“Veneer” é o disco de estreia do cantor/compositor sueco
José González. Lançado em 2003, temos González nos vocais, violão e percussão –
e isso é quase tudo o que se sente/ouve em suas músicas. Mas não é tudo o que se vive.
Pode-se perceber a influência Silvio Rodriguez em seus
violões selvagens e imprevisíveis, mas González imprime em sua música uma de
suas características mais marcantes: a necessidade de estar em vários lugares
ao mesmo tempo, nunca preso, mas diluído no espaço-tempo infinito.
A música de González tem o poder de te jogar nas imensidões,
nos amplos espaços abertos que se colocam entre as cidades sob o céu azul. Em
meio a questionamentos e incertezas, cada passo que se dá é rumo ao que há, no
futuro, de esperanças e promessas – mesmo quando se sabe que cada uma dessas
promessas há de ruir ante a passagem do tempo.
Ele se plenifica em seu exercício de exprimir-se. Suas vozes
unem-se aos violões de cada faixa com uma certeza tão orgânica que é impossível
separá-las. Sua música (assim como a de Rodriguez) é de uma qualidade onírica.
Nela, as paisagens noturnas cruzam-se com horizontes diurnos. Na vertigem das
luzes, sol e lua cruzam-se com a violência de uma ressaca marítima enquanto
González povoa nossa alma com seus seres de pensamento e som.
Do álbum todo destaco todas as faixas. O sentimento de
González invade cada uma delas e transforma-as em orações atravessando o mítico
silêncio das eras incontáveis. Talvez o som do Monólito Negro, ou a canção de
uma sereia imortal, ou ainda o choro do bebê condenado à morte antes de nascer.
As palavras emanam em parceria com a melodia e viajam em busca do nosso
silêncio interior, reverberando violentamente nas paredes falsas que nos
revestem. Nossas fragilidades são, então, expostas com violência e sutileza, e
o sangue ralo brota, quente, úmido, ferroso e anêmico, por entre as brechas e
rachaduras que surgem – consequências do desgaste pela rotina.
Selo "Amplidão" de mundo véi sem porteira para o disco que consegue te assanhar pra sumir no horizonte. |
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