quarta-feira, fevereiro 04, 2015

Alice Caymmi: A Senhora dos Raios (2014), ou: Começo o 2015 atrasado e apaixonado por Alice.



Voltando de um hiato abusado e absurdo, com vocês: Michel Euclides, o Ladrão de Almas, o cara-de-pau!


Obrigado, obrigado. Sigamos.

O que me traz de volta - após um sono de alguns meses e do consumo moderado e sem culpa de música de qualidade, bons filmes e alguns livros bacanas - é a voz forte e aveludada de Alice Caymmi, - neta de Dorival, sobrinha de Nana - e seu álbum "Rainha dos Raios", lançado em 2014 - e desde já declarado o melhor disco nacional deste ano que passou tão depressa.




Alice Caymmi - Rainha dos Raios by Michel Euclides Sousa on Grooveshark Um disco tão multifacetado, corajoso e inesperado, que usa e abusa de artifícios eletrônicos, de glitches, de um violão simples, de metais, de arranjos ousados e pouco usuais - porém sempre privilegiando a voz da moça loira. Um disco feminino, forte, úmido... faz você dar um sorriso de lado e, depois, arregalar os olhos de espanto. "Como pode ser tão bom?", pensa você, lembrando de repente que ela é uma Caymmi, e que isso apenas contribui para que seu talento seja tão esplêndido e novo.

A primeira faixa, "Como Vês", é um hit que poderia facilmente tocar na abertura do próximo 007. Tem a pegada perfeita de um Bond Theme, e a voz dela foi feita pra isso. Pensando bem... alguém tem o email do Sam Mendes, para passar essa faixa para que ele ouça? Tenho certeza que ele não vai resistir, e veremos Daniel Craig atirando na câmera e as mulheres estilizadas das aberturas de Bond dançando no início de "Spectre".

A segunda faixa, "Homem", é de Caetano. Poesia pura, que resume de maneira simples a única inveja do homem em relação à mulher. O arranjo é espetacularmente inesperado e pouco óbvio!

A terceira é "Meu Recado", uma parceria de Alice com um dos maiores compositores do Brasil, Michael Sullivan. Uma balada bem ao estilo anos 1980, um delicioso desabafo de fim de tarde. Uma das melhores do disco.

A quarta é uma surpresa. Mas uma daquelas destruidoras, mindfuck total! Alice prova que não há músicas ruins ao regravar "Princesa", do insuportável MC Marcinho. 01Pdênautas, é sério: a música ficou sensacional! Você precisa ouvi-la, e precisa fazer isso agora!

A quinta faixa é uma regravação em forma de bolero ao som de guitarras e metais da clássica "Meu mundo caiu", de Maysa. Impossível não lembrar aqui também da sonoridade de "Todo Carnaval Tem Seu Fim", do Los Hermanos. E isso é muito bom.

A sexta faixa, "Antes de tudo", tem a sonoridade triste e doce de um fado - e percebe-se que a voz de Alice também casa-se perfeitamente a este estilo. Um arranjo grandioso e rico em metais e cordas dão suporte a essa beleza sonora.

Na sétima faixa, Alice regrava "Sou Rebelde" - calma, não dos insuportáveis jovencitos mexicanos - de Lilian (Leno e Lilian), sucesso nos anos 1980. O arranjo é especialmente eletrônico, mas a essência oitentista é inteiramente preservada na interpretação da jovem Caymmi.

"Iansã", de Caetano e Gil, é cantada ao som de guitarras envenenadas, baixo pesado, bateria marcante e glitches. Alice canta com a paixão das jovens Gal e Bethânia, cheia de som e fúria. Uma das melhores do disco. E da letra veio o nome do disco.

A faixa que encerra esta belezura é "Jasper", de Caetano (do álbum "O Estrangeiro", de 1989). Novamente um arranjo eletrônico forte e obscuro dá suporte à poderosa interpretação de Alice, que finaliza seu disco com grandeza.

Após a audição deste maravilhoso trabalho, fica declarado então que Alice precisa ser acompanhada de perto, desejada, saboreada e injetada nas veias diretamente na alma. Sua voz poderosa e marcante pode soar jovem ou velha, dependendo de seu desejo, e sua música tem o poder de hipnotizar e surpreender o coração mais cínico. O meu, no caso.

Declaro também meu amor por ela, grato por me propiciar momentos de grande prazer auditivo e espiritual.

Seja bem vindo oficialmente, 2015. Começo os trabalhos sob a benção da Senhora dos Raios.

Até breve. Saudades de vocês.

Um comentário:

  1. Boas vindas aquele que não foi. Musica, voz e moça poderosa. Culpa do DNA com certeza. Ouvi e recomendo.

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