei dos gatos). Ele ainda derrota Isengrim, e torna-se o novo conselheiro do Rei Leo. Este foi apenas o inicio de um corpo bastante complexo de histórias sobre Reinard, muitas das quais eram sátiras dirigidas a sociedade aristocrática.


O problema com todo esse material é que ele é extremamente violento (o urso é atacado por abelhas, Tybalt perde um olho, e Reynard decapita um coelho e substitui sua cabeça por um tesouro secreto). Reynard é um trapaceiro, e profundamente anti-autoritário em tudo. Walt Disney concluiu que o material não era algo apropriado para crianças. Mas Ken Anderson, um dos principais membros da equipe de criação da Disney, sustentou a ideia de se fazer mesmo assim algo em torno dele. Em 1968, quando o estúdio estava à procura de algo que se seguisse aos Os aristogatos, Anderson sugeriu fazer uma história de Robin Hood. Mas Robin Hood é uma história problemática para crianças, uma vez que como Reynard, ele também se mostra como um anti-autoritário. No entanto através da fusão das duas figuras e fazendo disso um personagem animado de raposa lutando contra um leão covarde, que não é o governante legitimo, Anderson foi capaz de matar dois pássaros com uma unica pedra, por domar a violência e reduzir o anti-autoritarismo de ambas as histórias. Além disso, tornando a história animada em vez de um live-action ajudou a criar a distância entre os personagens e o publico jovem, reduzindo a probabilidade de que eles se identificassem com o anti-autoritarismo da história.

A escolha de modelar Robin Hood frouxamente a partir da história de Reynard era uma inspiração. Enquanto Reynard não é uma figura familiar para o publico de língua inglesa, raposas ainda são consideradas astutas e inteligentes, qualidades que se encaixam bem para Robin Hood. Fazer o Principe John, depois Rei Leão, mas fazendo-o covarde é uma contradição brilhante (assim como ecoa o Leão Covarde de O Magico de Oz). Isegrim, o lobo se torna o vilão Sheriff de Nottingham e Allan-a-Dale um galo bom caráter, vira Chaunticleer, o Galo, que é talvez o mais famosos (não para os de fala inglesa também) de todos os personagens do circulo de Reynard, porque um certo contista de nome Chaucer escreveu uma versaão de seu conflito com Reynard chamado de The Second Nun presente em Os Contos de Canterbury. A adição de dois ratos pobres morando numa igreja como personagens coadjuvantes também é uma brincadeira inteligente.

Infelizmente, Anderson ficara extremamente decepcionado com o filme, porque o estúdio fez mudanças substanciais para adequá-lo a um estilo facilmente reconhecível como sendo da Disney. Reza a lenda que Anderson chorou quando viu o quanto foi alterado de sua ideia. Ha uma bela pagina que mostra os desenhos originais aqui e compara-os com o desenho dos personagens como finalmente apareceram. Frei Tuck e uma perda sensível em particular.


A primeira parte do filme detalha como Robin usa de seus truques para se apoderar do tesouro do Príncipe John, que é claramente inspirado nas aventuras de Reynard contra Leo no Roman de Reynard. A trama central, no entanto, que envolve o torneio da Flecha Dourda, é extraido de uma história clássica de Robin Hood, mas que provavelmente não é medieval. Sua fonte é Child Ballad 152. Em meados do seculo 19, um estudioso americano, chamado Francis Child compilou de um corpo maciço da tradição inglesa, escocesa  de do folclore norte-americano, uma coleção de contos que foi publicado pela primeira vez em 1857, e que parece conter a versão mais antiga do que a história de Robin. Child não era portanto, o autor das baladas, apenas o homem que os recolheu, assim Robin Hood e a Flecha Dourada é certamente anterior a segunda metade do seculo 19, e você sabe, quanto mais velho, mais desconhecido.

Nem tudo no filme funciona de forma brilhante, no entanto. Lady Marion não tem praticamente nenhum papel no filme em tudo, além de ser cortejada por Robin. Uma boa parte da animação foi re-utilizada de o Book The Jungle (Mogli), e os ratos da igreja são do Os aristogatos,

Depois de revê-lo a boa e velha sensação de saudades da minha infância ainda era uma constante. Recomendo a você, leitor, que faça uma vigem dessa sempre que puder. Pode ser gratificante ver as boas e velhas coisas do nosso passado.


Nenhum comentário:

Postar um comentário

Obrigado por comentar no 01Pd! Seja bem vindo e volte sempre!